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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°41 - fevereiro de 2004

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

A Nudez na História

 

enviado por Laurindo Correia* 

publicado originalmente no Boletim da 

Federação Portuguesa de Naturismo**

Breves apontamentos

Adão e Eva (pintura de Tamara de Lempicka)

Desde a origem do Homem e até ao Século XV que a nossa nudez era encarada de forma natural. Afinal de contas todos nascemos nus. A roupa foi criada pelo Homem como forma de se proteger das condições climatéricas mais desfavoráveis; só muito mais tarde passou a constituir um fator de diferenciação social, com toda a carga exibicionista e, até, erótica a que se assiste hoje na exacerbação voyeurista duma sociedade em que o culto da imagem, (especialmente a feminina, mas crescentemente, também, a masculina), constitui um "pilar sócio-cultural". Deixando para trás os nossos mais remotos antepassados, é bom lembrar que ainda hoje, em algumas zonas do globo (atrasadas - dirão os críticos), vários povos vivem nus em comunidade. Ironiza-se, a este propósito, porque é que as índias e as negras aparecem nuas na National Geografic e as brancas na Playboy.

Na Europa onde nos situamos, é bom lembrar que na civilização helénica se convivia naturalmente com a nudez, nomeadamente nas atividades de desporto e ar livre, ou mesmo que S. Francisco de Assis se despiu em público na presença do bispo Guido, sem ter, por isso, sido preso. Aos nossos dias chegaram, também, muitos relatos de banhos públicos onde a nudez de homens e mulheres era perfeitamente natural. Mesmo em Israel dos tempos antigos e até do Egipto, ao tempo do faraó Akhenaton e de sua esposa Nefertiti (adoradores de Aton – Deus Sol), nos chegam relatos do uso da nudez em diferentes situações coletivas. Os próprios frescos da Capela Sistina no Vaticano, contendo figuras de José e Maria entre outros, foram pintados exibindo a sua nudez. Só mais tarde um Papa decidiu "vestir" aquelas figuras que, só recentemente, readquiriram a sua beleza natural no restauro mandado executar pelo Papa João Paulo II. Aliás, a maior parte das figuras de Cristo crucificado que nos chegaram da antiguidade, e mesmo durante a Renascença (Séc. XIV a XVI), apresentam-no despido, sem que isso constituísse qualquer atentado ao pudor.

teto da Capela Sistina no Vaticano, pintado por Michelangelo

Este só toma conta da nossa civilização com o advento do maniqueísmo. Com ele, veio a vergonha, a curiosidade e a malícia. O que era puro e natural, passou a ser perverso a ponto de gerar crimes, discórdias, prisão física e intelectual. No reverso, a nossa cultura apresenta-se genitalizada e hedonista, e projetada para o egoísmo, o desrespeito e até mesmo para o uso do ser humano como mero objeto de prazer e, mesmo, descartável.  

Foi neste contexto que surgiu a procura da harmonia, do equilíbrio, do bem estar físico e intelectual e, também, da liberdade na assunção da nossa natureza que, nomeadamente na Europa do final do Séc. XIX e início do Séc. XX, surgem os primeiros registros sobre o Naturismo a cuja filosofia está ligada a prática nudista e o aparecimento dos primeiros clubes. "O decoro sexual não pode, de nenhuma forma, ser associado ao uso de vestuário, nem a vergonha com a ausência de roupa, a total ou parcial nudez… A nudez, enquanto tal, não deve ser equiparada ao descaramento físico. A falta de decoro existe apenas quando a nudez desempenha um papel negativo no que respeita ao valor da pessoa, quando o seu papel é o de resultar em apetite sexual, no qual a pessoa é colocada na posição de mero objeto de prazer". João Paulo II in "Love and Responsability", quando Bispo de Cracóvia. 

Pero Vaz de Caminha, em ilustração da revista Época

"... ali andavam três ou quatro moças e bem gentis, com cabelos mui pretos e mui compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e limpas das suas cabeleiras que, de muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. Os próprios índios não fazem o menor caso de encobrir e mostrar as suas vergonhas; e nisto têm tanta inocência como em mostrar o rosto." In "Carta a El-Rei D. Manuel" de Pêro Vaz de Caminha (Descoberta do Brasil em 1500).

*membro da Federação Portuguesa de Naturismo

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