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Jornal Olho nu - edição N°122 - janeiro de 2011 - Ano XI

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Naturismo não é crime

por Pedro Ribeiro*

O mês de dezembro passado deixou mais uma vez atônitos os naturistas de todo o Brasil. Acusado de pedofilia, um dirigente da Sociedade Naturista de Tambaba, a SONATA, foi preso em sua casa acusado de praticar crimes que estão relacionados a esta tipificação. É a segunda vez que isto acontece com dirigentes naturistas e é a segunda vez também que ocorre no mês de dezembro.

As circunstâncias da prisão neste caso, de acordo com que se lê através da imprensa comum, são pouco fundamentadas em motivos palpáveis. O mesmo ocorreu há dois anos atrás no outro caso parecido, ocorrido no Rio Grande do Sul. As acusações são levianas, disparadas ao bel-prazer. Não se sabe se elas vêm de fontes oficiais ou se são postas com estas características graves para serem transformadas em "belas" manchetes de jornais.

Mas o que ficou claro neste último episódio é que o Naturismo ainda é muito vítima de preconceito em nosso país. O Ministério Público da Paraíba sugeriu (e a prefeitura do município do Conde, onde se localiza a praia de Tambaba, acatou) a proibição da presença de menores de idade na praia de Tambaba, mesmo acompanhados por pais ou responsáveis legais. O primeiro penalizado foi o Naturismo.

Enquanto as notícias terríveis eram divulgadas nos meios de comunicação, leitores as comentavam nos sites destas empresas, geralmente, de forma preconceituosa e raivosa contra o naturismo, sempre o associando a bacanais, orgias, sexo ao céu aberto, entre outros comportamentos. Raros foram os comentários ao nosso favor.

A sugestão do Ministério Público da Paraíba demonstra por parte de seus membros o total desconhecimento do que é o Naturismo e que eles acreditam no que os leitores também acreditam. Demonstra também um preconceito jamais exposto por este órgão público. Nem precisa refletir muito para perceber que esta sugestão é absurda por qualquer ângulo de visão, pois não encontra parâmetros em outros casos de crimes do mesmo feitio cometidos por pessoas ligadas a outras instituições.

A Igreja Católica têm tido constantemente membros acusados de crimes deste tipo, no entanto o Ministério Público jamais ousou sugerir a proibição da entrada de menores nas Igrejas, no catecismo ou ainda de atuarem como sacristãos. Recentemente na mesma Paraíba, após o caso Tambaba, um psicólogo foi preso sob acusação do mesmo tipo de crime, no entanto, o mesmo Ministério Público do mesmo estado não sugeriu que crianças parassem de ir a consultórios de psicologia. São inúmeros outros casos. O que se constata é que o Ministério Público da Paraíba está usando "dois pesos e duas medidas".

Também nas cartas escritas pelos leitores aos jornais que divulgaram os fatos, encontram-se sugestões, e até mesmo uma matéria, para terminar com o Naturismo em Tambaba, com alegações do tipo "é absurdo reservar tanto espaço para o naturismo na Paraíba, que possui um litoral tão pequeno" ou "está na hora de deixar toda aquela área para o povo da Paraíba" ou "aquela área é muito valorizada para deixar nas mãos de uns poucos", com claros objetivos econômicos de devastação e incorporação imobiliária.

Além disso, o crime de pedofilia é mal tipificado. Não é claro o que é ou o que não é. É diferente quando se fala em homicídio, latrocínio, furto ou outros que no código penal e pelos significados das próprias palavras deixam bem aparente o ato ilícito cometido. Esta amplitude de significados têm propiciado que a pedofilia se transforme numa nova "caça às bruxas", como ocorrida no século XVII principalmente nos Estados Unidos protestante. Na ocasião a simples menção da palavra bruxa poderia levar à prisão em julgamentos sumários os acusados. Acreditava-se que somente uma bruxa defenderia outra bruxa nos tribunais. O que poderia ser considerado bruxaria por aquela sociedade retrógrada era tão amplo que era difícil encontrar algo que não pudesse fazer parte do rol de acusações. Não havia uma definição ou tipificação legal. Isso era injusto. Então era muito fácil acusar seus desafetos de bruxaria, pois a sociedade da época era altamente impressionável e temerosa.

O mesmo ocorre hoje em dia com a pedofilia. A sociedade se transformou, regrediu até em muitos aspectos. Aos poucos a razão está se deixando dominar pela emoção, pelo temor. A pedofilia é a bola da vez. É o elemento que serve perfeitamente para expiar os seus próprios pecados através dos outros. A nudez continua sendo um tabu instransponível para muitos grupos religiosos e isto afeta a sociedade como um todo, mesmo a parte não religiosa. A nudez de crianças tão comum outrora nas fotografias de família, pelo caminhar, poderá se transformar em crime de pedofilia em breve. Mas ministérios oficiais já se antecipam e usam esta fotos como provas de pedofilia, ou ao menos passíveis de investigação, porém levando o investigado à cadeia enquanto isso. Tal e qual como acontecia na época da "bruxaria". E a noção de justiça escoa entre os dedos da mão, porque a sociedade ecoa de maneira preconceituosa e dogmática.

O acusado de pedofilia tem sua vida arrasada, mesmo que não seja condenado. Isto porque o destaque que os meios de comunicação dão a isso é muito maior que a outros tipos de crime. A imagem do acusado, seu nome, seu endereço, seus hábitos particulares, que às vezes não são lá "muito católicos", mas não são crimes, são divulgados à exaustão, sempre no intuito de associá-los á acusação hedionda. Ao menos na época da Caça às Bruxas, o acusado, caso não fosse condenado poderia mudar de cidade e começar vida nova. Hoje em dia a mídia nacional e imediata transforma a vida do acusado em um inferno, não adiantando mudar de cidade ou estado. Sua imagem é divulgada para todos os recantos com toda a força que os meios de comunicação têm em nosso país. No entanto se o cidadão for absolvido não há o mesmo interesse midiático de "limpar sua barra". É a morte sem morrer.

Até quando haverá na cabeça das pessoas, e principalmente na cabeça das pessoas que podem decidir destinos e leis, a ligação necessária entre nudez e sexo, ou entre Naturismo e sacanagem? Até quando nós naturistas permitiremos esse tal estado das coisas? Continuaremos enrustidos, negando para todos que somos naturistas, nos escondendo no trabalho e muitos de nós até da família? Sem a convicção de ser naturista e acatamento integral de sua filosofia jamais convenceremos o resto da sociedade que não somos criminosos.

Que a justiça realmente seja justa e isenta. Urge a criação de um departamento jurídico para a Federação Brasileira de Naturismo, que possa defender o naturismo de situações como essas.

*Editor do jornal OLHO NU

Leia em NATEspecial as matérias publicadas sobre este caso nos diversos meios de comunicação disponíveis.


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