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O direito de estar nu

Presidente da Federação Espanhola de Naturismo acredita em "Revolução Naturista"

 

foto: Marcelo Pacheco

Elias Pereira, Ismael Rodrigo e André Herdy

 

Discurso de Ismael Rodrigo, presidente Federação Espanhola de Naturismo, na abertura do XXX Congresso Internacional de Naturismo da INF-FNI, realizado no El Portus, Cartagena, Espanha, no dia 7 de setembro de 2006.

A Revolução Naturista:

o direito de estar nu

Amigos e amigas naturistas,

Depois do último Congresso Mundial da INF-FNI, a Federação Espanhola criou um novo estatuto, principalmente no que tange a definição tradicional de Naturismo: “a harmonia com a natureza e o cuidado com o meio ambiente, bem como a nudez social, com total respeito (art. 2.1 do estatuto da INF-FNI)”.

Aqui na Espanha queremos gerar um “debate de idéias” entre todos os naturistas federados do mundo, aproveitando a palavra que nos foi dada e celebrando os 25 anos de aniversário da Federação Espanhola, comemorados com a sede deste congresso mundial. Queremos, portanto, falar sobre meios para tornar realidade estes pontos citados no artigo 2 do estatuto da INF-FNI.

Será que as “recreações naturistas” são os únicos caminhos?

Se bem conheço, todas as federações têm em seus termos que o objetivo principal do naturismo é a idéia de “body aceptance” (aceitação dos corpos como são). Mas freqüentemente tentam chegar a este objetivo através de um único caminho: “nude recreation is the way” (Recreações Naturistas são o caminho). Cabe-nos então perguntar se este é o caminho correto ou, ao menos, se é, realmente, o único caminho!

Acreditamos que chegou o momento de darmos um passo a mais na luta pela aceitação da nudez, em nossa sociedade. Sem nos esquecermos das “recreações naturistas”, devemos dotar nosso movimento de uma cara mais revolucionária. Nos países em que não é ilegal a nudez em público, como na Espanha, devemos difundir que a nudez é apenas mais uma de nossas liberdades constitucionais (art. 5.2 dos estatutos da FEN). Já nos países em que ainda existem leis baseadas em falsos conceitos morais, devemos lutar pela remoção destes pontos incongruentes com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 2, 18, 19, 20 e 26 da Declaração) das constituições de cada país.

foto: Pedro Ribeiro

Por que não poder ficar nu em qualquer lugar ? Na foto, Marcelo Pacheco.

O cuidado com o meio ambiente

Com relação a um outro aspecto fundamental de nossa filosofia – o cuidado com o meio ambiente – observamos que se fala pouco ou quase nada sobre este assunto nas publicações naturistas, sem contar os temas relacionados à saúde e alimentação que também são esquecidos. Muitas vezes se fala de saúde apenas no ponto de vista das chamadas “medicinas alternativas ou naturais”. Por conta disto, já que também colocamos seguidos pontos em nossos estatutos da INF-FNI sobre a “promoção da saúde física e mental”, vemos que na prática isto não acontece. Não temos mostrado todos os métodos e cuidados com a saúde.

Devemos notar que, para seguirmos os fins selados em nossos estatutos, podemos ser naturistas sem sermos adeptos destas formas de medicina alternativa. Assim como podemos igualmente ser naturistas e lutar contra os “guetos naturistas”, já que não acreditamos sermos naturistas apenas nos momentos de lazer naturista e nas férias em lugares reservados (que considero guetos). Podemos e devemos ser naturistas “acreditando” em tudo que é alternativo ou não, durante todo dia a dia!

Acredito, portanto, que em nosso movimento, que tem tamanha variedade de pessoas com distintas idéias e crenças, não devemos promover institucionalmente ou através de nossos meios de comunicação e opinião apenas um ponto de vista sobre estes assuntos.

Está claro que: devemos promover tudo que conduza a uma maior aceitação da nudez social pela nossa sociedade, bem como está claro que devemos lutar pela preservação do meio ambiente, pois ambos os aspectos são notoriamente marcantes em nosso movimento e na verdade eles, em conjunto, são exatamente as definições de Naturismo. Também está claro que, ambos, não devem ser trabalhadas de forma distinta. Portanto, devemos concluir que a busca deve ser por maneiras de cuidarmos nus do meio ambiente, com isto fazendo um bom uso de nossa nudez social. Devemos desfrutar de toda a natureza e cuidar dela, socialmente, com nudez.

No artigo 2.6 de nossos estatutos, podemos ler umas pequenas pinceladas de como fazer isto através do esporte e outras atividades, assim como vemos uma menção especial aos jovens...

Nós notamos a diminuição dos jovens em nossas associações?

Não seria por falta de ideais e fins pelo que lutar?

Necessitamos dar uma visão mais revolucionária ao nosso movimento se queremos que os jovens se comprometam mais com ele!

foto: Pedro Ribeiro

A ausência de jovens no naturismo também foi uma característica do XXX Congresso

Necessitamos dar uma visão mais ecológica as nossas associações. Vemos que o movimento ecológico, hoje em dia, também necessita ser mais radical. Necessitamos reconhecer, incorporar e tornar nossas algumas das bandeiras e ideais plantados por alguns grupos e pessoas que lutam a toda hora pela ecologia, para não nos distanciarmos de nossa filosofia.

Acredito que a falta de jovens se dá exatamente pela falta de luta de nossa parte pela liberdade do corpo humano em qualquer lugar, pelo contentamento de se ter alguns lugares privativos onde impomos, muitas das vezes, a nudez obrigatória. Agindo de forma mais abrangente, sem dúvidas, iremos atrair mais jovens ao nosso movimento e serão estes jovens, com suas idéias, com suas energias, com seus valores, que tornar-se-ão líderes capazes de mudar o mundo e não apenas alguns ex-jovens que gostam de passar suas férias pelados em algum gueto.

Algumas propostas concretas:

Para podermos tornar concretas estas idéias, sugerimos algumas mudanças para podermos cumprir os objetivos do artigo 2, do estatuto da INF-FNI:

1. Os congressos mundiais devem deixar de ser meras assembléias de dirigentes e se transformar em verdadeiros congressos onde os naturistas podem apresentar seus trabalhos nestes pontos. Trabalhos estes que devem ser reunidos num livro para arquivo e material de pesquisa futuro. A INF-FNI deve atuar como aglutinadora e selecionadora destes trabalhos e como editora dos referidos livros. Isto não impede que durante o congresso se celebre também as obrigações da Assembléia bianual da INF-FNI. Penso que poderiam ser abertos espaços para que as equipes, talvez uma de cada país, pré-selecionadas pelas federações nacionais, ou talvez equipes até multinacionais, tendo em vista a facilidade com que se pode desenvolver uma idéia através da internet. O movimento naturista deve ser gerador de uma filosofia própria que se implante em fóruns, publicações, estudos e investigações e estes trabalhos devem ser também aprovados pela INF-FNI (conforme art. 2.6 da INF-FNI) .

2. No atual estatuto da FEN encontra-se a seguinte definição do objetivo principal da mesma: “proteger e reivindicar a nudez social como uma de nossas liberdades e informar a todos sobre como é a mesma” (art. 5-2-d dos estatutos da FEN). Convidamos a todas as federações nacionais e a própria INF-FNI a incluírem um artigo similar em seus estatutos (no art. 2.4 da INF-FNI este ponto não está bem claro).

3. Realizar atos públicos utilizando a nudez com o objetivo de difundir nossa liberdade e de exigir a remoção de qualquer obstáculo legal que a impeça. Devemos difundir uma visão partidária de respeito mútuo: os naturistas não devem obrigar ninguém a se despir, no entanto, os não naturistas não podem obrigar ninguém a se vestir. Devemos difundir que não existe nenhum “direito de não ver” aquilo que não pratica. Ninguém pode impor sua filosofia ou normas aos demais. O Naturismo é uma filosofia diferente e deve ser respeitada.

4. As federações e associações devem impulsionar a criação de sites “independentes” na internet que venham a promover campanhas metódicas de informação e defesa do nosso estilo de vida e também devem criar canais de informação, junto aos políticos, através de envios de e-mails maciços, convocação para estarem presentes em atos públicos, etc... funcionando como lobby de pressão independente.

5. Realizar atos reivindicatórios utilizando a nudez social para a proteção do meio ambiente: Exemplos:

a. Reflorestamentos de zonas incendiadas dirigido por algum especialista com autorização legal para as mesmas e a presença de ao menos um meio de comunicação de massa.

b. Limpeza de praias e outras áreas de recreação.

c. Apoio e assistência a atividades realizadas por grupos ecológicos que não partiram de nossas associações, como atividades de ecologistas contra o uso de peles de animais...

d. Apoio e assistência a atos como o World Naked Bike Ride que já são tão comuns em nossas cidades.

Pode ser que muitas vezes não consigamos organizar estes atos, mas apoiá-los mostra de forma bem clara e límpida os nossos objetivos sociais.

Nós naturistas temos muito a acrescentar em nossa sociedade e nossa cultura. A repressão da nudez é uma peça básica na repressão das liberdades sociais e no controle do ser humano.

foto: arquivo

Em 7 de julho de 2004, o presidente da associação ADDAN, Jacint Ribas, percorreu mais de 130 km, de bicicleta e a pé, por Barcelona, inteiramente nu, avaliando o respeito e a tolerância desta cidade em relação à nudez.

O modelo de “férias naturistas”, de “recreações naturistas” ou de “naturista quando dá tempo” está praticamente se tornando o que a sociedade entende por “naturismo” e também um negócio que se afasta de nossas associações. A vinculação excessiva do nosso movimento com crenças superadas pela ciência e medicina moderna sobre curas alternativas e esoterismo também não nos beneficia em nada. Nosso movimento deve voltar-se mais para sua base ecológica, explorar mais o aspecto da saúde mental e da educação que, certamente, são pontos que terão como conseqüência mais imediata, a liberação das repressões que são impostas na sociedade (art. 2.2).

A luta pela liberdade de estarmos, ou não, vestidos em qualquer lugar não implicará no desaparecimento de centros especificamente naturistas. Pelo contrário, se fosse assim como que as federações e clubes de futebol existiriam se qualquer pessoa pode praticar o futebol em qualquer lugar?

Estas são as idéias que queremos transmitir nesta ocasião de nosso 25º Aniversário. Estas são as idéias que queremos que sejam debatidas antes e durante todo o congresso entre todas as federações do mundo. E que o resultado das mesmas seja decisivo em nosso Congresso Mundial.

No ano de 2005, comemoramos os 50º Aniversário da Ação de Rosa Parks. Rosa Parks era uma senhora de 42 anos que voltava de seu trabalho como costureira em Montgomery-Alabana-USA, em dezembro de 1955. Neste dia, ela tomou uma decisão que mudou toda a história. Parks: se negou a ceder seu acento num banco de ônibus a um branco. As grandes batalhas pelas liberdades se fizeram exatamente nestas, aparentemente, pequenas frentes de luta: o direito de se sentar num ônibus, o direito de sermos como somos. A luta contra a criminalidade da nudez não é menor do que qualquer outra luta! A luta contra a destruição do meio ambiente tão pouco o é!

Nossa luta é a luta pela liberação da pessoa, pela educação sadia de nossas futuras gerações, para que possam desfrutar deste maravilhoso planeta e que possam fazê-lo, nus!

Ismael Rodrigo

Presidente da Federação Espanhola de Naturismo

Leia nas próximas seções especiais:

XXX Congresso internacional de Naturismo - um resumo do que foram os dias de confraternização e agitação.

A Escolha de Tambaba

"As entrevistas", feitas em El Portus com personalidades brasileiras e internacionais do mundo naturista.

"Espanha Naturista: diário de viagem"- relatório da viagem em busca do naturismo no país sede do Congresso

 

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Jornal Olho nu - edição N°72 - outubro de 2006 - Ano VII


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