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Jornal Olho nu - edição N°226 - Setembro de 2019 - Ano XX

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Domingo traz melhores ondas para Tambaba Open

Img: Graça

Pela manhã, bem cedo, já havia surfistas treinando

Já cedo de domingo uma dúzia de surfistas aproveitava as melhores ondas do feriadão na Praia de Tambaba, sob um céu azul limpo das nuvens que trouxeram chuva na madrugada. Mas antes do começo da competição as ondas já começaram a diminuir, ainda que continuassem bem menos quebradas que em dias anteriores, permitindo que os surfistas fossem mais longe, e executassem manobras mais radicais do que antes. Enquanto no sábado poderia passar um minuto ou mais entre surfistas pegando uma onda, muitas vezes no domingo um surfista já estava se levantando numa onda enquanto outro finalizava na anterior.

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Antes da rodada. Ulisses Meira e Reginaldo Filho

O campeão na categoria Iniciante foi Vitor, e o campeão das categorias Open e Local foi Reginaldo Filho, participante desde a primeira edição do Tambaba Open, e vencedor habitual em anos recentes. Os mais jovens do campeonato foram Reginaldo Filho com 16 anos e Anderson, com 15, que chegou em terceiro lugar na categoria Iniciante, e quarto lugar no Open. Os irmãos William Meira e Ulisses Meira foram segundo e terceiro colocados na categoria Open.

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As pranchas de troféu foram trocados entre os vitoriosos depois da cerimônia

As pranchas foram comparadas e trocadas entre os campeões depois da cerimônia, com Vitor levando a “peladona” de volta para João Pessoa.

Iniciantes

A categoria Iniciantes inclui qualquer um que ainda não ganhou prêmio no Open de Tambaba. Em 2019 somente cinco se inscreveram, apesar de que a categoria foi transferido de sábado para domingo na esperança de mais competidores, e ainda adiado para depois da categoria Open, uma mudança que também permitiu que os surfistas mais fortes disputassem nas ondas melhores. Todos os cinco subiram ao pódio, ainda que o quinto colocado, Ítalo Castro, recebeu somente “uma salva de palmas”. Os quatro primeiros em cada categoria receberem um sacola de brindes com mercadoria de patrocinadores.

Como criar plateia?

Foi especialmente visível para quem estava tentando filmar as manobras, que o público naturista tem pouco entendimento do esporte, e talvez como consequência, pouco interesse. Pessoas andavam de um lado para outro da areia durante as manobras, quase nunca olhando para o mar, ainda que um surfista estivesse fazendo um giro de 360 graus (na gíria surfista, um “três meia”. Uns esportes incluem um anunciador que explica o que está acontecendo. Até os espectadores de futebol, profundamente entendido pelo brasileiro comum, guarda-se a imagem do espectador com rádio transistor grudado na orelha, no estádio.

A “criação de público” é uma termo recorrente no ramo de teatro, onde quem faz teatro acredita que quem já foi assistir, vai assistir de novo. Enquanto o público naturista estava fisicamente presente, o nível de compreensão foi claramente baixo: a execução de qualquer manobra mais difícil foi recebida com assobios e aplausos pelos outros surfistas, e nenhuma reação por parte dos naturistas.

Irmãos Meira

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Ulisses Meira coloca a camisa vermelha antes da rodada 

Ulisses Meira concorreu pela primeira vez no Tambaba Open, ainda que sja frequentador da praia, “Eu venho quase todo fim de semana.” Já surfista profissional, já fez parte do elite do surf brasileiro, o Super Surf. Porém, com a crise econômica, muitas empresas deixaram de apoiar o esporte, e os patrocínios não foram renovados e “não deu para prosseguir”. Participou de curiosidade, “de encontrar todos os amigos juntos na praia, e de fazer novos amigos.” Ele disse que não participou antes no Open porque sempre tinha trabalho nos dias do evento – é barman em João Pessoa. Já mandou currículo para uma pousada em Jacumã, sem receber resposta. Talvez um pódio no Surf Nu deixaria seu currículo mais no perfil alvejado pela empresa. [Instagram dele – U.Meira. Camisa preta de manga comprida em foto]

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O shaper William Meira com uma das suas criações

O irmão de Ulisses, William Meira é shaper (modelador)– ele fabricou as três pranchas de surf que são os prêmios para as campeões em cada categoria. Trabalha 18 anos como shaper e costuma surfar pelado em Tambaba. Enquanto no passado as pranchas foram brancas, este ano cada uma tem um desenho. “Foram escolhidas em reunião pelo Whatsapp entre amigos que surfam em Tambaba. Todos que trabalham comigo na fabricação das pranchas, surfam aqui também.”

William já foi bicampeão na categoria Open. Para ele, tem dois tipos de evolução no surf. “Com criança é rápida, depois dos 20 é amadurecimento. Criança fica muito afobado, mas os mais velhos sabem o que fazer, como escolher bem as ondas. Já fui campeão do Paraíba Open, e já tinha trinta e uns anos. No meu auge eu não teria conseguido. Eu surfei mais aos 22 anos, mas consegui resultados melhores depois dos 25.”

William, um ano mais velho que Ulisses, explicou a rivalidade que isso impôs, “Desde garotinho, uns 10 anos, a gente se enfrenta em baterias.” Notou que Tambaba é pioneiro mundial em surf naturista, e relembra que houve um evento que não foi em frente em Santa Catarina. “Quando moramos no Rio de Janeiro, não fui naturista,” e não conheceu Abricó. “So passei em cima na estrada. Mas Grumari e Prainha são boas para surf, e Abricó fica no meio.”

Enquanto surfar pelado é uma boa, fabricar prancha exige EPI - equipamento de proteção individaul. “Uso óculos, proteção auricular, máscara com filtro, e a oficina tem exaustor para puxar poeira.” William afirma que perícia ajuda. “Com técnica apurada, a lixa não passa da resina para pegar na fibra. Quando pega dá aquela irritação.”

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Jack McCoy, Cristofer Júnior, Haroldo, e Kleber Lins vieram juntos de Praia do Sol em João Pessoa 

Uma turma de quatro amigos veio da Praia do Sol em João Pessoa para concorrer ao Open, com Klauber Lins conseguindo o quarto pódio.

Júnior é professor de dança de salão. “Dou lições para o garotado pequeno, tipo 'fica mais para lá'. Só dando direções. Fico utilizando o espaço de casa, dizendo como 'vocês têm que ficar sincronizado'. Tenho visão para a coisa e dou dicas.” A visão ajuda no surf, onde Junior é iniciante. A visão dos ritmos de dança ajudam para perceber os ritmos das ondas, para perceber os sets, as séries de ondas que vem seguidas. “Não é toda hora que uma onda vem, que é para tentar surfar.”

Haroldo, metalúrgico, trabalha também com resinas, inclusive de pranchas de surf. “Sempre veio para Tambaba. Gosto muito da onda. Combina as ondas de oito quilômetros para lá e três para cá,” fazendo gestos para Praia Bela, no sul, e Arapuca, ao norte, “Parece que junta as duas coisas. Estou gostando das ondas hoje,” completou Haroldo, quando já havia passado uma fase da competição Open.

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Vitor se consagrou campeão Iniciante três dias depois de se formar na faculdade 

Vitor, que conquistou a categoria Iniciante, é de João Pessoa, e veio justamente para participar desta categoria. “Já vim outras vezes para a Praia de Tambaba. Costumo surfar aqui.” O que atrai ele é “A beleza da praia, o pessoal da praia que é muito legal, sempre tem muito respeito como o próximo. E Tambaba é sem dúvida uma das três melhores praias para surf da Paraíba.”

“Tou vindo para cá há três anos,” ele continua, “Depois que comecei a surfar aqui só raramente surfo em outro lugar. Veio da primeira vez a convite de uns amigos que já tinham o costume de vir aqui. A primeira vez que eu vim eu fiquei um pouco envergonhado, mas fui me soltando. Aprendi que ver uma pessoa nua é coisa normal. Vi que é uma coisa normal na vida da gente, que uma pessoa deveria ter a experiência de vir para uma praia naturista. Ajuda entender como foi a começo da humanidade.”

Ele trabalha consertando pranchas - “shaper” é o nome da profissão – e acabou de se formar faz três dias, em automação industrial. “Não chamei ninguém da faculdade para vir comemorar. Realmente, nunca convidei ninguém da faculdade para conhecer Tambaba.” Quando foi participar da primeira bateria iniciante, foi dispensado da camisa colorida – a camisas são novas, usadas pela primeira vez, e vem causando dificuldade para tirar e remover, e umas já começaram rasgar. Ficou claro que nenhum deles serviria no torso de Vitor. Ele explica “É malhação, e faço surf, faço skate, volleyball, frescobol, o que é esporte, eu estou dentro."

Antes das baterias, Vitor chamou atenção pelo warm-up, pulando nas pontas dos pés e girando os braços. A maneira bem-humorado de imitar espectadores, e o protetor solar que deixou o rosto branqueado, contribuiu para a aparência de palhaço, exacerbado quando depois do evento ajudou tirar os banners e desmontar a barraca com um habilidade que sugeriu um profissional de circo.

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Roberto Maciel, presidente da associação de surf do Conde

Roberto Maciel, o presidente da associação de surf do Conde, e vereador do distrito de Jacumã, disse que “Sempre participei, desde o começo. Surfo cotidianamente aqui. Há menos surfista, serve para fugir da multidão, porque muitos não surfam nus.” Ele relatou um pouco da luta de organização, “A gente organizou nossa associação de surfistas, e estamos tentando fazer uma competição em Coqueirinho. Gê e Carlos organizaram um campeonato de alto nivel” no Tambaba Open de Surf Naturista.

Porém, ele vê onde melhoramentos podem ser feitos. “Devem trazer uma sistema de notas. Deixaria o campeonato mais dinâmico. Você não sabe se teve bom desempenho. [Saber a nota] permite que o atleta se desenvolva na bateria.”

Sobre a continuidade do evento, que teve menos competidores este ano do que no ano passado, Maciel afirma que “Sempre surgem novos atletas de surf naturistas, e tem uma participação massiva dos que já participaram de outras edições.”

Img: Alex Sousa

A mídia não naturista esteve presente fazendo matérias

Maciel acha que adicionando mais categorias poderia trazer mais atletas. “Uma categoria master, para acima de 35, por exemplo, ou uma categoria base, para sub-16. Se tiver uma premiação para sub-16, por exemplo, o jovem se sentiria com uma chance real de ganhar, não estaria concorrendo com outro que é praticamente profissional. Ele vê também uma resistência de jovens em ser fotografados, em perder controle da imagem.

O destacamento de salva-vidas hoje em Tambaba incluiu Renata, aluna no seu primeiro ano da corporação. “Eu acho que nunca teria conhecido a praia se não fosse a serviço,” ela disse, elogiando as belezas da praia. Ela não vê comparação entre os surfistas e os colegas salva-vidas, “Surf não faz parte do treinamento. É uma aula de salvamento no pranchão, onde a gente fica deitada, e não em pé. Porém confessa sonho de um dia aprender a surfar. Dá para descartar que concorre um dia no Tambaba Open? “Pode descartar, definitivamente,” ela responde na lata. Nem queria ser fotografada com uniforme de salva-vidas.

Img: Alex Sousa

O prêmio principal para os surfistas são as pranchas costumizadas

Categoria Iniciante

Campeão Vitor

Vice-Campeão Matheus Ferreira

3º Lugar Anderson

4º Lugar Saulo

5º Lugar Ítalo Castro

Categoria Local

Campeão Reginaldo Filho

Vice-Campeão Wellington Ferreira

3º Lugar Williams Silva

4º Lugar Anderson

Img: Alex Sousa

Reginaldo Filho foi o grande campeão do torneio mais uma vez

Categoria Open

Campeão Reginaldo Filho

Vice-Campeão William Meira

3º Lugar Ulisses Meira

4º Lugar Klauber Lins

Comissão de Arbitragem

Nilson Marinho

Oscar Emanoel (RN)

Wagner Oliveira
 

(enviado em 10/09/19 por Richard Pedicini)

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