Jornal Olho nu - edição N°99 - fevereiro de 2009 - Ano IX

ENTREVISTA COM CLAUDIA DO PAULINAT

por Neucedir V. Mattos*

Cláudia Alexandra é administradora de empresas e dobra seu trabalho com a presidência do PauliNAT. Concedeu esta entrevista exclusiva ao OLHO NU em 18 de janeiro, durante o Encontro NIP/PAULINAT ocorrido em Campinas na ocasião.

 

1- Como surgiu o grupo?

R: O Paulinat nasceu de um grupo de bate-papo no Yahoo chamado Papo Naturista, que é um grupo do antigo Sampanat, que não tinha movimentação real, só virtual. É um grupo de amigos resolveu fazer isso acontecer no real. Foi em setembro de 2006, demoramos 1 ano pra
poder nos encontrarmos.

 

2- Quantos associados existem no grupo?

R: Hoje nós temos 210 associados.

 

3- Quais são os planos para o futuro ?

R: A gente queria que o naturismo fosse feito sem discriminação, que os demais encontros fazer valer mais. Hoje encontramos dificuldade até em locar certos locais pra gente se encontrar, porque existe preconceito em relação ao naturismo. Por isso gostaríamos que a sociedade aceitasse melhor, que a gente tivesse condições de estar nos encontrando com mais frequência.

 

4- Quais são as características do grupo ?

R: Esse clima de família que é muito gostoso. A não discriminação que existe dentro do grupo. Aliás é um lema do Paulinat, discriminação aqui não entra.
 

5- Quais os critérios para fazer parte do grupo?

R: Você tem que respeitar as normas de conduta do grupo, que são as bases da Federação Brasileira de Naturismo. Você respeitando, não importa se já foi ou nunca foi, o que importa é respeitar.
 

6- Qual a sensação física do naturista?

R: É um bem estar maravilhoso indescritível! É uma conexão direta com o natural, que é tranquilo, não tem malícia, ausência da malícia é o que é mais importante.
 

7- O homem ou a mulher naturista é vaidoso(a)?

R: A mulher naturista é mais vaidosa. Ela não relaxa com a vaidade. Ela quer estar bem com ela mesma, para que possa interagir mais com os outros.

 

8- Você tem vergonha do seu corpo?

R: Não, nenhum. Mesmo com a redução de estômago, com o problema da flacidez, que ainda não fiz plástica, não tenho problema nenhum.

 

9- Como educar uma criança no naturismo?

R: Alguém que oriente aos pais que procuram o naturismo e que vão trazer seus filhos e que tem muitas dúvidas, pra não se adiantar a dúvida da criança. Esperar acontecer e sanando as dúvidas na maneira do possível, de uma forma mais natural possível.

 

10- Você pratica em família?

R: Sim, tenho 3 filhos que são naturistas, praticam e frequentam. Eles não tem dificuldade nenhuma de ficarem nus, eles gostam tanto que às vezes comentam com um amiguinho. Eles encaram com muita naturalidade.

 

11- Fale um pouco sobre o preconceito e sobre a "vergonha" de estar nu .

R: Preconceito acho que é uma doença que precisa ser tratada. O naturismo vem trazer um pouco dessa cura, dessa experiência. A vergonha do corpo até hoje, nas nossas experiências e vivências naturistas,eu nunca encontrei alguém que  tivesse esse tipo de vergonha. Antes de conhecerem o naturismo, uma pessoa possa ater achar que tenha, mas quando ela entra em contato, ela diz ?não tenho mais vergonha?.

 

12- O que falta ao Naturismo Brasileiro?

R: Leis que regulem, principalmente essa coisa da criança, que a gente tem receio. Só aceitamos com os pais. Trazer um amiguinho ainda é visto de uma maneira muito diferenciada. Gostaríamos que fosse visto
com outros olhos.

 

13- Você é contra ou a favor da divulgação de fotos naturistas?

R: Eu acho que há necessidade de se divulgar o movimento. Depende de cada um, da vida de cada um. A individualidade tem que ser respeitada. De repente a pessoa tem uma profissão que não pode se expor. Então isso tem que ser respeitado. Agora, pessoas que não tem tabu tem que ser divulgada.

 

14- Como foi a sua primeira vez? Quando e onde Foi?

R: Minha primeira vez foi logo que inaugurou o Mirante Paraíso, a quase 6 anos atrás. Fui para experimentar coisas novas, fui por curiosidade. Eu estava com muito medo antes, estava com muito anseio. Eu sempre lidei muito bem com meu corpo, mesmo sendo gordinha. Eu tinha medo do julgamento dos outros, mas depois cheguei lá e vi todo mundo à vontade, eu acabei me liberando. Foi só os primeiros 5 minutos dereceio.

 

15- Como foi a sua infância em relação a nudez?

R: Meu pai sempre foi uma pessoa liberal, sempre andou nu dentro de casa, quando saía do banheiro pro quarto, muito à vontade. Eu tive o privilégio de ter uma educação dessa. Tanto que eu ia a praia, eu não gostava de usar a parte de cima. Meus primos usavam só a parte de baixo, então eu queria só usar a parte de baixo também. A minha mãe
achava um absurdo e meu pai falava: ?deixa mulher, você não tá vendo que ela é uma sereia. Deixa ela usar a parte de baixo?. Meu pai sempre me chamou de sereiazinha.

 

16- Como foi, ou ainda é, a reação das pessoas quando souberam que você é uma naturista.

R: É bem diferente uma reação da outra. Meu pai sabe, meu pai curte de montão, carrega a revista Brasil Naturista pra cima e pra baixo. Minha mãe também sabe, mora em Porto Alegre, ela conhece a Colina do Sol, já foi uma vez. Agora, já a minha irmã, o marido dela é preconceituoso. Se ele souber que sou naturista, por exemplo, não posso falar com minha sobrinha. Então ele não sabe. Dependendo da pessoa a gente vai abrindo ou não. Mas nunca tive problema de falar pra ninguém sobre o naturismo.

 

17- Onde você gosta de praticar o naturismo? Praia, clube, sítio...

R: Eu gosto de estar nesse ambiente família. Prefiro nesse ambiente de encontro de amigos, é mais íntimo.

 

18- Em Barcelona, tem se permitido andar nu em qualquer área pública. Se fosse aqui no Brasil, você andaria nua pela rua, faria compras em completa nudez?

R: Eu fico muito à vontade no meu condomínio, não me preocupo se a cortina tá aberta ou fechada. Já até reclamaram e eu falo: "olha, é só não olhar pra dentro da minha casa". Os amiguinhos dos meus filhos já estão avisados. Então quando eles vem,meus filhos avisam: "mãe estamos entrando!"

 

19- Você participaria de uma filmagem sobre o naturismo?

R: Se o tema for naturismo mesmo e profissional, não tenho problema nenhum.

 

20- Você já presenciou algum fato que tenha prejudicado a imagem do naturismo?

R: Eu já presenciei um fato desagradável. Foi uma transgressão das normas do naturismo e da Federação. A pessoa foi chamada atenção, foi advertida. Foi um casal e uma pessoa, eles foram advertidos e afastados.

 

21- Depois que você se tornou uma naturista, o que mudou em você?

R: Eu aprendi a me respeitar muito mais, a lidar comigo muito mais. A me aceitar do jeito que sou, que é mais importante.

 

22- Resuma em 3 palavras o naturismo.

R: Respeito com liberdade.

 

23- Em março teremos o Congrenat. O que representará para o naturismo brasileiro o Congrenat?

R: É difícil falar sobre o Congrenat, deveria ser mais elaborado com mais carinho, com mais atenção, com menos comércio. Eu vejo o naturismo como um comércio e me deixa um pouco chateada. Mas é gostoso reencontrar os amigos, embora isso ainda exista, não vou deixar de ir, de reencontrar os amigos e estar confraternizando. Ele não foi feito pra reunir os naturistas e sim pra lucrar com o evento.

 

24- Que conselho você daria a uma pessoa em sua 1ª vez?

R: Seja você mesmo. Se você tiver a fim de tirar a roupa, tire. Se não, não tire. Se quiser ir embora, vá. Cada caso é muito individual, a gente tem que sentar e analisar. Na primeira vez, se ele não tiver afim, não é obrigatório. Se veio pela primeira vez e vai voltar, aí a gente tem que analisar.

 

25- Uma mensagem para os naturistas.

R: Vamos continuar respeitando o planeta e ser natural. Eu acho que o naturismo está crescendo muito e "contaminando". No nosso grupo isso vai "contaminando" as pessoas. A gente não vai impondo, a gente vai exemplificando. A gente planta a sementinha e deixa ela lá, uma hora ela germina.

Campinas, 18 de janeiro de 2009

*nmvalerio@oi.com.br

É membro da Comissão Diretora da Associação Naturista de Abricó.

 

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