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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°38 - novembro de 2003

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

  O Risco que se correu e que ainda se corre

por Pedro Ribeiro* 

Muitos naturistas no Brasil inteiro ainda não perceberam a importância que tem a reabertura, pela Justiça, da praia do Abricó, no Rio de Janeiro, para a prática do Naturismo. O pior é que muitos não se deram conta também do risco que a nossa filosofia de vida corria, caso, ao contrário, fôssemos derrotados.

A cidade do Rio de Janeiro, embora já tenha perdido muito de seu glamour, ainda concentra as atenções nacionais, e tudo que acontece aqui, para o positivo ou negativo, repercute no Brasil inteiro. Não estou querendo menosprezar as outras regiões do Brasil, mas é esta a verdade. E foi por isso que ela ficou tanto tempo proibida, pois a fama da cidade causou este estrago. De que outra forma o advogado contrário a nós ganharia tanto espaço na mídia ? 

praia do Abricó, vista de cima da estrada

A praia do Abricó é um pedacinho de areia, com cerca de 200m de comprimento, no meio do vastíssimo litoral do município do Rio. Lugar que, com certeza, menos que 0,1% da população da cidade já tinha ouvido falar antes do episódio da proibição, e um centésimo deste montante já estivera por lá. No entanto, a confusão que aconteceu, foi como se estivesse a praia de Copacabana transformada de hora para outra em área de nudismo. Bundas foram taxadas de ridículas por um despacho de um Juiz, e até o exército foi convocado para impedir a permanência de naturistas naquelas areias.

Não é exagero, nem se trata de um roteiro de um filme surrealista, isto realmente aconteceu. Tamanha importância tomou o fato que até revistas internacionais como a TIME publicou nota relatando o acontecido. Aquele verão de 1994/95 ficou marcado por inúmeras pesquisas, debates, entrevistas pró ou contra o nudismo em Abricó. O desenvolvimento do processo acabou tornando-se crucial para o futuro do naturismo brasileiro, pois uma decisão desfavorável, provavelmente, causaria um efeito cascata de proibições por todo Brasil.

Celso Rossi, deputada Vanessa Felipe, deputado Fernando Gabeira e Pedro Ribeiro no Congresso Nacional, em Brasília, relatando aos deputados o caso da praia do Abricó, em 1998.

Quando ganhamos em 1ª Instância em 2001, após 7 anos de luta, a praia reapareceu com força total, chegando ao pique de 200 pessoas nuas, em um mesmo tempo, em uma área onde o nudismo não era obrigatório, e em meses de outono ! Mas outra liminar varre para debaixo do tapete, de novo, nosso sonho de ter uma praia naturista no município do Rio. E, o ameaçador advogado, declarava na Imprensa que a nova proibição já determinava que nas outras áreas do Estado (Olho de Boi, em Búzios, Brava, em Cabo Frio e Figueira, em Trindade) o banho de mar sem roupas tornava-se crime.

Muitos naturistas cariocas ficaram desesperançados, mas mantiveram a luta não deixando o movimento naturista se esfacelar, heroicamente frequentando áreas de forma "clandestina". Neste ano de 2003, novamente ganhamos o direito ao Abricó e o relatório do desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo retrata o pensamento dos demais desembargadores que julgaram o caso:

"Não afronta o pudor e tampouco a moral pública a prática do chamado naturalismo desde que restrito à área especialmente reservada para este fim.

O direito deve ser sensível às modificações implementadas pela realidade social, permitindo uma coexistência pacífica entre grupos com idéias antagônicas.

O princípio da dignidade social confere a cada homem o direito de ver respeitadas suas convicções pessoais e portar-se conforme elas, desde que não contrárias à lei e aos bons costumes.

Nesta trilha, busca-se conferir a minoria o direito de igualdade naquilo que entendem razoável, lídimo e legal, com o que se estará permitindo a coexist6encia pacífica entre a maioria e minoria.

Na apreciação da moralidade pública o magistrado deve afastar-se da sua concepção pessoal para perquirir acerca dos valores dominantes na sociedade, muito embora exista um conceito de imoralidade absoluta e outro do qual emana certa relatividade em atenção aos tais valores e concepções vigentes."

Foto: RJTV

E, ainda hoje, o caso do Abricó desperta curiosidade nacional e internacional, tendo, até mesmo, o jornal oficial do governo brasileiro, "A Voz do Brasil", anunciado a vitória dos naturistas no Tribunal de Justiça do Rio. O jornal norte-americano Chicago Tribune e a agência de notícias Reuters publicam, nos próximos dias, matérias sobre este acontecimento.

*Editor do OLHO NU
natpedro@ig.com.br


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