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Jornal Olho nu - edição N°218 - Janeiro de 2019 - Ano XIX |
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Vida Livre: Conforme a Natureza...
Paulo Pereira
A conceituada revista naturista alemã chamada “Freies Leben”
(Vida Livre), da qual fui correspondente oficial para o Brasil em
1964, consagra precisamente a expressão “vida livre”, e acrescenta,
no seu subtítulo, que era uma publicação voltada para o naturismo e
para a reforma de vida, fato que nos deve servir de inspiração e até
de argumento, sobretudo, de referência datada.
Numa pequena carta, aqui registrada com ênfase, enviada ao saudoso
companheiro Luciano Canabrava, a pioneira Luz del Fuego, Madrinha da
Rio-Nat – Associação Naturista do Rio de Janeiro, fala com carinho e
inteira propriedade a respeito do que ela chamou de “amigos da
natureza”. Para os estudiosos, eis aqui a carta, datada de 1967,
pouco antes da trágica morte de Luz:
“Ilha do Sol, Paquetá, 10/04/1967;
Prezado Amigo da Natureza.
Escrevo-lhe por dois motivos: primeiro, para avisá-lo que você
esqueceu a sua caneta na ilha e, segundo, que não poderei recebê-lo
conforme combinamos. Motivo: aluguei a ilha a fim de conseguir
dinheiro para terminar as obras já iniciadas. Quanto ao
incorporador, você poderá mandar me escrever, caso ele se interesse,
pois o meu advogado, quando fez o contrato de locação, fez uma
ressalva nesse sentido. Mas ficou muita bonita a obra; já está
prontinha: o terraço ficou lindo, assim como os dois banheiros:
homens e senhoras.
Lamento muito sua ausência, pois você é uma pessoa alegre e adora o
Nudismo. Mas o que fazer? A necessidade é a maior inimiga do ideal,
não acha? Bem, caríssimo amigo, escreva-me sobre as ostras, sua
vida, enfim, não me esqueça.
Um abraço da Luz.”
Essa carta é um pequeno documento da saga naturista do Brasil,
iniciada em 1949, efetivamente. O texto, que fala em “amigo da
natureza”, é parte de um texto bem mais amplo, datado de 05/05/1994,
texto esse enviado pelo amigo naturista Luciano Canabrava ao amigo
Sérgio Oliveira, sob o título de “Depoimento Sobre Luz del Fuego”,
texto esse publicado pela Rio-Nat, na íntegra. Devemos sempre
prestigiar os fatos históricos inteiros, o que enriquece o Naturismo
Brasileiro.
O Jornal “O Globo” também publicou, no “Segundo Caderno”,
15/12/2018, uma extensa matéria sobre o uso e o abuso das palavras,
sob os títulos de “O Ano Se Conta Em Palavras” e “As Palavras e as
Coisas”... As palavras referidas anteriormente “amigo” e “natureza”
exigem nossa melhor percepção, mais do que nunca, até porque a
cansativa pós-verdade insiste em traduzir-se por palavras dúbias. O
artigo de “O Globo” ressalta que “além do “Zeitgeist”, que faz cada
ano poder ter um termo para chamar de seu, é preciso prestar atenção
às camadas de sentido que as palavras ganham com o tempo”... Será
que “amigo” virou “inimigo”, e que “natureza” virou “armação”, e que
“naturismo” virou “ficção pudica”?... Certamente ainda não,
felizmente.
Quando focalizo a expressão “amigo da natureza”, dirijo meu
pensamento respeitoso a inúmeros companheiros e companheiras
naturistas com quem tenho tido (ou tive) o privilégio de conviver.
Faço aqui uma saudação especial para: Luz del Fuego, pioneira maior
do Naturismo Brasileiro, atriz consagrada, feminista afirmada,
naturista e mulher de coragem, autora do primeiro livro naturista do
Brasil, intitulado “A Verdade Nua”, 1950, além de “Trágico
Blackout”, fundadora do Clube Naturalista Brasileiro (Ilha do Sol) e
da revista “Naturalismo”, 1950, a famosa “bailarina do povo”, irmã
querida e saudosa, libertária; Daniel de Brito, radioamador,
tradutor, fundador da FNIB – Fraternidade Naturista Internacional do
Brasil (1960), delegado do Brasil ao Congresso Internacional de
Naturismo realizado em Koversada, 1972, juntamente com o amigo comum
Hans Frillman, morador da cidade de Colônia, Alemanha; Osmar
Paranhos, general do exército, naturista apaixonado, poeta,
frequentador da icônica Ile du Levant, amigo pessoal de Luz del
Fuego, ilustre e culto militante naturista; Jiri Glass, membro
tradicional da AANR – American Association for Nude Recreation,
vice-presidente da Rio-Nat (anos 1990), cidadão do mundo; Tácito
Antônio Heit, advogado, idealista, Secretário da ANB (1969),
organizador e redator dos Estatutos da ANB, registrados na INF;
Terson Santos, jornalista, amigo de Luz del Fuego, frequentador da
Ilha do Sol, uma camarada sereno, combativo, corajoso; Raul Renato
C. Mello Neto, advogado brilhante, apaixonado pela Praia da Reserva
e pelos irmãos índios; Sérgio K. Oliveira, engenheiro militar,
construtor de amizades, fundador e presidente da Rio-Nat, editor da
revista “Rio-É”; Antônio Cândido F. da Silveira, o Tunuca, uma
grande saudade, amigo confidente, museólogo, cidadão do mundo, amigo
fiel dos irmãos índios; Pedro Ricardo A. Ribeiro, professor,
naturista de sempre, determinado, criador e editor do “Jornal Olho
Nu” na Internet, atual presidente da FBrN – Federação Brasileira de
Naturismo, líder da Praia do Abricó, amigo confidente de longa data;
Celso Rossi, naturista dinâmico e criativo, articulador e
incentivador da A.A.P.P. – Associação dos Amigos da Praia do Pinho,
fundador da FBrN, sucessora histórica da ANB (1969), autor do livro
“Naturismo, A Redescoberta do Homem”, iniciador da terceira etapa do
Naturismo Brasileiro, após o término da ditadura militar de 1964, e
em seguida, das famosas reportagens de Tarlis Batista sobre a Praia
do Pinho, publicadas nas revistas “Manchete” e “Ele e Ela”;
Marcelo e Carina, casal naturista afirmado, fundadores e editores da revista
“Brasil Naturista, cidadãos do mundo, criativos; Augusto Carneiro,
idealista, colecionador histórico de textos relativos ao meio
ambiente e ao naturismo; Maria Luzia Almeida, professora, primeira
mulher presidente da FBrN; João Olavo Rosés, gestor competente,
naturista estudioso, diplomata entre amigos, presidente por dois
períodos da FBrN; Jorge Bandeira, historiador, dramaturgo, erudito,
tradutor, irmão-índio amazônico, autor de “Luz del Fuego, Pioneira
do Naturismo do Brasil”, apaixonado pelos textos de William Blake,
autor de um excelente índice de termos ligados ao naturismo; Evandro
Telles, amigo confidente, autor de dezenas de excelentes textos
naturistas, como “A Verdade Que As Roupas Escondem”, uma grande
liderança capixaba; Edson Medeiros, sociólogo, idealista, autor de
“Naturismo e Novas Vivências”, um texto superlativo; Elias Pereira,
gestor competente, naturista criativo, atuante, diretor do maior
espaço naturista do Brasil, em Goiás.
Os amigos da natureza, naturistas de sempre, nos lembram que o nosso
mantra do dia a dia deve ser a grande historicidade, a verdade
afirmada dos fatos, jamais a mera versão interessada, distorcida. O
naturismo é, em síntese e essência, a natural nudez codificada,
social, essência doutrinária do nudismo naturismo, que não pode
admitir releituras delirantes.
A mediocridade reinante e o analfabetismo conceitual dificultam, ou
impedem, a correta percepção da historicidade, das etapas históricas
do Naturismo Brasileiro, que se sucedem rigorosamente num processo
integrado. As diversas etapas do Naturismo Brasileiro, vivenciadas
de forma pioneira pelos amigos da natureza citados, constituem uma
só configuração histórica, contextualizada, uma sequência evidente e
anotada, que deve ser sempre prestigiada. São muitos, felizmente, os sinceros amigos da natureza, homens e mulheres que tem sabido viver naturalmente, uma esperança viva de dias melhores, longe de polêmicas vazias. No início de um novo ano, de uma nova jornada, façamos a boa reflexão com espírito cidadão, desarmado.
Paulo Pereira é biólogo, naturista fundador da ANB (Associação naturista do Brasil), jornalista e escritor, estudioso do Naturismo. Contato: pereiranat37@gmail.com
(enviado em 28/12/18) |
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