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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°42 - março de 2004

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

Capa da revista Bancários que publicou matéria sobre naturismo

A revista do Sindicato dos bancários do estado de São Paulo publicou, na edição número 95, fevereiro de 2004, uma matéria sobre naturismo no Brasil, com destaque ao grupo SAMPANAT e algumas pinceladas no naturismo internacional. A revista, com o título de "bancários", é direcionada justamente a essa classe trabalhadora e seu conteúdo é quase exclusivamente sobre assuntos relacionados. Na seção "comportamento" abriu uma exceção para tornar o naturismo e sua filosofia um pouco mais conhecida. Leia a seguir a íntegra desta matéria que está disponível no site da revista: http://www.spbancarios.com.br/rb/rb7.htm#top 

Natureza à flor da pele

 

Pode ser que o naturismo esteja longe de virar moda no Brasil. Mas quem aderiu à chamada nudez social nem pensa em mudar de roupa

 

Por Marcelo Santos*

foto: Paulo Pepe

Waldemar e sua mulher: “É como se você quisesse justificar por que se casou com sua esposa ou mesmo descrever o gosto do agrião”

Eles possuem suas próprias regras de conduta e não perdem uma oportunidade de se reunir. Despertam de curiosidade e admiração a ódio e intolerância. Surpreendem desavisados que cruzam com eles em alguma praia deserta “vestidos” de maneira rigorosamente igual. Mas basta observar melhor para notar que são pessoas do tipo “família”, daquelas que levam a sogra para viajar, adoram um bom bate-papo e não abrem espaço para bisbilhoteiros. Não se trata de um grupo religioso, embora reúna espíritas, budistas, adeptos de religiões holísticas, padres católicos e pastores evangélicos. São os adeptos do naturismo, pregadores da harmonia com a natureza por meio do nudismo coletivo.

Luz Del Fuego, fundadora do P.N.B. Partido naturalista brasileiro

O conceito teve início no país em 1949, quando a atriz e bailarina Dora Vivacqua, conhecida como Luz Del Fuego, escreveu o livro A Verdade Nua, espécie de livro sagrado do naturismo. “Um nudista é uma pessoa que não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que precisem ser escondidas”, apregoava.

Estima-se que existam cerca de 250 mil naturistas no país. Os dados são da Federação Brasileira de Naturismo. “Além disso, há um potencial de um milhão e meio de simpatizantes”, acredita o engenheiro José Mariano Júnior, 48 anos, vice-presidente da entidade. Apesar dos números, o naturismo brasileiro ainda é uma promessa. Há menos de trinta praias reconhecidas para a prática. Na Alemanha, o número de pessoas que tiram a roupa em público, ao menos uma vez por ano, chega a 12 milhões. À disposição, eles têm mais de 160 clubes e praias. Já na França fica a cidade considerada a capital mundial dos pelados, Cape D’Agde. Localizada na Costa do Mediterrâneo, abriga quarteirões inteiros onde os moradores dispensam roupas para caminhar pelas ruas.

Invadindo sua praia

Barra Seca, no Espírito Santo, com suas águas cristalinas e mornas, é uma das praias preferidas, a 180 quilômetros de Vitória. “O que cansa é a estrada de terra, 60 quilômetros de poeira”, diz Maria Luiza de Almeida, 48 anos, naturista há quinze. Para ela, o problema enfrentado pela maioria das pessoas que se interessam pelo naturismo, mas têm dificuldades em praticá-lo, é estético: “As pessoas são capazes de superar religião, família, sociedade, emprego. Agora, se não são bem resolvidas com seus corpos, acabam encontrando uma série de desculpas”.

Praia do Pinho - Camboriú - SC

A primeira praia no Brasil a obter autorização legal para a prática do nudismo coletivo foi a do Pinho, em Camboriú, em Santa Catarina. Conta com várias pousadas e campings com diárias a partir de 40 reais, restaurantes e lojas de souvenirs. Pode-se até comprar camisetas de lembrança, mas vesti-las será considerado um desacato. Nada de roupa, fotos sem autorização ou olhares libidinosos. No Rio de Janeiro, a praia do Abricó é palco de uma disputa judicial que já dura nove anos, com o impasse sobre liberação ou não para os peladões.

Quando o naturista não tem praia liberada próxima, extravasa em clubes e sítios. Um dos destinos preferidos dos paulistanos, por exemplo, é o Mirante Paraíso, em Igaratá, a 80 quilômetros da capital, dirigido pelo ex-bancário e atual comerciante Arnaldo Ramos Soares, 59 anos. Uma vez Soares foi procurado por um senhor que lhe propôs alugar o local para naturistas. “Achei estranho, mas resolvi conhecer. Quando percebi, já era adepto”, relata.

Em Guaratinguetá, o Clube Naturista Rincão tem sido outro refúgio dos paulistas. O roqueiro Roger Moreira, do grupo Ultraje a Rigor, já deu sua escapadinha para lá. Autor de Pelado, sucesso e tema de abertura de novela no final da década de 80, ele defende a prática. “Recebemos cerca de sessenta pessoas por mês”, afirma a gerente Ana Lúcia Galhardo. O local já serviu até para cerimônia de casamentos. “Tudo ‘a caráter’. A noiva usava véu e o noivo, gravata borboleta. E só”, conta José Alberto Pimenta, ex-gerente do local.

A prática tem atraído investimentos no setor. José Antonio Ramalho, 50, empresário do ramo de turismo, resolveu montar sua própria estância naturista. Na sua casa as normas são duras para os curiosos e solteiros desacompanhados. Sua estância, a Ramanat, fica aos pés da Serra da Mantiqueira, no município de Extrema, em Minas Gerais.

Mas há quem diga que o paraíso fica, mesmo, em Taquara (RS), a 50 quilômetros de Porto Alegre. No bucólico Centro Naturista Colina do Sol, homens, mulheres e crianças vivem nus entre paisagens campestres e floridas. Lá, muitos acreditam estar em plena harmonia com o Criador e a Criação. É o caso do ex-padre Octávio Steffens, de 70 anos, que vive com a mulher Zenir e seus filhos Iara e Zumbi em uma cabana de madeira. “Nos libertamos de todas as nossas vergonhas e sentimos orgulho de nós mesmos.”

Sábado à noite. Um grupo se reúne na casa de um amigo em comum. Em meio a conversas, petiscos e bebidas, alguns mergulhos na piscina, tudo sem roupa. A cena, que chegou a inibir a reportagem, é corriqueira para o pessoal do Sampanat, comunidade naturista na capital. “Já conversávamos via internet e resolvemos marcar um encontro”, explica Vilson da Silva. Gerente de banco até o ano passado, um derrame o fez se aposentar.

O administrador de empresas Waldemar Rodrigues da Motta, 47, conta que o prazer do naturismo é inexplicável. “É como se você quisesse justificar porque se casou com sua esposa ou mesmo descrever o gosto do agrião”, discursa. Ele resolveu aderir à filosofia quando o fotógrafo americano Spencer Tunick visitou o país, no ano passado, para uma de suas controversas sessões de fotos. Reunindo mais de mil pessoas, entre elas, o debutante Waldemar, Tunick disparava sua máquina em direção aos corpos nus que se amontoavam no Parque Ibirapuera.” Achei que ele estivesse ficando louco”, conta Lucia Helena, 45, a esposa. Hoje os dois costumam receber seus amigos desinibidos à beira da piscina.

Outro sampanático – como eles se definem –, Clóvis de Souza, 38 anos, acredita que o naturismo, torna as pessoas mais seguras em relação ao seu corpo e fortalece amizades. “Estamos planejando algum local aqui mesmo na cidade. Quem sabe muitos de nós não resolvem morar lá”.

*revista@spbancarios.com.br 


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