') popwin.document.close() }

Jornal Olho nu - edição N°215 - Outubro de 2018 - Ano XIX

Anuncie aqui

Enquanto o Congresso não começou...

por Pedro Ribeiro*

O hotel onde se realiza o 36º Congresso Internacional de Naturismo está próximo a três praias de nudismo, sendo a mais famosa a praia do Meco, porém é a mais distante. As outras duas são Bela Vista e Adiça.

 

Enquanto o evento não se iniciou, o jornal OLHO NU aproveitou para conhecer algumas das praias nudistas de Portugal. A primeira a visitar foi a do Moinho de Baixo, mais conhecida pelo apelido de Meco, no Concelho de Sesimbra, a cerca de 36 km do Hotel onde se realizará o congresso.

 

A parte naturista da praia fica ao sul do estacionamento, após o término da zona têxtil. Segundo informações deveria haver uma placa indicando o início da área naturista, porém eu não a localizei. É uma praia enorme, larga, areia grossa e com um costão de rochas que garantem a privacidade. Não se recomenda ficar muito junto do costão porque há perigo de quedas de rochas a todo momento, provocadas pela erosão pelo vento. Não há qualquer infraestrutura na areia, mas a menos de 200m metros do início da área naturista há restaurantes e banheiros.

 

A praia não é de nudismo obrigatório, mas no dia em que fomos, uma quarta-feira normal e ensolarada, só vi uma mulher que não estava completamente nua (somente topless). Não havia muita gente, cerca de umas 15 pessoas espalhadas e até onde minha vista alcançou. A grande maioria era de homens. Também havia muitos cachorros que acompanhavam seus donos. O ambiente estava muito tranquilo.

 

Na continuação da viagem, eu e meu amigo Carlos nos dirigimos mais ao sul. Fomos para Porto Covo. Um vilarejo balneário com muitas pequenas praias cercadas por encostas rochosas, que lhes garantem tranquilidade e privacidade. São dezenas de praias assim. A maior delas em extensão é a praia Grande. A região lembra muito bem Armação de Búzios, na Costa Azul do estado do Rio de Janeiro. O Vilarejo é lindo com todas as casas pintadas de branco e um ambiente bucólico. Fomos informados que a Alta Temporada termina em 30 de setembro e que o lugar fica praticamente deserto.

 

A praia nudista da região é a praia do Salto, também muito famosa quando se fala em naturismo em Portugal. Fica a cerca de dois quilômetros a pé do centro da cidade. E como todas as outras da região situa-se entre paredões de rochas que formam pequena enseada. A maneira usual de chegar até a areia é descendo um costão através de um escadaria construída para esse fim. às vezes, com a maré muito baixa, é possível alcançá-la pela areia através da praia da Cerca Nova. As rochas garantem proteção para o vento e dão sombra. Mas a exemplo da praia do Meco recomenda-se não ficar embaixo dela por causa do perigo de quedas de pedras a qualquer momento.

 

Há duas bicas com água de nascente que servem para se lavar antes de sair ou para beber. Não há infraestrutura próxima nem banheiros nem cestas de lixo, no entanto a praia é agradavelmente limpa, inclusive as trilhas que levam até lá.

 

A praia lembra muito a de Olho de Boi, em Búzios, por causa da largura da areia e do mar frio e com rochas pontudas dentro d'água, a diferença está no comprimento do fundo.

 

Fomos à praia do Salto em um domingo ensolarado. Durante todo o dia deve ter havido cerca de trinta pessoas, muitos casais, a maioria de homens sozinhos. Nenhum cachorro ou criança. Não vi qualquer quebra da ética de comportamento naturista.

 

 

Por do sol na praia do Salto

Dando prosseguimento a nossa saga, de Porto Covo nos dirigimos para Zambujeira do Mar, ainda mais ao sul, aldeia distante cerca de 40 quilômetros.

 

É mais uma aldeia balneária, que vive do turismo nas altas temporadas e da exportação de frutas, especialmente framboesas, que são cultivadas em diversas estufas às margens da estrada que leva até à pousada onde nos instalamos.

 

Zambujeira do Mar tem uma arquitetura menos uniforme do que a encontrada em Porto Covo, mesmo assim há muita harmonia. São muitos bares e restaurantes e pousadas. Quase tudo pintado de branco. A cidadela lembra um pouco São Pedro da Aldeia, no interior do estado do Rio de Janeiro, com as ruas um pouco desencontradas, sem falar da infalível igrejinha branca com sua entrada voltada para o mar. Há duas grandes principais praias, a que dá nome à cidade Zambujeira e a de Alteirinhos, que é a praia naturista oficial.

 

Para se chegar até a praia de Alteirnhos é só caminhar do centro da aldeia por cerca de 1,5 km, descendo e subindo rampas e caminhos bem organizados. Como em todas as praias da região, ela se encontra bem abaixo do que o nível da cidade. O acesso se dá por uma longa escadaria de madeira. A praia tem seguramente mais de 300 metros de largura, mas somente 150 metros são dedicados ao Naturismo, porém em toda a extensão circulam gente nua e gente vestida. Na ocasião da visita, uma terça-feira, havia cerca de 30 pessoas, destas umas 12 eram mulheres e do total havia apenas 10 pessoas inteiramente nuas, sendo três mulheres. Havia também além destes números 5 crianças. Apenas uma naturista.

 

No entanto, o local é extremamente aprazível. Muito bonito, com uma pequena cascata onde se pode banhar para tirar o sal e areia antes de subir as escadas de volta. São muitas rochas dentro e fora da água, mas há bons espaços para banho de mar. As ondas não estavam fortes e a água fria. No decorrer do dia surfistas  não naturistas apareceram e pegaram ondas que estavam maiores então.

 

Segundo informações de Alberto e Tereza, naturistas portugueses frequentadores do lugar, em certas ocasiões a maré sobe muito e  a faixa de areia quase desaparece. Raras vezes ficam só as rochas.

 

Na continuação de nossa caminhada nossa próxima parada foi dirigir-se para Odeceixe, para procurar mais uma praia naturista oficial de Portugal, a praia das Adegas.

 

Odeceixe é mais um vilarejo balneário turístico. Dos que visitamos até agora este é o menor. Ele, no entanto é composto por duas alas bem definidas. A do centro onde se concentram o comércio, a maioria das pousadas e dos restaurantes e a do Mar, onde estão as praias. Nesta há também comércio, restaurantes e pousadas mas em número muito reduzido e com preços mais salgados. As casas seguem o padrão de serem pintadas de branco, mas nesta aldeia há pouca unidade arquitetônica entre as construções. Também percebi, das três vilas visitadas, é a que tem um pouco mais de sujeira visível, como algumas pichações e um ou outro lixo jogado nas ruas (nada, se comparado às sujeiras encontradas na maioria de nossas cidades balneárias brasileiras).

 

A distância entre as duas alas é de três quilômetros, ligada por uma estrada que serpenteia o rio que dá nome à aldeia. Não há condução pública que ligue as duas regiões durante o ano todo, somente no verão. Portanto para se chegar de uma ala à outra deve-se caminhar ou ir de carro.

 

Compensa, no entanto, cada centímetro gasto da sola do tênis para alcançar Odeceixe do Mar. As vistas são deslumbrantes. Fomos ao local numa quinta-feira de outubro, véspera do feriado nacional português da República. Creio que por causa disso havia um movimento razoável de pessoas com muitos carros estacionados e trailers acampados por toda região. Além disso o tempo estava muito bom, com temperatura elevada para esta época do ano.

 

Como em toda região praiana do Alentejo, as vilas e aldeias ficam nas elevações rochosas e as praias estão cercadas por morros de rochas instáveis. Sempre há escadas para acessá-las. A praia do centro é cheia de restaurantes, bares, aulas de surf, barracas para alugar, gente e cachorros. Ela fica na foz do rio Odeceixe, que cria uma segunda praia sem ondas em frente à primeira.

 

A praia das Adegas, praia naturista oficial em Portugal, é acessível pela estrada, onde dá num grande estacionamento para trailers e automóveis. Para chegar à praia desce-se a escadaria de madeira. A praia tem cerca de 100 metros de largura, mas a profundidade depende da maré. No final da tarde a maré recuou também uns 100 metros, fazendo com que o acesso a esta praia não fosse mais necessário pela encosta, mas bastaria caminhar pelo leito de onde momentos antes era o fundo do mar.

 

A praia naturista teve seu momento máximo de população naturista em cerca de 30 indivíduos, com banhistas pegando surf, nadando e jogando nosso brasileiro frescobol. A grande maioria casais. Mas havia também homens e mulheres sozinhos ou em duplas e até um quarteto de mulheres. Também havia família com criança. Nenhum tipo de comportamento indesejável foi registrado. Total paz e harmonia.

 

No entanto, enquanto a maré descia muito, a paz foi desaparecendo, pois começou o acesso de pessoas vestidas. A maioria para dar a famosa "passeadinha". Alguns tomaram lugar e ficaram na praia, vestidos como estavam a poucos metros dali. E aí, coincidentemente ou não, começou o esvaziamento da praia nudista, restando poucas pessoas naturistas para contar a história. A maioria se vestiu e partiu.

 

Foi desta forma que eu e Carlos encerramos nossa visita à região do Alentejo, procurando conhecer as praias naturistas portuguesas. Foi uma experiência única e gratificante. A região é belíssima e muito organizada. Durante a realização do Congresso Internacional é possível que ainda conheçamos mais duas, próximas ao local do evento.

 

Agora é esperar o congresso acabar.

 

*Editor do jornal OLHO NU.

Presidente da FBrN

 

(enviado em 5/10/18  por Pedro Ribeiro)


Olho nu - Copyright© 2000 / 2018
Todos os direitos reservados.