') popwin.document.close() }

Jornal Olho nu - edição N°197 - Abril de 2017 - Ano XVII

Anuncie aqui

Naturalmente, Sempre!

Paulo Pereira

 

Ainda comemorando o histórico centenário de Dora Vivacqua, a Luz del Fuego (1917/2017), visito meus alfarrábios e registro textos e anotações da grande imprensa sobre a inesquecível pioneira do Nudismo/Naturismo do Brasil.

 

Dora sempre percebeu e viveu a vida naturalmente, próxima da natureza-mãe e longe das meras convenções sociais. Para ela, como para mim, o termo “naturalmente” não é um simples advérbio, com origem linguística nos termos “natura”, “naturalis”, “naturalitas” e “naturaliter” do Latim, como sabem os estudiosos, mas “naturalmente” ficou mais rico e abrangente, inclusive, porque os escritores e filósofos naturalistas o aprofundaram, além dessa vivência intensa relativa ao comportamento de Dora, uma naturalista, que se fez nudista-naturista... Ela sempre dirigiu ao mundo um olhar despido, nu, sem falsos pudores. E não devemos, em sã consciência, banalizar essa percepção preciosa da vida fora do rigoroso contexto histórico-filosófico, empobrecido pelo comodismo ou pelo oportunismo eventual. Anotemos.

 

Em resumo, cito inicialmente um exemplar de aniversário da velha e famosa “Revista do Rádio”, edição de 05/02/1952, nº 126. O texto de Roberto Espíndola destaca, no título, um acontecimento de forte apelo jornalístico: “Luz del Fuego vai se casar!”... Escreveu Espíndola: “A bailarina exótica faz sensacional revelação. Ainda sem data marcada, com o casamento Luz del Fuego continuará mantendo a sua Colônia de Nudismo e se candidatará à Câmara Federal pelo Partido Naturalista Brasileiro, uma sensação nos meios artísticos”... A matéria da referida revista dizia que o noivo escolhido seria o maestro Eleazar de Carvalho, que Dora, a bailarina existencialista, pertencia a uma família de destaque nos nossos meios sociais, sendo irmã do deputado Atílio Vivacqua, do Espírito Santo. O texto de Espíndola prossegue enfatizando que Dora tinha sido barrada, pela polícia, na entrada do famoso baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro por suas práticas nudistas e aparições com cobras... Espíndola, então, cita Luz del Fuego: “Infelizmente o Brasil ainda é (1952) um país onde poucos compreendem o nudismo. Mas é necessário que alguém desperte o povo brasileiro para que compreenda a natureza, assim como Moisés despertou o povo judeu para a liberdade”... Ratifico, aqui e agora, a colocação de Dora. Realmente, é indispensável despertar para a liberdade, sempre respeitando os limites dos outros, e prestigiando a memória, os fatos, a história enfim.

 

Ainda consultando os arquivos, saliento uma edição do jornal “A Noite”, de 15/08/1950, nº 1120, diretor Gil Pereira. O jornal mostra Luz del Fuego na capa, vestida... E afirma o grande sucesso de Luz del Fuego no Teatro Recreio, no Rio de Janeiro.

 

Finalmente, saliento um registro do Arquivo de O Globo, de 10/02/2017, sob o sugestivo título “Luz del Fuego, a dançarina e atriz que é pioneira do Nudismo na América Latina”! O texto, em resumo, anota: “Dora Vivacqua, nascida em 21/02/1917, teve educação esmerada, educada no colégio de freiras, mas aos 18 anos fugiu de casa para ser artista, deixando tudo para trás e indo trabalhar no circo... Em 1946, inicia a carreira artística com o nome de “Luz Divina”, e só no ano seguinte (1947) mudaria para “Luz del Fuego”, nome, na época, de um famoso batom argentino... Ao ser a primeira atriz do país a aparecer nua em um palco, foi presa e teve que pagar multa na delegacia... A Ilha do Sol, como foi chamada, transformou-se na primeira colônia para nudistas da América Latina...

 

Dora escreveu dois livros que foram publicados nos anos 50: “Trágico Blackout” (1947), e “A Verdade Nua” (1950), uma biografia... Morreu em 19/07/1967, assassinada pelos irmãos Alfredo e Mozart Teixeira da Silva. Condenados a 20 anos, cada, Mozart (Gaguinho) morreu assassinado na prisão e Alfredo, solto, morreu numa emboscada... A cada ano o nascimento de Dora é lembrado; em sua homenagem, o Dia do Naturismo no Brasil é comemorado em 21 de fevereiro. Vegetariana, defensora da causa animal, feminista, uma mulher dona do seu corpo”... A atriz corajosa, a feminista, a nudista-naturista desde a primeira hora; a dona do seu corpo, como diz “O Globo”, causava admiração, espanto, até inveja e desconforto, até porque a mediocridade da maioria, até mesmo nos dias de hoje (2017), tem grande dificuldade de perceber a verdade nua, a vida sem medo à liberdade, a vida percebida Naturalmente, como enfatizo nos meus textos publicados, desde o ano 2000 na coluna “Naturalmente”, no Jornal Olho Nu e, em 2008, no título do meu livro “Naturalmente, Um Perfil Documentado”, Editora Livre Expressão, apresentação do meu ilustre amigo Pedro Ribeiro, atual presidente da FBrN, da qual faço parte, inclusive, como membro do Conselho Consultivo. Viver naturalmente é, pois, um aprendizado, que o tempo enseja e reafirma.
 

(enviado em 8/03/17 por Paulo Pereira)


Olho nu - Copyright© 2000 / 2017
Todos os direitos reservados.