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Reflexões Naturistas

por Paulo Pereira*

     Parece que nem sempre o bom senso é considerado, pois os improvisos persistem, sobretudo, na forma de palpites e ações mal concebidas, quer seja na sociedade em geral ou no meio naturista em particular. A nudez natural continua patrulhada e as demonstrações sexuais de mau gosto fazem sucesso na média e na Internet...

     O bizarro e o oportunista pudor da sociedade majoritária faz as manchetes populistas mas esquece, por conveniência, as nossas verdadeiras iniqüidades. fala-se muito, por exemplo, em pedofilia, deixando de lado suas causas diretas e indiretas.

     O sensacionalismo vende jornal, dá audiência, mas oculta, quase sempre, as análises pertinentes e as soluções adequadas e serenas. Será que a discussão do celibato dos sacerdotes precisa do espanto ante os pedófilos para ter curso no momento atual tão violento e permissivo ?

     Seria interessante ressaltar aqui alguns fatos do nosso cotidiano. Os jovens de dezesseis anos de idade dirigem carros e votam. As jovens de treze anos aparecem grávidas constantemente. os programas de televisão e as páginas da celebrada Internet vivem repletos de de sexo e de truculência. Num cenário dessa magnitude, talvez fosse oportuna uma releitura dos chamados atentados ao pudor e dos episódios repetitivos de pedofilia. esses fenômenos de destempero são mais antigos do que andar para frente. Cumpre a todos retirar a cabeça enterrada no solo da hipocrisia e tentar avaliar os descaminhos sociais, somáticos e psicológicos.

     Que relação teriam a violência de todos os matizes, a exploração do trabalho infanto-juvenil, a prostituição agressiva de menores pelas ruas, a fome, a crueldade das diferenças de oportunidades para as várias camadas da população e a ênfase sexual exagerada e conspícua dada pela mídia, por exemplo, com a freqüência dos casos de abuso sexual e dos homicídios seguidos de estupro? ...

     Todos nós estamos pagando uma velha conta. E os naturistas de verdade têm uma importante contribuição a dar. O Naturismo nasceu e conseguiu afirmação no mundo inteiro pela participação consciente das famílias, transformando a prática da nudez social em meio natural de respeito ao outro e de educação sexual eloqüente. mais uma vez destaco o exemplo concreto dos nossos índios. Os nossos irmãos das matas andam nus como a natureza manda e nem por isso viram devassos. O contato físico prazeroso entre crianças, jovens, adultos e velhos é legítimo e saudável, até porque é natural. O chamado fruto proibido quando aliado a uma exaltação mercantilista da sexualidade certamente mora na raiz mais fértil do referido problema de comportamento sexual extravagante. Sem falar nas leis um tanto suaves e principalmente na impunidade dos criminosos. Os chamados abusos sexuais, em última análise, decorrem da falsa consciência que a maioria tem de seu corpo. tanto a rejeição puritana quanto o abuso dos depravados são pontos extremos muito distantes do meio saudável, equilibrado. Recentemente, em São Paulo, uma pequena multidão despiu-se no Ibirapuera com bastante naturalidade, sem hipocrisia ou ofensas. A nudez natural é nossa vestimenta biológica e certamente merece mais respeito e menos preconceito.

     Como já tenho afirmado, acredito que o contato puro com a natureza, e com a nudez bem colocada, são receitas preciosas de saúde físico-mental. Mas parece que a maioria insiste em expedientes de formalismo puritano desarrazoado. As conseqüências estão aí diante de todos. O mais lamentável é que, entre os irmãos naturistas, uma considerável parcela desconhece, ou desconsidera, os nobres fundamentos da filosofia naturista, promovendo ações de caráter sexual explícito e entregando-se a hábitos de consumo de drogas, sobretudo de bebidas alcoólicas, ou, isoladamente, fazendo colocações dúbias a respeito de instituições ou de companheiros, o que evidencia precipitação ou desinformação. Devemos, por coerência e inteligência, prestigiar sempre nossos fundamentos e nossos pioneiros e líderes, pois são nossas raízes preciosas. O Naturismo só será verdadeiramente vitoriosos e respeitado quando seus praticantes derem o bom exemplo. As ações pertinentes de cidadania começam em casa. Estar eventualmente nu não constitui novidade até porque todos nós nascemos despidos. Entretanto, adotar o hábito da nudez como filosofia requer um aprofundamento de informação e de posturas. A coerência com os fundamentos nudistas consagrados pelo tempo torna-se preciosa. 

     Nesses dias de violência e desregramento, o culto da mediação e do silêncio, sobretudo do silêncio interior, pode ser remédio oportuno. Nunca foi tão necessário o auto conhecimento individual. Ter consciência de seus atributos e limites pode fazer a diferença entre a virtude e o engano. A vida precisa ser entendida em sua dimensão maior, sem a miopia das realidades conspícuas ou concretas. A visão antropomórfica, egoísta e limitada, pode deixar de registrar o essencial e o infinito. O mestre Buda nos convida a cultivar a disciplina mental, sobretudo, como caminho de felicidade e de iluminação. E seria válido procurar ver um pouco mais do que nossos olhos nos mostram. Quem enxerga uma lagarta no jardim rastejando no gramado, muitas vezes meio repugnante, certamente não percebe nela, a priori, a bela borboleta que dela resultará em breve, graciosa e solta no ar... Tratemos de ir um pouco além de meras aparências, sempre. Não sigamos atalhos nem imaginemos coisas impossíveis ou mirabolantes. As coisas mágicas são ilusórias. Camelo não toca flauta, como diria o velho personagem da novela das oito ...

     Em pleno século vinte e um, torna-se insuportável propor, para o problema do abuso sexual, soluções medievais, como colocou o pediatra Lauro monteiro Filho, de forma um tanto simplista, no suplemento 'Domingo' do Jornal do Brasil, de 12 de maio. Aos dois anos de idade, as crianças não precisam de aulas de anatomia humana, mas de amor e bons exemplos. As partes do corpo são todas dignas e não devem ser apartadas ou censuradas. As nádegas e as genitálias, por exemplo, não devem ser tabus, partes permanentemente cobertas e intocáveis, pois a prática demonstra, inclusive, que o proibido torna-se desejado e perseguido. A nudez humana é obra de Deus e da Natureza, o que basta para atestar-lhe a naturalidade e a pureza. Os pequenos índios, nus, jamais são espancados como os filhos vestidos dos 'civilizados', ou vítimas de estupro. No entanto, o contacto físico entre os índios é íntimo e salutar, respeitosos. Fazer do corpo humano um sítio demarcado de pecados é de uma estupidez total, sem respaldo da verdadeira ciência biológica ou psicológica. É bom não tapar o sol do bom senso e do progresso do conhecimento com regras castradoras, que jamais evitaram, como a História comprova, os abusos e perversões. Pelo contrário, a Idade Média foi pródiga de exemplos de destempero. Os órgãos sexuais não são sujos nem indignos de serem vistos ou tocados. Essa lição é vesga e pobre em didática. As crianças precisam de liberdade, de carinho, de naturalidade, e não de preconceitos rançosos. O tabu da nudez e do sexo só serve para oportunistas venderem panfletos de pseudo sabedoria, e, sobretudo, para incentivar as taras e os preconceitos, sempre unidos contra o amor pela vida plena, nua e natural.

 

* Autor do livro "Corpos Nus", que pode ser encontrado na 

Livraria Leonardo Da Vinci, Rio de Janeiro.

ppereiranewosborn@bol.com.br

OBs.: No final de mais uma reunião naturista, seria bom destacar que precisamos ser, mais do que nunca, objetivos e conseqüentes. Torna-se indispensável, de preferência, daqui a dois ou três meses, uma reavaliação rigorosa das propostas apresentadas durante o congresso. O momento do Naturismo no Brasil pede ações concretas. Como sugestão, inclusive, creio que seria oportuna igualmente a criação de um boletim bimensal pela Federação Brasileira de Naturismo, visando sobretudo, informar e congregar os companheiros.

 
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