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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°41 - fevereiro de 2004

Anunciam nesta edição: Corpos Nus

A praia de Massarandupió, a única oficialmente naturista no estado da Bahia, voltou a ficar em evidência na mídia no mês de janeiro passado, como havia acontecido em dezembro. Porém, desta vez, o destaque deveu-se ao fato da proibição da entrada de homossexuais na área naturista. 

     Gays rejeitados em praia de nudismo

Portando faixas, cartazes e bandeiras coloridas, homossexuais fizeram protesto contra a discriminação em Massarandupió  

 

Por Mary Weinstein

jornal A TARDE

5 de janeiro de 2004

enviado por Johannes W. Ruigt*

 

foto: Edmar Melo/A TARDE

Com faixas e cartazes, manifestantes protestaram contra a discriminação e prometeram voltar em maior número

Ficar nu em Massarandupió é legal. O Decreto 1.571/99 regulou a prática em um trecho de praia na Estrada do Coco, no município de Entre Rios, a cerca de 100 km de Salvador. A praia nem atrai muita gente e é, normalmente, tranqüila. Ontem, no entanto, foi diferente.

Por volta das 11 horas, 11 pessoas - todas associadas ao Grupo Gay da Bahia (GGB) - desembarcaram de uma topic dispostas a mudar uma das regras do lugar: a de que homossexuais não podem entrar. Para registrar a presença delas, o GGB avisou a jornalistas e fotógrafos sobre a manifestação. E, assim começou um acirrado debate à beira-mar.

Quando viu os gays nus, com faixas, cartazes e bandeiras coloridas, descendo o barranco da restinga para a areia, Miguel Vasco Calmon Gama, 55 anos, saiu de sua barraca onde vende bebidas e comidas, andou uns 100 metros, e abordou os rapazes. Ele, como presidente da Associação Baiana de Naturismo (Abanat), estava querendo barrar a entrada do presidente do GGB, marcelo Cerqueira, e dos demais homens.

"Porque os gays que vinham aqui estavam ali... (mantendo relações, dita pelo presidente de forma impublicável). Vocês vão me fazer um ofício solicitando uma permissão, desde que vocês assumam se comportar...", exigiu Miguel, garantindo que tinha uma fotografia da cena tirada por um amigo. A foto não foi mostrada porque estaria em casa.

O antropólogo Luís Mott, ex-presidente do GGB, ainda perguntou se o procedimento de mandar ofício seria o adotado em relação a todos que freqüentavam Massarandupió. Não teve resposta. Miguel estava preocupado em esclarecer que, ali, homem só entra acompanhado de mulher e vice-versa.

A barraca de Miguel tem até um código de ética com 11 mandamentos, mas nenhum deles fala especificamente de homossexuais, ou de que o acesso só seria permitido a casais. O código foi elaborado pela Federação Brasileira de Naturismo e em seu primeiro artigo proíbe "praticar atos de caráter sexual ou obscenos nas áreas públicas".

Na barraca vizinha Roberto soares, representando uma outra entidade, a Associação Massarandupió de Naturismo (Amanat), discorda da conduta do colega Miguel. Na barraca dele não há restrições a gays.

REAÇÃO - "A gente acha uma besteira. Eles são donos da praia? Se os gays se aproximarem, o que eles vão fazer? Chamar a polícia?", disse o carioca José Mariano, 52 anos, olhando para a vastidão da praia deserta, imaginando alguém tentando achar um policial (celular ali dá fora de área de cobertura) e defendendo a permanência dos novos freqüentadores. Os gays acabaram se aproximando. A maioria dos que estavam na barraca do presidente da Abanat não gostou.

foto: Edmar Melo/A TARDE

"Venho a este lugar há muito tempo. Se esse grupo freqüentar, eu tô fora. É uma questão de princípio que eu tenho. Fui criado assim", disse Sérgio Melo, 45 anos, empresário de Feira de Santana. "Quando gay briga é aquela baixaria", disse Jonas, sem querer dar o sobrenome. Industriário, 45 anos, morador de São Cristóvão, estava embaixo da barraca de Miguel Vasco, jogando dominó com a mulher e mais um casal. A mulher dele estava revoltada com a presença dos homossexuais.

"Freqüento há um ano mais ou menos e nunca vi cenas de sexo aqui. Ninguém aqui quer ridicularizar os gays. Se eles souberem se comportar... Muitos não têm pudor. Naturismo não é vulgaridade", disse uma jornalista, 30 anos, moradora de Stella Maris, que não quis se identificar.

Um homem murmurou: "Acabou a nossa paz". Marcelo Cerqueira ouviu o comentário, tentou defender o direito dos gays e participou do seguinte diálogo: "Você é gay?/Sou/Parabéns, se vocês querem uma praia como essa, por que não fundam uma, como nós fundamos?

A reação contra ou a favor da freqüência dos gays se espalhou. Todos tinham uma opinião a dar. "Não existe sauna gay? Os espaços devem ser respeitados", disse Roberto Aguiar, 45 anos, empresário, morador de Praias do flamengo, ao lado da mulher.

"Não deve haver nenhum preconceito. A liberdade de ir, vir e ficar em lugar público deve ser de todos, independentemente de religião ou opção sexual", disse Edson Luís Sampaio, engenheiro, 48 anos, morador da Pituba, que não estava no lado nudista de Massarandupió.

Marcelo Cerqueira declarou que deverá voltar a Massarandupió no futuro. "A gente quer entupir isso aqui neste verão. Vamos convocar gays do mundo inteiro para começar a freqüentar a Praia de massarandupió. porque essa intolerância deles não se sustenta nos dias atuais". Ele disse que o turismo pode beneficiar a região e que não seria bom excluir nenhum segmento.

Já Oséas Santana, 33 anos, morador de Lobato, agente de saúde, disse: "Me senti um E.T.. Fomos barrados. O que contou foi a nossa orientação sexual e não a nossa estética, que é igual a de todos que estão aqui. Podemos criar outro espaço onde haja liberdade de expressão".

 *Naturista holandês, radicado no Brasil

davijan@pradonet.com.br 

 


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