SEU JORNAL VIRTUAL SOBRE NATURISMO DO BRASIL E DO MUNDO

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    A história do naturismo no Brasil está sendo contada em capítulos nas edições do OLHO NU. De autoria de Roberto Soares, naturista de longa data e aficionado pelo Movimento, que a relatou originalmente para ser publicado no livro Luz del Fuego - A Bailarina do Povo de Cristina Agostinho, Branca de Paula e Maria do Carmo Brandão (Editora Best Seller - 1994). Baseando-se no que foi publicado na imprensa em geral e em experiências e fatos vividos por ele próprio, Roberto começou sua trajetória a partir de Luz Del Fuego, que era o personagem central do livro. Neste capítulo ele mostra como foi a “Ilha do Sol”, reduto naturista criado por Luz, que enfrentava vários problemas para manter o local funcionando dignamente. É para ler, colecionar e consultar.

"Encontro com o Paraíso"

 

3º capítulo

A ILHA DO SOL

Por Roberto Soares*

     Embora a Ilha do Sol fosse regida por um estatuto bastante rígido, muitas vezes era impossível para Luz del Fuego controlar as atitudes das centenas de pessoas que a superlotavam durante festas inesquecíveis; fazendo com que muitos boatos de permissividade se espalhassem pela imprensa, alimentando o veneno daqueles que tentavam acabar com o Naturismo. Por outro lado, Luz não deixava de ser uma prostituta de luxo, como fora Beja, e os escândalos que produzia aumentavam sensivelmente a carga de preconceitos a seu respeito, ao mesmo tempo que a faziam mais famosa.

     Em cartas trocadas entre as próprias pessoas que aspiravam a difusão do Naturismo no Brasil (Cartas do acervo de T. F. Lorgus, doadas à FBN. Lorgus representou o Brasil perante a INF durante muitos anos, embora pouco tenha feito de prático em prol do Naturimo no Brazil, além de ter seu nome e endereço no catálogo da instituição internacional, o que levou alguns pretendentes as Naturismo a manter correspondência com ele), durante os anos sessenta , pode-se encontrar algumas menções preconceituosas como:
"...do modo como estamos, sem lograr estabelecer o Naturismo no Brasil, vamos terminar tendo que aderir ao Naturismo do tipo Luz del Fuego..."

A Ilha do Sol viveu seu apogeu e glória durante os anos cinqüenta, desde sua inauguração até a mudança da capital federal para o Planalto Central. A presença do Corpo Diplomático no Rio de Janeiro tinha sido fator determinante para o sucesso inicial do empreendimento de Luz, pois a alta sociedade carioca tentava imitar tudo o que os importantes estrangeiros fizessem, inclusive a prática da nudez social.

     Com a saída do Corpo Diplomático da cena carioca, ela tentou de tudo no sentido de angariar fundos para a construção de melhorias que atraíssem mais sócios para o clube. Sem conseguir, vendeu seu carro e até suas jóias, chegando mesmo a fechar temporariamente, em vista de nem os sócios que tinha estarem pagando regularmente suas contribuições. Tentou apoio governamental, mas esbarrou no conservadorismo das idéias golpistas de sessenta e quatro. Alugava então a ilha aos diplomatas estrangeiros que vinham ao Rio, em busca de privacidade para receber amigos e compatriotas.

     Resolveu remontar seus espetáculos em 1965 para obter dinheiro, mas já estava com quarenta e oito anos, e acabou sendo um verdadeiro fracasso. Acertou com o Bateau Mouche, de posar nua sobre uma pedra quando o barco passasse com os turistas, acenando de longe para eles. Com escassas fontes de recursos, foi vendo sua ilha se esvaziar, até ficar sozinha com seu fiel empregado e caseiro Edgar, além das visitas de seu último namorado, o guarda portuário Hélio Luís da Costa. Morreu de forma trágica e brutal dois anos mais tarde, assassinada juntamente com o velho Edgar por dois irmãos pescadores, que viviam numa ilha próxima.

     Os assassinos, vinham utilizando dinamite para pescar, quando não saqueavam o produto da pesca de outros pescadores. Luz compareceu à delegacia de polícia de Neves, para registrar queixa, e tornou-se vítima da vingança dos bandidos. Tanto ela, como o velho Edgar, foram esfaqueados traiçoeiramente pelas costas; depois tiveram seus ventres abertos, foram recheados com pedras, e atirados ao mar.

     Eu havia decidido que, tão logo completasse a maioridade, iria viver com ela, na Ilha do Sol; ao ser surpreendido pela notícia de seu assassinato, com menos de quinze anos de idade, jurei para mim mesmo manter meus princípios naturistas, além de lutar para que Luz del Fuego, nossa Dorinha, fosse um dia reconhecida como a madrinha do Naturismo no Brasil, se é que um dia chegássemos a ver este movimento renascer no país. Ela enfrentara, literalmente de peito nu, todos os preconceitos sociais vigentes em sua época, certamente muito mais pesados que os de hoje.

*Naturista gerente do bar da praia de Massarandupió na Bahia.

robertoelurdes@hotmail.com

 

Ilha do Sol


         Através da amizade que tinha com um alto oficial da Marinha, Luz conseguiu a cessão de uma ilha para a sede de sua colônia nudista. A ilha era a de Tapuama de Dentro, que tinha dois terços de seus oito mil metros quadrados formados de rochas, além de cactos e arbustos secos.

        Apesar de não ser exatamente o que a capixaba queria, a ilha foi carinhosamente apelidada por ela de Ilha do Sol, onde foi fundado o primeiro clube naturalista da América Latina. No final dos anos 50 a ilha já era uma das grandes atrações do Rio de Janeiro, mas não fazia parte dos roteiros turísticos oficiais. De acordo com alguns registros da época várias estrelas do cinema americano conheceram a ilha. Artistas como Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Powel, Brigitte Bardot e Steve MacQueen conheceram e passaram dias na Ilha do Sol.

        Na década de 60 Luz já vivia na ilha e trabalhava exclusivamente para ela. Suas reservas financeiras começaram a se esvair, a idade já estava bem avançada e o mito já não era tão vivo.
        Assim mesmo acreditava que a sua luz não se apagara. Hoje a Ilha do Sol está completamente abandonada. Ainda existe no local as ruínas da casa onde Luz começou a traçar os rumos de sua vida.