') popwin.document.close() }

Jornal Olho nu - edição N°113 - abril de 2010 - Ano X

Anuncie aqui

Desbravando a praia Brava

texto e imagens por Richard Pedicini*

 

A praia Brava do alto da trilha

Mais ou menos 9 h 15 da manhã de sábado, 27 de março, quando vinte e cinco naturistas, divididos em dois grupos, enfrentaram uma subida íngreme e uma descida escorregadia pra chegar, uma hora e meia depois, na areia branca e mata nativa original da Praia Brava. O destino pediu bronzeador, mas o caminho exigiu repelente.

 

A subida inicial durou meia hora, o começo numa estrada transitável por veículo 4x4, e depois numa trilha que da antiga pavimentação ainda restavam trechos de paralelepípedos e lastros de concreto. Chegando à antiga sede da Ambrava, o dono do imóvel Marco não somente forneceu direções à sede atual, como também forneceu seu número de celular caso houvesse qualquer emergência na praia que exigisse socorro pelo mar.

 

Marcador da Petrobrás indica o oleoduto que cruza o caminho

Às 10h a caravana cruzou a linha do oleoduto da Petrobrás, que vai de Caraguatatuba e São Sebastião para Cubatão. O oleoduto é enterrado, a única marca que deixa na paisagem é a picada livre de árvores e marcadores de concreto. Um surfista depois contou que foi seguindo a picada que chegou na Praia Brava pela primeira vez, trinta anos atrás, e os guardas florestais asseguraram que o oleoduto nunca deu problemas para o parque. Foi um trecho ensolarado sem a cobertura da Mata Atlântica. Subindo uns 100 metros pela picada para a direita, houve uma vista panorâmica para Boiçucanga no sul.

 

Tiago torce o tornozelo na trilha irregular

A partir do oleoduto, a trilha voltou para a floresta, onde o sol nunca bate, deixando um limo verde traiçoeiro. Até para quem estava avisado pelo guia, foi fácil escorregar. Duas pessoas se machucaram, o caso mais sério foi o tornozelo torcido de Tiago Tannús, secretário da FBrN.

 

Na praia ensolarada, surfistas já estavam aproveitando as ondas, e cinco meninos da vizinhança também brincavam no mar. A turma naturista foi logo para o mar, mas quase nenhum se aventurou para ir além da primeira linha de ondas para nadar.

 

Suas roupas foram empilhadas em ambos os lados de um dos riachos que deságuam na praia, onde a areia já estava liberalmente enfeitada com frutas amarelas das árvores nativas.

 

Parada para o banho na cachoeira

Encontrei Marco Leivas comendo as frutas. Ele desceu depois do grupo, preferindo experimentar o mato sozinho. Frutas amarelas são geralmente seguras, ele explicou, são os vermelhos que mais tendem a ser venenosos.

 

Cachoeira

 

No lado direito ou sul da Praia Brava, logo antes do paredão de pedra que fecha a praia, outro riacho desce para a areia. Quem segue a trilha mata adentro logo encontra uma cachoeira. O volume de água é menos que uma ducha, mas ainda mais que um chuveiro, e talvez por não ser tanto, não segura o gelo típico de cachoeiras maiores da Serra do Mar. Quase o grupo inteiro se aproveitou da cachoeira para tirar o sal do corpo antes de enfrentar a trilha de volta.

 

Naturista Mirim

 

Um dos que estavam na cachoeira era Vinícius, 12 anos, filho de Sérgio e Elise de Caraicuíba, que conheceram a Praia do Pinho cinco anos atrás. Não tinha outro adolescente na turma que foi até Praia Brava. Ele disse que nas experiências dele com NIP, "Tem bastante gente nova, só que neste não veio muito." Desde que pratica, esta foi a primeira vez que ele saiu de uma área fechada de naturismo, mas não demorou para ficar acostumado. Ele gostou bastante da idéia de ir para a praia, e da trilha até a praia declarou que "Difícil foi, mas foi bom."

 

Os guardas florestais

 

Laércio do GoiasNat conversa com os guardas florestais

Três guardas florestais chegaram na praia, e Samuel Alves, que é guarda faz dois anos, adicionou mais informações sobre o Parque Estadual da Serra do Mar, e sobre a Praia Brava, ao que o diretor do parque, Edson Lobato, tinha dito na reunião de Residencial Praia Brava sexta-feira à noite.

 

O Parque Estadual se estende por uns 120 a 130 quilômetros pelo litoral norte. "A Praia Brava é uma das únicas praias que ainda está neste estado de conservação, com mata primária", falou Samuel, referindo-se à mata original que nunca foi cortada.

 

As ameaças maiores ao parque são no opinião dele "a construção ilegal, a caça, a caça indiscriminada, e a extração de palmito." É proibido construir dento do parque, e a Prefeitura desautorizou a construção no núcleo urbano, então fora do parque também ninguém pode construir, até quem já tem um terreno. A invasão é mais por partes de imigrantes que não têm onde morar, e não de casas luxuosas.

 

Há umas casas dentro do parque da Praia Brava, de antes da criação do mesmo. Todos, conforme Samuel, já tem processos para retirar e indenizar os moradores.

 

Surfistas predominam na praia, mas a maioria não chega até lá pela trilha. Eles vão pelo mar

O que preocupa Samuel sobre a possibilidade de uso naturista é a situação do público. "A praia é isolada. O socorro seria muito difícil pela terra, sendo possível somente por barco, que as condições do mar nem sempre permitem, ou por helicóptero." O mar revolto também não é ideal.

 

Ele ecoou as preocupações de convivência de diferentes "tribos" que Edson tinha destacado na reunião. "Eu já fui testemunha ocular de uma tentativa de agressão contra naturistas na Praia Brava." Naquele ocasião, um jovem que chegou nu pela trilha foi hostilizado por cinco ou seis surfistas.

 

No começo do parque, o próprio Edson, agora diretor, patrulhava a floresta sozinho. Cinco anos atrás houve quatro guardas, e recentemente foram postos oito guardas adicionais.

 

Meninos caiçaras

 

Poucos dos surfistas enfrentaram a trilha da Praia Brava. Chegaram dois barcos em que os surfistas subiram, o primeiro pouco depois do meio-dia. Para chegar no barco era só remar a prancha além da primeira linha das ondas, uma tarefa fácil para um surfista, mas muito menos prático para um naturista querendo chegar na areia sem molhar sua toalha ou perder seu bronzeador.

 

Meninos da região também frequentam a praia

O sumiço dos surfistas deixou mais aparente cinco frequentadores que destoaram dos surfistas por não terem pranchas, dos nudistas por vestirem calção, e de ambos os grupos por serem mais jovens, e de pele mais escura.

 

São os habitantes locais, os meninos da Praia Brava.

 

Eles fazem surf somente de Morey Boogie. Há aulas de surf grátis e não muito longe, na Praia da Baleia, um dos mais velhos explicou, "mas é no mesmo dia do treino de campo" de futebol. Eles estavam indiferentes ao naturismo, brincando nas ondas tanto em frente de onde estavam os naturistas, quanto no outro fim da praia. Nem os mais jovens achavam que suas mães os proibiriam de ir para a praia com naturistas presentes.

 

Com este repórter, que estava de bermuda, eles foram firmes em declarar que eles mesmos não adeririam ao naturismo, e que até quando um ou outro já foi sozinho na praia, não tirou o calção para nadar nu. Mas não aparentarem problemas em falar com Marco Leivas, que estava nu, e que entrou no esporte de surfar num colchão de ar.

 

Volta mais fácil

 

Mesmo a volta envolvendo mais subida - a praia é por definição no nível do mar, a pousada só podia ser mais alta - foi mais fácil que a descida. O limo verde foi menos traiçoeiro, e a subida mais suave ainda que durasse mais. O Residencial Praia Brava tinha preparado um almoço substancial para receber os que desbravaram a trilha e os muitos outros - estes em clara maioria - que tinham achado mais prudente ficar na pousada.

 

Leia também:

Fãs do Naturismo e da natureza debateram o futuro da praia Brava

Entrevista com Paulo Ivo, o pai da ideia

As notícias que prepararam o evento


Olho nu - Copyright© 2000 / 2010
Todos os direitos reservados.