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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003

Anunciam nesta edição: Corpos Nus | Pelados |

Tabu ou Exibicionismo

por Paulo Pereira*

Antes de mais nada, devemos considerar serenamente que não existem vários “naturismos”, mas com certeza há muitas formas ou aspectos de preconceitos e de exageros em torno da nudez.

De saída, creio que seria útil e sábio buscarmos um seguro distanciamento de eventuais, e cômodos, improvisos ou oportunismos intelectuais, para mergulharmos, de preferência, numa consistência filosófico-científica mais concreta. A dificuldade imediata para tal aprofundamento pode residir, por exemplo, no baixo poder aquisitivo do povo em geral e, sobretudo, numa quase preguiça ( não sei se tropical, cultural ou psicológica ) de ler, especialmente textos de qualidade comprovada. Em ciência, cumpre notar, as pesquisas ditas simples geralmente não são muito confiáveis ou conclusivas, conduzindo quase sempre ao erro, basicamente por falta de controle e de suficiência de dados.

Por outro lado, é inegável que todos nós temos nossas imperfeições e até desequilíbrios, mas alguns indivíduos exorbitam... Atualmente parece que as tendências exibicionistas, com sua vasta gama de facetas ou disfarces, encontram eco fácil nos meios de comunicação e na Internet, o que pode ser considerado sinal dos tempos, mas deve merecer melhor atenção. Vulgaridade não é naturalidade... O nu naturista, mesmo não estando preocupado com a santidade, não pode ser confundido com nenhuma forma de exposição tendenciosa. Ficar nu no banheiro, na cama, na varanda ou até mesmo em torno de uma bela piscina ( não importa onde essa piscina esteja localizada ) não transforma ninguém automaticamente num verdadeiro naturista. A preferência subjetiva e a palavra são uma coisa, mas a verdade e a ciência são outra coisa bem distinta. A fronteira entre naturismo e exibicionismo nem sempre mostra-se nítida, até porque a mente humana é capaz de engendrar sutilezas bem estruturadas, embora nem sempre pertinentes.

Quando falamos tão enfaticamente de Naturismo e de Nudismo, é oportuno verificar que a questão central, ou essencial, é o tabu da nudez. Se não fosse o nu, o proclamado Naturismo incomodaria muito pouco... O ser humano nasce nu, busca despir-se ( para o amor, para a evidência da moda, para tentar ser mais igual ) e acaba nu até os ossos nos sepulcros, mas não convive bem, via de regra, com a nudez do outro e, o que é pior, com sua própria nudez. O ser humano é muitas vezes um ser dissimulado, que parece não suportar o espelho.  A sociedade vestida, corrupta, desigual, preconceituosa e rica em pseudo-erudição, faz atuante sua resposta fóbica diante da nudez, censurando maliciosamente, de maneira prioritária, as genitálias.Quanta imbecilidade! Ficar nu na janela não é, em princípio, Nudismo ou Naturismo, embora os pudicos de sempre até concordassem, porque necessitam de rótulos para isolar os que ousam ser naturais. Em alguns casos, fala-se em Nudismo, mas deveríamos falar em exibicionismo, ou em hedonismo.

No dia a dia, admito que o uso inadequado ou pejorativo dos termos “nudismo” e “nudista”, poderia isoladamente contribuir para uma visão deturpada do nosso Movimento, embora verifiquemos, na prática, que os termos “naturismo” e “naturista” não estão imunes a ofensas e mal-entendidos. É um fato.

É conveniente reafirmar aqui que a História e a Federação Internacional ( INF ) colocam os termos “naturismo” e “nudismo” em pé de igualdade, no seu uso comum, sem considerar peculiaridades locais, ou filigranas etimológicas; na verdade, ninguém declarou que as palavras “naturismo” e “nudismo” são a mesma coisa... Igualmente, a fidelidade aos fatos históricos, num contexto mais amplo, não pode nem deve ser confundida com historicismo. Seria aí sim, simplismo, incompatível com as boas concepções das pessoas cultas.

Por tudo isso, destaco agora, como contribuição aos estudiosos, algumas afirmações do Sr. Jean-Michel, um dos ilustres diretores da F.F.N. -Federação Francesa de Naturismo, publicadas na revista “La Vie Au Soleil”, nº- 93, 2003. Diz o diretor francês: _ “ As palavras “nudista” e “nudismo” carregam uma conotação pejorativa... Quando querem ridicularizar nosso modo de vida, falam em “nudismo” ou de “nudistas”, mas raramente de “naturistas”. A nudez, que é essencial, não é um fim em si mesma, mas uma componente que é, por sua vez, meio e objetivo... Na teoria naturista, a prática nudista não era reivindicada. Mas essa prática acabou se impondo, fundindo-se, ao ponto que as duas palavras são agora sinônimos nos dicionários... Ainda que o mencionado Naturismo, em seu sentido mais estrito, e original, tenha conseguido se impor a todos, o Naturismo Nudista, que nós agora vivenciamos, conserva-se, de alguma forma, marginal na sociedade. A nudez começa a ser percebida, pouco a pouco, como coisa natural... O Naturismo agora exprime uma diferença verdadeira, como o viver despido... Que nos denominemos “nudistas” ou “naturistas” pouco importa. O que conta é manter o espírito e a originalidade do Movimento”. Finalmente, sábias palavras! Palavras de quem não precisa inventar nada. Mas quero ainda enfatizar o que nos diz Jean-Michel, fazendo pequena citação do livro “Le Nudisme” ( 1961 ), de Jean Deste, obra clássica do nosso Movimento. Diz Jean Deste : _ “ Presente em tudo e sempre, depois que o mundo é mundo, a nudez precisou ser codificada para adquirir o direito de cidadania, deixando de ser confundida com a licenciosidade. O Nudismo é, pois, a nudez organizada, cuja prática supõe determinadas normas implícitas, quer sejam individuais, familiares ou sociais, de valor comum... O Naturismo é o conjunto de regras que orientam o indivíduo na vida natural; numa determinada época, o vocábulo referia-se mais estritamente a uma doutrina terapêutica, preconizada pelos médicos Paul Carton, Gaston e André Durville. O Nudismo da França escolheu o termo “Naturismo”, como preferencial, até porque, no sentido amplo, ele engloba o termo “Nudismo”. Apesar das conotações maliciosas de alguns, utilizo os termos “Nudismo” e “Nudista” porque são, sem dúvida, mais populares e inteligíveis”. Creio firmemente que as palavras de Michel e Deste tenham esclarecido definitivamente essa questão. Fica mais fácil, talvez, perceber com clareza as minhas colocações a respeito. Como eu já disse, é preciso ter cuidado, evitando que a emenda seja pior do que o soneto...É tempo de somar.

Posso dizer, sem afobação, que, em vários ângulos, o exibicionismo do corpo afirma-se como contraponto do tabu da nudez. Quem não acolhe a resposta fóbica diante da nudez não deve prestigiar o preconceito ao nu do Nudismo, mesmo que assim o façam os puritanos e os hipócritas. Preferir, ou optar, sim. Mas sem rotular, pois, aqui no Brasil, geralmente não nos chamam de nudistas ou de naturistas, mas de pelados, quem sabe querendo dizer indecentes, desprovidos de pudor, ridículos. Por isso, devemos somar e não dividir.

Repito, e grifo, o que nos disse o Sr Jean-Michel, diretor da F.F.N. : não importa dizer Nudismo ou Naturismo, a rigor; o que importa é ser fiel ao espírito e à originalidade do Movimento, especialmente numa época cheia de mazelas, quando a nudez, mais do que nunca, virou mercadoria para consumo fácil, até mesmo em alguns espaços que se auto proclamam “naturistas”, mas que usam o vocábulo como fachada.

*Estudioso do naturismo e ex-presidente da Rio-NAT

ppereiranewosborn@yahoo.co.uk

Um Registro: Conversei longa e fraternalmente com o bom amigo Valdir e com outro amigo comum, do Recanto Paraíso (que colaborou com o Valdir nas colocações feitas nas edições de outubro e novembro de “Olho Nu”). Nosso entendimento foi excelente. Na verdade, o referido companheiro do Recanto Paraíso ainda não havia lido o meu livro “Corpos Nus”. Se houve, por acaso, alguma pressa ou generalização, certamente não foi da minha parte. Mas quero aproveitar o mês de dezembro para cumprimentar todos os irmãos naturistas. Muita paz, ao ensejo do Natal e Ano Novo PS: Ainda sobre este assunto meio desgastado e pseudo-erudito (Nudismo / Naturismo), eu gostaria de enfatizar que a história não é estória, e não considera necessariamente preferências pessoais ou conceitos subjetivos, mas apenas fatos. A verdade nem sempre coincide com místicas ou interesses secundários.

Paulo Pereira


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