') popwin.document.close() }
Jornal Olho nu - edição N°58 - julho de 2005
Editorial | Cartas dos Leitores | NATClassificados | NATNotícias | NATNovidades | Nu em Notícia | NATCuriosidades | NATOpinião
De olho na Mídia | NATEvento | NATEspecial | NATInternacional | NATConto | NATVariedades | NATHumor | NATFotos

Jornal Olho nu - edição N°58 - julho de 2005 - Ano V

Velório Naturista

por Wagner Rotta*

Elaine era a filha mais velha de se Antenor. Estava a caminho do velório de seu pai, mais ainda não conseguia entender como tudo aquilo aconteceu. Seu pai tinha uma saúde de ferro.

Nunca tivera uma relação boa com o pai. Ela era uma religiosa ferrenha, que usava roupas longas. Cobrir o corpo quase todo, era algo imprescindível pra ela. E era justamente neste ponto que ela não se entendia com seu pai. Seu Antenor era um naturista de carteirinha assinada.

Seus pais se separaram quando ela e sua irmã ainda eram crianças. Ela foi criada pela mãe, uma religiosa fanática e Helena, sua irmã pelo pai.

Pouco se viam, só voltaram a conviver juntos quando sua mãe morreu. Nesta época ela já tinha 18 anos, mas ainda era estudante e não tinha sua independência financeira. Por isso teve que voltar a morar com seu pai e sua irmã. Para seu desespero, os dois eram naturistas e estavam sempre sem roupa dentro de casa. Isso causava certos transtornos quando ela queria receber seus amigos da igreja, ou mesmo da faculdade.

Elaine achava aquilo uma imoralidade e as brigas eram constantes. Quando finalmente terminou a faculdade e começou a trabalhar, foi morar sozinha e só mantinha contato com seu pai e sua irmã por telefone ou em locais públicos, pois só assim os encontraria vestidos.

Mas agora nada disso importava. Ele estava morto. Vítima de um infarto fulminante. Já caiu no chão morto.

Iria reencontrar sua irmã. Não a via a alguns meses. Talvez agora sem a influência do pai, ela pudesse tirar sua irmã daquela vida pagã e encaminha-la dentro dos caminhos de Deus.

Chegou a capela justamente no horário em que o caixão de seu pai estava sendo colocado sobre a mesa para ser velado. Sua irmã chegou junto e as duas ficaram lado a lado observando o trabalho dos funcionários da funerária.

Para sua surpresa e desespero, quando tiraram a tampa do caixão, seu pai estava nu.

Mas o que é isso? – Perguntou Elaine.

O papai gostaria de ser enterrado assim.

-Você enlouqueceu? E os meus amigos quando chegarem aqui, o que eu vou dizer a eles?

-A verdade. Que seu pai era naturista e gostaria de ser enterrado nu.

-Eu não vou permitir que você faça uma coisa dessas. Isso é um desrespeito. Uma afronta. Uma falta de vergonha. Coisa que você a papai nunca tiveram.

-Vai começar toda a ladainha de novo.

Ao falar, Helena começou a se despir.

-O que você está fazendo?

-Tirando a roupa, não está vendo?

-Você está maluca? Você vai tirar a roupa aqui?

-Sim. Eu avisei a todos os amigos do papai que o velório seria naturista.

-Mas nem pensar, pode tratar de se vestir e avisar seus amigos imorais que nós teremos um velório dentro das tradições religiosas. Eu vou agora mesmo providenciar flores e roupa pra cobrir o corpo do papai.

-Esqueça. – Enquanto falava tirava a última peça de roupa. - Papai era alérgico a flores e não queria estas frescuras. Ele queria muita festa em seu funeral.

Elaine não sabia mais o que fazer. Sua primeira atitude foi o de fechar a porta da sala onde elas estavam e ligar para a polícia.

Por mais que Helena tentasse abrir a porta, ela não conseguiu. As pessoas se amontoavam do lado de fora. De um lado religiosos, de outro, naturistas querendo cumprir o último pedido de se Antenor.

Quando a polícia chegou teve uma certa dificuldade para entrar na sala. Os dois policiais se surpreenderam com a cena que viram. De um lado uma mulher nua cantava, do outro uma totalmente vestida rezava com a bíblia na mão e ao centro um corpo nu dentro de um caixão aberto.

Em quinze anos de vida policial, o sargento Magno nunca havia visto uma situação como aquela. Ela não sabia nem por onde começar.

Enquanto o soldado que o acompanhava acalmava a situação do lado de fora, o sargento Magno escutava as duas versões da história.

-Senhoras. – começou ele depois de ouvir e refletir um pouco. – Um velório é um assunto de família, e como tal deve ser resolvido entre os parentes do finado. Mas como vocês não conseguem chegar a um acordo que satisfaça a ambas, eu acho que tenho uma solução. Não estará dentro dos padrões normais de um velório, mas depois de tudo o que eu já vi aqui, não vejo problemas. Gostariam de ouvir a minha sugestão?

As duas ouviram atentamente as palavras do sargento Magno e de imediato concordaram. Não por ser a melhor opção, mas por a única forma de atender as duas satisfatoriamente.

Instantes depois a porta da sala foi reaberta para o velório. Ou melhor, os velórios.

A solução encontrada pelo sargento foi muito simples. Estender uma grande cortina no meio da sala e do defunto. De um lado ele estaria nu, sendo velado por Helena e seus amigos naturistas. E de outro, vestido, sendo velado por Elaine e seus amigos religiosos.

Na hora do cortejo, conseguiram duas grandes varas de bambu. Um funcionário do cemitério ia na frente segurando uma ponta da cortina com o bambu, e mais atrás, ia um outro funcionário segurando a outra extremidade.

De um lado, pessoas nuas cantando a vida. E de outro, pessoas vestidas rezando.

E assim foi até que seu Antenor fosse finalmente enterrado.

Quando as duas irmãs chegaram na porta do cemitério, com Helena já vestida, as duas pararam para se despedir.

-Mana. – Começou Helena. – Eu só queria te pedir uma coisa. Você é a única família que eu tenho agora. E nós temos que superar todas as diferenças quando o assunto é família.

-Elaine sempre pregou que apesar das diferenças, a família vem em primeiro lugar. Não poderia negar um pedido da irmã agora que ela estava sozinha. – Me diga o que você quer que eu farei.

-Quando eu morrer, quero ser enterrada como papai. Nua.

-Mas nem pensar. Não conte comigo para um absurdo deste. O que você está pensando...

Enquanto Elaine reclamava, Helena saía rindo.

*wagnerrotta@uol.com.br 


Olho nu - Copyright© 2000 / 2005
Todos os direitos reservados.