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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°38 - novembro de 2003

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

COM OU SEM PÊLOS: OS NATURISTAS E A DEPILAÇÃO

por João Carlos de Souza* 

Quando criança eu não notava muito a nudez das pessoas com quem convivia. Hoje, às vésperas de completar 40 anos, lembro como foi minha infância convivendo com meu pai, minha mãe, minha tia, e, ainda, as primas. As pessoas andavam nuas dentro de casa. E hoje lembro muito bem de uma coisa: a quantidade de pêlos pubianos era enorme. Parecia normal conservar montes e mais montes de vênus. E hoje, o que vejo (e não dá para não ver!)?: A ampla maioria das mulheres com suas genitálias depiladas e, muitos homens, também. O que aconteceu? A “cabeleira” passou a ser nociva? Imunda? Perigosa? Ou a depilação é sinal de melhor cuidado com as partes íntimas? As opiniões são diversas. Há quem considere correta e necessária a prática da depilação, há quem a veja como um prejuízo à saúde, há quem a considere uma demonstração de higiene, mas há quem a tenha como uma clara forma de exibicionismo. E os naturistas e as naturistas entraram no “embalo”. 

No Brasil, há pouquíssimo tempo atrás, um grupo que freqüenta a bela praia de Tambaba, já se denominando um grupo de depilados, pensava em colocar na NET um site para quem não curte a manutenção dos antes chamados pentelhos. Não sei se o grupo dos depilados de Tambaba ainda pretende colocar o site no ar ou se já colocou. Essa situação me inquietou. Não no sentido de ser contra, não. Mas surgiram várias perguntas. Vejamos: Os médicos já não garantiram que tirar tudo faz mal? Já não explicaram que é necessário que tenham pêlos em certas partes do corpo? Se os temos, será à toa? Por que deixar tudo “lisinho”? E mais: É preciso formar um grupo de depilados?... pessoas que curtem a depilação? Será que não causa uma certa diferença das outras pessoas? Das não-depiladas? Será que, mesmo não levando em consideração os conselhos médicos, a questão seria apenas de se depilar mas não, digamos, propagandear? Raspou e pronto. Não é mesmo? 

Na Holanda já há um grupo com algo em torno de quinhentas pessoas que se depilam. E não só lá em baixo. A depilação é quase total. Só não é tudo porque a lâmina não leva o que tem na cabeça e nas sobrancelhas. O resto, não tem vapt. É só vupt

Estou provocando sobre um assunto que não é novo. Fazendo minhas pesquisas, fiquei sabendo que as mulheres gregas em 2000 a.C. já arrancavam os pêlos com as mãos ou queimavam-nos com cinzas quentes sobre a pele. As sacerdotisas dos templos de Creta depilavam-se assim nos seus rituais, após ingerirem uma bebida que entorpecia o corpo para suportarem a dor. Com umas e outras na cabeça, a depilação corria solta. 

Na Grécia antiga, há registro do primeiro instrumento usado para depilação: O estrigil. Na verdade era tão somente uma pequena vara de 16 a 30 cm de comprimento com a ponta curva, semelhante a um cabo de guarda-chuva. As mulheres entravam num banho quente, num ambiente fechado. Passavam pelo corpo uma pasta à base de vegetais, cinzas e uma argila especial. Depois retiravam a pasta raspando a pele com o estrigil. Este processo removia o suor da pele, a gordura e os pêlos supérfluos. Nessa época já havia pinças para a retirada dos pêlos mais enjoados

Estudos dão conta de que as mulheres muçulmanas depilavam-se todas porque, para elas, os pêlos conferiam ao corpo um aspecto repugnante, sujo e maléfico (tem quem pense assim hoje?). As chinesas, as romanas e as hindus também optavam por eliminar os pêlos indesejáveis. O processo da raspagem servia dois propósitos: o de eliminar os pêlos e os parasitas que ficavam agarrados na pele(já seriam os chamados chatos?Aqueles insetos muito pequenos (3 mm) de uma cor que vai do cinza ao marrom que vivem nos pêlos pubianos e provocam coceira? ). Também usavam um xarope espesso, feito com mel e sumo de limão com água. Elas espalhavam-no pelo corpo, deixavam secar para depois o puxarem extraindo os pêlos. Já as mulheres egípcias foram as primeiras a utilizarem o extrato de sândalo e cera de abelhas. Este processo deu origem à depilação com cera, tão largamente utilizada nos dias de hoje. Em 1742, na cidade de Paris, um homem chamado Peronet, inspirado no método egípcio, criou a cera depiladora como a conhecemos hoje. Vejamos como acontecia a prática ou não da depilação ao longo da história(enfatizando a questão feminina):

- 1900 a 1930 - A depilação era feita apenas nas pernas. O púbis não era delineado, nem aparado. Os pêlos cresciam em abundância e nem se pensava em depilar as axilas e o ânus. Aindaassim, nem todas as mulheres se depilavam.

- 1940 a 1970 - O processo continua, mas agora se depilam as axilas. Já há uma adesão maior por parte das mulheres, com exceção das na época chamadas naturalistas que deixavam os pêlos crescerem à vontade.

- 1980 a 2000 - A adesão é quase total. A depilação é feita nas pernas, axilas e, por vezes, no ânus. O púbis é esteticamente aparado, com desenho próprio, quase como uma marca registrada pessoal.

A pele lisa, na atualidade, é notada em homens e mulheres em muitos ambientes, inclusive, nos espaços onde nós naturistas freqüentamos. Entendo que cada um faz o que quer com seu corpo. A liberdade deve ser a tônica em nossas vidas. Mas, com uma certa preocupação, observo esse quadro. Os médicos têm chamado atenção para alguns aspectos: Os pêlos têm a função de proteger, tanto de traumatismos, quanto da temperatura, além de exercer função táctil e função estética. Os pêlos têm função protetora e sensitiva e os pêlos sexuais fazem parte das características sexuais secundárias. E não podemos nos enganar. As pessoas são diferentes, os gostos não são os mesmos. Há uma diversidade de visões. Neste sentido, acredito, são vários os motivos que levam as pessoas a se depilarem de leve ou totalmente. Há quem pense somente na higiene, mas há quem esteja de olho na vaidade, e aí descamba para o exibicionismo, há quem aprove porque seu lado voyeur fala mais alto e há quem, simplesmente, ache bonitinho. A depilação poderia ser um assunto qualquer, mas não é. E eu nem puxei outro quiprocó: a questão econômica e/ou ideológica que está ou pode estar por trás da prática depilatória. Já pensaram se a prática da depilação diminuísse em 80% no planeta? Clínicas fechadas, desemprego, fábricas de lâminas e de outras cocitas ligadas à depilação todas paradas... mas isso é outra história... não estória.

*Pedagogo e Naturista

jcnat@terra.com.br

Em sua edição número 13, outubro de 2001, OLHO NU publicou uma matéria sobre os "smoothies" ou os "lisinhos", sobre um grupo de naturistas holandeses que só aceitam naturistas depilados, na página 8. Leia a matéria completa, que somente está, por enquanto, disponível em WORD, clicando aqui (E tenha paciência para fazer o download). Entre no site dos naturistas holandeses clicando em http://www.wnn.nu


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