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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°42 - março de 2004

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

O NATURISMO QUE VEIO DO ESPAÇO

Um conto fantástico de Jorge Bandeira*

 

  Para o Daniel

Edval caminhava solitariamente naquele entardecer, suas pernas estavam cansadas, o suor escorria pelo seu rosto num momento de profunda reflexão: por que estava perdido? Logo ele que conhecia tão bem aquele atalho, sua casa não estava longe dali, podia até escutar o barulho de seus vizinhos assistindo televisão e comentando a cena pífia da novela. Mas era verdade, por estranho que parecesse a situação, ela era real. PERDIDO, e, imaginem, bem perto de sua casa. Sabia ele que o inusitado de tudo isso se resumia neste dilema: como alguém pode estar perdido sabendo que tudo de familiar estava em seu redor, a poucos passos de onde se encontrava? Quando Edval voltou a perguntar para si mesmo, aconteceu que...

Um clarão forte cegou momentaneamente suas retinas fatigadas, um forte cheiro de resina impregnou o ar, e, antes de cair num sono profundo Edval ainda se perguntou: E o barulho? Por que tudo se resumiu num silêncio aterrador? Quando acordou, eis que estava cercado por seres humanos, todos aparentemente normais, numa bólide, pois seu interior lembrava uma nave familiar de filmes de ficção científica. E estava nu, completamente nu, no meio de uma sala oval com outras pessoas nuas. Não havia um gesto sequer de surpresa por parte de seus inesperados anfitriões. Um detalhe importante chamou sua atenção: se estivesse sonhando, numa espécie de visão trágica após algum acidente, (lembremos que Edval caminhava antes de chegar a este local singular), seria fácil despertar, pois gritaria de maneira estrondosa até acordar deste pretenso pesadelo. Mas não.

Os seres nus, homens e mulheres, idosos e crianças, todos sem nenhum tipo de vestimenta, continuavam a olhar para ele sem um mínimo gesto de comiseração. Edval, não suportando mais de curiosidade, perguntou, sem dirigir o olhar a qualquer um deles em particular, esperando assim que todos respondessem, ou pelo menos, o chefe ou possível líder daquele povo despido. Quem são vocês? O que querem de mim? Para sua surpresa a resposta veio imediatamente: Somos do futuro próximo, de uma Terra que soube pensar no amanhã. Edval não se conteve e replicou: e por que estão todos nus, indistintamente? O mais velho de todos ali, respondeu: deixamos de usar qualquer tipo de roupa, têxtil ou não, quando percebemos que um item importante para nossa felicidade conjunta era sermos verdadeiros, íntegros, e as roupas escondiam muito de nossas sinceridades, nos intimidavam de nossas emoções mais leais. Por isso chegamos novamente, depois de muito tempo, a resgatar um exemplar da raça humana têxtil para demonstrarmos nossas idéias de forma clara, sabemos que não somos os donos da verdade absoluta, porém queremos alertar para todos que a nudez pode sim, trazer a redenção para a maioria dos homens.

Edval escutava com atenção, não podia, naquele momento mágico e incomum, mexer-se ou executar sons estridentes, gritar, por exemplo. Estava tomado por uma sensação de paz indescritível. Estava nu, sem vergonha de todos os outros dali, que também nus estavam, ouvindo com atenção as palavras do velhinho daquela tripulação naturista. Num determinado movimento, inesperado, o velhinho acena para uma das crianças, esta conduz as roupas de Edval, e com um olhar entre o triste e o singelo, entrega aqueles objetos têxteis, industriais, para nosso protagonista.

Como num passe de mágica, ao tocar naquelas roupas, Edval acorda no meio da estrada, bem próximo do portão de sua aconchegante moradia. Depois desse episodio, após refletir sobre tudo que aconteceu naquela ocasião, Edval passou a andar nu, fazendo seus trabalhos ao natural, com uma felicidade ímpar estampada em seu rosto, e acabou por entrar num grupo de naturistas, perpetuando, assim, as revelações do velho ancião das jornadas interplanetárias.

Manaus, 28 de fevereiro de 2004.

*um dos fundadores do GRAÚNA-Grupo Amazônico União Naturista jotabandeira@yahoo.com.br 


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