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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°38 - novembro de 2003

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

  ABRICÓ: os primeiros dias da luta

por Pedro Ribeiro*

foto: Miriam Alles

Os naturistas de Abricó preparam as placas para serem colocadas na entrada da praia. Até dia 2 de novembro, a prefeitura ainda não havia providenciado a colocação da placa oficial

Neste primeiro dia de novembro, completou exatamente um mês que a Justiça do Rio de Janeiro liberou a praia do Abricó para o uso de naturistas. Nestes primeiros trinta e um dias muitas impressões foram tiradas, muitos sonhos foram transformados em realidade, muita alegria e contentamento foram alcançados, mas também os primeiros problemas foram constatados.

A praia do Abricó foi transformada em praia oficial para a prática do nudismo em 30 de novembro de 1994, por uma Resolução da Secretaria Municipal de meio Ambiente do Rio de Janeiro, quando era o responsável pela pasta o sr. Alfredo Sirkis. Embora todos nós consideremos um presente tal decisão, ela não foi jogada em nosso colo sem mais nem menos. Foi fruto de uma luta política, travada desde o final de 1991, liderada por mim, para convencimento das autoridades municipais de que uma praia de nudismo no Rio de janeiro seria um ótimo cartão de visitas para turistas do mundo inteiro.

foto: Miram Alles

As placas são colocadas na entrada da praia, alertando que aquela área destina-se à frequência naturista. Após a placa é possível ficar sem roupas, antes não.

Feito o convencimento e os estudos sobre a legalidade da decisão, Alfredo Sirkis assinou a Resolução, ressalvando o direito dos não adeptos frequentarem a praia. Isto foi feito na intenção de assegurar juridicamente a legitimidade da praia. Não adiantou, pois logo uma liminar frustrou os sonhos dos naturistas. 

Em 2001, ganhamos em 1ª Instância e voltamos ao Abricó. Dois meses e pouco depois, nova liminar jogava areia em nossos planos até que no dia 30 de setembro deste ano, ganhamos em 2ª Instância. Então voltou a valer a Resolução de 1994.

Passada a euforia dos primeiros dias, os membros da associação naturista de Abricó perceberam que terão muito trabalho pela frente. Estes 9 anos de proibição foram prejudiciais à praia e ao nosso movimento. 

Sou frequentador desta área desde 1985 e vi as transformações que ela foi sofrendo com o passar dos anos. De lugar semi-deserto e quase desconhecido e intocado de 10 anos atrás, passou a seu superpovoado nos finais de semana, com engarrafamentos gigantescos na estrada que lhe dá acesso.

foto: Antonio Cândido

Primeiro final de semana com a praia liberada para o naturismo este ano.

O perfil dos visitantes também mudou. Outrora a grande maioria era de pessoal "descolado", que gostava de andar a pé, que levava sua mochilinha e ficava na praia à vontade, na base da paz e do amor. Hoje quase a totalidade são pessoas oriundas dos subúrbios, que vêm com seus carros, muitos com suas churrasqueiras e sujeira, Funk alto nos aparelhos dos carros e batucada na areia. A degradação da área é visível com todo o lixo que é deixado por quem não tem qualquer amor ao meio-ambiente.

Como a decisão Judicial e a Resolução determinam que a praia não é exclusiva para o naturismo, dá para imaginar a trabalheira que dá e dará aos membros da Associação manter a praia em níveis apropriados à prática do nudismo. A quantidade de curiosos é imensa, o que acaba fazendo que grande maioria das mulheres se sintam constrangidas em tirar as roupas. As mulheres são, sem dúvidas, mais sensíveis a este tipo de situação. No entanto não são apenas os homens, os curiosos. Muitas mulheres também visitam a àrea reservada ao nudismo com intenção de olhar os corpos masculinos, e não têm medo de declarar isto à imprensa, como presenciei a entrevista de uma delas, quando declarou que foi ali para ver o tamanho dos pênis dos nudistas, para poder comparar com o que ela tinha em casa (o do marido). Pejorativamente afirmou que ficou muito decepcionada com o que viu! Isto foi dito por uma senhora de 50 anos, aproximadamente, para a reportagem da Rede Globo e foi ao ar, editado, no Bom Dia Brasil.

foto: Ana Carolina Fernandes/Folha de São Paulo

O naturismo de Abricó atrai muito o interesse dos meios de comunicação.

De qualquer forma, de maneira geral, a curiosidade tem ficado apenas desta forma: observação à distância e não muito demorada. Raríssimos casos de assédio explícito ou de comportamento sexual inadequado.

Para minorar estas adversidades a associação distribui panfletos informativos sobre a praia e sobre as regras de comportamento, para todos os visitantes que se instalam na areia. Muitos são abordados com conversas tranquilas e explicativas na intenção educativa. O trabalho terá que ser desta forma e não proibitivo. Foi pedida a presença da Guarda Municipal para que todos se se sintam mais seguros. 

Porém, excetuando-se o fato desta "invasão" de curiosos (o que é muito natural, dada a pouca experiência que o Rio de Janeiro tem nesse campo) e, por conseqüência, a ínfima quantidade de mulheres nuas, nós temos tido mais êxitos do que fracassos.

Se você ignorar estes dois fatos anteriores, terá encontrado um verdadeiro paraíso, tanto no lado paisagístico quanto no lado de bem-estar. A natureza foi prodigiosa nesta pequena área. Há uma infra-estrutura razoável que fornece alimentação e bebidas. O pessoal da associação é muito simpático e forma uma espécie de família. E, como sempre disse, o curioso de hoje é o adepto de amanhã (confirmadas por alguns mais notáveis naturistas atuais, que começaram como meros curiosos e até com segundas intenções), algumas histórias desta praia já evidenciam esta tese.

Em um final de semana lotado de não adeptos, um fato chamou especialmente a atenção: uma família de curiosos, pai, mãe (por volta de seus 35 anos), filho e filha ( por volta dos dez, doze anos de idade aparentes) chegaram à praia e agiram como tantos outros, foram até o final e voltaram olhando pouquíssimo para o mar e muito para os nudistas. Sentaram-se próximos de onde estava instalada a associação e permaneceram por cerca de meia hora, vestidos e olhando muito. Dentro instantes o menino aproximou-se de um dos associados e perguntou-lhe se criança também poderia ficar nua. Com a resposta afirmativa, o garoto voltou à família e tirou sua sunga, e com alegria imensa começou a brincar na água e na areia, junto de seus pais e irmã, que permaneceram totalmente vestidos. 

Este fato acima me deixou completamente maravilhado. Uma família de não adeptos (ainda) permitiu que seu filho aderisse, diante deles! Nada escondido. Considero isto um bônus da praia não obrigatória, a espontaneidade. Acredito até que aqueles que se sentem tão incomodados com a presença natural de curiosos (chamo de natural aqueles que olham apenas) não são verdadeiros naturistas, pois estão muito preocupados com a opinião dos outros.  

Já é possível presenciar a entrada de pequenos grupos exclusivamente de rapazes e, mais raros, exclusivamente de moças que, após algum tempo, alguns integrantes tiram suas roupas e praticam a experiência naturista. Fantástico. É assim que se começa. Ocorrência com possibilidade nula em praias e sítios de nudismo obrigatório.

Também já se começa a perceber a descontração entre novos e inexperientes adeptos (de ocasião, talvez), com "peladas" (jogo de futebol sem muitas regras-bem claro) em que alguns jogam nus e outros não.

Há muito caminho a trilhar e muita coisa a descobrir com esta nova experiência do nu não obrigatório. Acredito que o trabalho será árduo, mas creio muito no trabalho educativo, por força profissional, já que sou professor. Esta praia vingará e servirá como modelo, em breve, para as próximas praias a serem abertas por este Brasil afora.

 

*Presidente da Associação Naturista de Abricó

natpedro@globo.com  


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