OS GÓTICOS

Por Fellipe Barroso*

            Se um dia você se deparar na rua com uma pessoa trajando preto de forma elegante, cabelos tão escuros quanto as roupas e com pele pálida, acredite, você provavelmente passou por um gótico.

            O melhor horário para encontrar essas figuras é durante a noite, claro! Não tenha medo! Eles são pessoas bem legais e poderão lhe oferecer conversas dos mais variados assuntos, já que são dotados de admirável cultura.

            Agora você pode estar se perguntando: “O que é um gótico?”.

            Vamos por parte.

Contexto histórico

              O nome associado ao estilo arquitetônico surgiu no final do século XV, quando Rafael, um dos grandes mestres da arte italiana, escreveu uma carta ao papa Leão X, onde o descrevia como bárbaro, usando o sinônimo gótico em sua missiva.

            A idéia de bárbaro era sintetizar o lado sombrio, que foi muito bem explorado pela igreja católica para impor o respeito da entidade. 

            Estilo este que era mais conhecido como ogival, uma vez que suas bases estruturais coincidem em ogivas, finalizando o acabamento dos tetos.

            Exemplos de recintos góticos: as catedrais de Milão, Colônia, Toledo e tantas outras. ogivas, finalizando o acabamento dos tetos.

A literatura é dividida em escolas, e uma das mais conhecidas é o romantismo, que por sua vez se divide em três gerações, onde a Segunda é também chamada de “ultra-romântica” ou “mal-do-século”.

            Por que tais definições?

            A arte reflete o momento em que o artista vive, e por isso, retrata.

            No Brasil do século XIX, nossos escritores vivenciaram a grande emoção de uma nação independente e a desgraça em ver que de nada isso adiantou.

            Mergulhados na melancolia de um país que nada lhes oferecia, somente a morte seria a sua libertação do verdadeiro inferno: a vida.

            Mulheres idealizadas (pele extremamente branca, pura) e boemia (a noite é a dona dos mistérios que não se explicam durante o dia) não faltam a estes jovens talentos, que morreram, todos, antes dos 25 anos e de tuberculose.

Os góticos hoje

       Nossos amigos de hoje fundem a beleza arquitetônica surgida no início do segundo milênio à toda depressão e melancolia dos escritores no século XIX, criando um estilo sério e extremamente reflexivo de vida.

     Com suas botas bem engraxadas e jóias de prata, eles são o retrato humano da noite.

     As músicas seguem a mesma linhagem dos trechos literários, e possuem um som digno de interior de igreja durante uma missa na era medieval.

     Com o advento da internet, a cultura gótica foi adquirindo cada vez mais adeptos, que por sua vez usam da mesma para retransmiti-la.

      Seus traços estão presentes nos momentos mais imperceptíveis da vida cotidiana (os filmes Batman x Coringa, Entrevista com o Vampiro e Matrix).

     Se um dia alguém cruzar com um gótico, puxe um assunto sobre Edgar Allan Poe, Mary Shelley, Victor Hugo, ou Álvares de Azevedo.

Idéias íntimas

Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve

A ventura de uma alma de donzela

E sem na vida ter sentido nunca

Na suave atração de um róseo corpo

Meus olhos turvos se fechar de gozo!

Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas

Passam tantas visões sobre o meu peito!

Palor de febre mau semblante cobre,

Bate meu coração com tanto fogo!

Um doce nome os lábios meus suspiram,

Um nome de mulher...e vejo lânguida

No véu suave de amorosas sombras

Seminua, abatida, a mão no seio,

Perfumada visão romper a nuvem,

(...)

*Jovem naturista

fellipemb@hotmail.com

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