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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°48 - setembro de 2004 - ANO V

A hora de mudar

por Pedro Ribeiro*

Praia do Pinho, a praia pioneira na retomada do naturismo brasileiro na década de 80. 

O naturismo brasileiro, em sua retomada, está prestes a completar 20 anos de luta. A pioneira da segunda fase, a Praia do Pinho, no Balneário de Camboriú, em Santa Catarina, foi durante todo esse tempo o ícone e modelo de como deve ser organizada e dirigida uma área pública naturista. Tudo que era feito por lá serviu como base para a abertura para as outras praias que vieram a seguir: Praia Brava, de Cabo Frio, RJ, Tambaba, próxima a João Pessoa, PB, Barra Seca, em Linhares, ES e, mais recentemente, Massarandupió, em Entre Rios, BA.

No começo e após os problemas legais iniciais, na Praia do Pinho era permitida, em toda sua extensão, a presença de qualquer pessoa, inclusive vestida e de homens desacompanhados. Com a realidade dos fatos, logo a praia tornou-se exclusiva para naturistas e, não muito mais tarde, foi estabelecida uma divisão de áreas, onde a segunda seria apenas para "casais e famílias" e a primeira para homens desacompanhados de mulheres ou "solteiros". Os motivos que levaram a associação da Praia do Pinho estabelecer tais critérios se justificavam pelo comportamento pouco ético de muitos freqüentadores "solteiros", também porque as mulheres, principalmente, não se sentiam à vontade para tirar as roupas em meio a tanta gente vestida e tantos homens à sua volta e, ainda, muitos homens não se sentiam à vontade em levar suas esposas e famílias sem que houvesse a contrapartida de outros freqüentadores. Foram decisões pouco democráticas, porém necessárias.

Este modelo foi seguido por todas as associações naturistas de praia citadas anteriormente, como se essas fossem regras implícitas do naturismo. Foram aplicadas sem maiores questionamentos e reflexões.

Praia de Olho Boi, no município de Armação de Búzios, RJ.

Algumas outras poucas praias foram abertas sem seguir estas características: Praia Olho de Boi, em Búzios, RJ, Galheta, em Florianópolis, SC e Abricó, no Rio de Janeiro, RJ.

 Uma das conseqüências da restrição ao acesso de "solteiros" é que a população jovem é praticamente desaparecida das praias. Um pequeno passeio por qualquer uma daquelas praias deixará claro que a idade média está em torno dos 40 anos. Jovens quando há, a quase totalidade é de crianças menores de 10 anos de idade, com raras exceções.

Por outro lado, uma das conseqüências da não restrição ao acesso de "solteiros", nas praias citadas no segundo grupo, é a grande quantidade de homens em relação ao número de mulheres, embora o número de jovens se multiplique muito.

A restrição aos homens desacompanhados de mulheres foi feita com as melhores das intenções, eu acredito. Pretendia-se com isso forçar com que os maridos e namorados levassem as suas respectivas companheiras para o convívio naturista, mas acabou provocando situações desagradáveis para quem não têm esposa ou namorada. Passaram a ser discriminados.

As mulheres no Naturismo brasileiro

A realidade de praia brasileira não naturista mostra que a quantidade da presença masculina sempre é maior do que a feminina, em qualquer dia, horário ou situação, com raras ocasiões excepcionais. Deveria ser numa praia naturista essa realidade diferente ?

Por onde andam as mulheres atuantes do naturismo brasileiro ?

Não obstante a precursora Luz Del Fuego, às vezes me pergunto se as mulheres brasileiras se interessam realmente pelo naturismo ou estamos fazendo uma "forçação de barra". Explico. O jornal OLHO NU possui exatamente 4.255 assinantes em sua mala direta, destes apenas 56 são mulheres. Para ser assinante do Olho não há qualquer tipo de exposição que possa comprometer. Porque então essa falta de interesse ?

Ainda servindo como exemplo o nosso jornal, nesses 4 anos e pouco de vida, OLHO NU contou com a colaboração de diversos assinantes/leitores, que enviaram seus artigos para publicação. Neste caso, o nome fica exposto. Oitenta pessoas diferentes já escreveram matérias sobre naturismo a serem compartilhadas pelos outros leitores, apenas 11 são mulheres.

Parece pouco tempo, mas vinte anos fizeram muita diferença na vida das pessoas e para o naturismo brasileiro. Neste período pessoas se casaram e outras se separaram. Crianças nasceram e velhos morreram. Há homens que sempre freqüentaram lugares naturistas com suas esposas, mas se separaram e ficaram impedidos de ir a locais onde não são conhecidos. É justo ? 

Também a moral brasileira mudou muito. Por um lado recrudesceu com o aquecimento das religiões pentecostais e católica, por outro, diminuiu com o surgimento da moda do "swing" ou troca de casais, cujos adeptos invadiram as áreas naturistas de todo país, facilitados por justamente somente ser permitido a entrada de casais. Irônico. Se a entrada de homens "solteiros" é impedida para que as mulheres não se sintam incomodadas com um possível assédio, agora são as famílias que se sentem constrangidas com assédio de casais. Proibir-se-á a entrada de casais que não constituam família ?

Passaporte Naturista

O "Passaporte Naturista", sonho de Celso Rossi na época em que era presidente da Federação Brasileira de Naturismo, posto em prática em 2003, na atual gestão da FBrN, chegou com a pretensão de resolver o problema dos naturistas solteiros ou que se tornaram solteiros por contingências de vida. Trata-se de um documento emitido pela Federação Internacional de Naturismo (INF), adquirido pelas associações naturistas do mundo inteiro que os distribuem a seus sócios. De posse dele o naturista, solteiro, casado, homem, mulher, tem o direito de freqüentar qualquer área naturista do mundo, filiada à INF.

No Brasil, a concessão do Passaporte é de responsabilidade das associações locais filiadas à FBrN (leia mais sobre o Passaporte Naturista, acessando o site da Federação Brasileira de Naturismo) . Mas para que ele funcione é necessário que as áreas confiem nele e não o desmoralizem não o aceitando. OLHO NU recebeu no mês passado carta de naturista filiado à Associação Naturista de Abricó, no Rio de Janeiro, que se sentiu constrangido com comentários depreciativos a respeito de seu Passaporte e da maneira em que ele acredita como é concedido, oriundos de um integrante da SONATA, associação naturista da praia de Tambaba. O dono do bar afirmou que não havia critérios confiáveis para concessão dos passaportes (leia a carta de Eduardo Velazquez do dia 5 de agosto de 2004, com o título "Notícias (estranhas) da Paraíba" em Cartas dos leitores).

foto: João Salles

Praia do Abricó, no Rio de Janeiro. A quantidade de homens sempre é muito superior à de mulheres, porém existe grande presença de jovens.

Se em menos de um ano de criação o Passaporte sofre desconfiança, o que será do futuro dele? Questionada, até hoje a SONATA não se pronunciou sobre o incidente.

Habeas Corpus

A intolerância tem levado os que se sentem prejudicados a procurar por seus direitos por outras vias, não às do diálogo, já que esse não existe. Neste ano de 2004, uma associação gay da Bahia conseguiu Liminar na Justiça cassando a proibição da entrada de homens desacompanhados de mulheres na praia de Massarandupió. Mais recentemente, um homem de Santa Catarina, conseguiu Habeas Corpus para ter o direito de freqüentar toda a extensão da Praia do Pinho, só ou acompanhado, extensivo a seus amigos de qualquer sexo (O número do processo é 005.03.015112-5. Comarca Balneário Camboriú/SC).

O problema do recurso às vias judiciárias é que nem sempre o Juiz entende o espírito do Naturismo e faz as concessões aos olhos estritos da Lei. No caso relatado acima, além de ter o direito de entrar "solteiro" na área reservada aos casais, foi estabelecido que ele e seus amigos poderão ficar nus ou vestidos, como quiserem. Isso é uma temeridade.

Imagine se mais casos tivermos como esse. Poderá representar o fim das praias naturistas, pois muito provavelmente se encherão de curiosos vestidos, na maioria homens, em busca da visão de mulheres nuas. Isso poderá ocorrer porque as associações de praia ainda não compreenderam que está na hora de mudar. Está na hora de fazerem concessões voluntariamente e não de serem obrigadas a isso, pois nem sempre o que é imposto é o desejável. É preciso ter jogo de cintura.

*natpedro@globo.com

Professor, solteiro e naturista


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