Ainda comemorando o
histórico centenário de Dora Vivacqua, a Luz del Fuego (1917/2017),
visito meus alfarrábios e registro textos e anotações da grande
imprensa sobre a inesquecível pioneira do Nudismo/Naturismo do
Brasil.
Dora sempre percebeu e
viveu a vida naturalmente, próxima da natureza-mãe e longe das meras
convenções sociais. Para ela, como para mim, o termo “naturalmente”
não é um simples advérbio, com origem linguística nos termos
“natura”, “naturalis”, “naturalitas” e “naturaliter” do Latim, como
sabem os estudiosos, mas “naturalmente” ficou mais rico e
abrangente, inclusive, porque os escritores e filósofos naturalistas
o aprofundaram, além dessa vivência intensa relativa ao
comportamento de Dora, uma naturalista, que se fez
nudista-naturista... Ela sempre dirigiu ao mundo um olhar despido,
nu, sem falsos pudores. E não devemos, em sã consciência, banalizar
essa percepção preciosa da vida fora do rigoroso contexto
histórico-filosófico, empobrecido pelo comodismo ou pelo oportunismo
eventual. Anotemos.
Em resumo, cito
inicialmente um exemplar de aniversário da velha e famosa “Revista
do Rádio”, edição de 05/02/1952, nº 126. O texto de Roberto
Espíndola destaca, no título, um acontecimento de forte apelo
jornalístico: “Luz del Fuego vai se casar!”... Escreveu Espíndola:
“A bailarina exótica faz sensacional revelação. Ainda sem data
marcada, com o casamento Luz del Fuego continuará mantendo a sua
Colônia de Nudismo e se candidatará à Câmara Federal pelo Partido
Naturalista Brasileiro, uma sensação nos meios artísticos”... A
matéria da referida revista dizia que o noivo escolhido seria o
maestro Eleazar de Carvalho, que Dora, a bailarina existencialista,
pertencia a uma família de destaque nos nossos meios sociais, sendo
irmã do deputado Atílio Vivacqua, do Espírito Santo. O texto de
Espíndola prossegue enfatizando que Dora tinha sido barrada, pela
polícia, na entrada do famoso baile do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro por suas práticas nudistas e aparições com cobras...
Espíndola, então, cita Luz del Fuego: “Infelizmente o Brasil ainda é
(1952) um país onde poucos compreendem o nudismo. Mas é necessário
que alguém desperte o povo brasileiro para que compreenda a
natureza, assim como Moisés despertou o povo judeu para a
liberdade”... Ratifico, aqui e agora, a colocação de Dora.
Realmente, é indispensável despertar para a liberdade, sempre
respeitando os limites dos outros, e prestigiando a memória, os
fatos, a história enfim.
Ainda consultando os
arquivos, saliento uma edição do jornal “A Noite”, de 15/08/1950, nº
1120, diretor Gil Pereira. O jornal mostra Luz del Fuego na capa,
vestida... E afirma o grande sucesso de Luz del Fuego no Teatro
Recreio, no Rio de Janeiro.
Finalmente, saliento
um registro do Arquivo de O Globo, de 10/02/2017, sob o sugestivo
título “Luz del Fuego, a dançarina e atriz que é pioneira do Nudismo
na América Latina”! O texto, em resumo, anota: “Dora Vivacqua,
nascida em 21/02/1917, teve educação esmerada, educada no colégio de
freiras, mas aos 18 anos fugiu de casa para ser artista, deixando
tudo para trás e indo trabalhar no circo... Em 1946, inicia a
carreira artística com o nome de “Luz Divina”, e só no ano seguinte
(1947) mudaria para “Luz del Fuego”, nome, na época, de um famoso
batom argentino... Ao ser a primeira atriz do país a aparecer nua em
um palco, foi presa e teve que pagar multa na delegacia... A Ilha do
Sol, como foi chamada, transformou-se na primeira colônia para
nudistas da América Latina...
Dora escreveu dois
livros que foram publicados nos anos 50: “Trágico Blackout” (1947),
e “A Verdade Nua” (1950), uma biografia... Morreu em 19/07/1967,
assassinada pelos irmãos Alfredo e Mozart Teixeira da Silva.
Condenados a 20 anos, cada, Mozart (Gaguinho) morreu assassinado na
prisão e Alfredo, solto, morreu numa emboscada... A cada ano o
nascimento de Dora é lembrado; em sua homenagem, o Dia do Naturismo
no Brasil é comemorado em 21 de fevereiro. Vegetariana, defensora da
causa animal, feminista, uma mulher dona do seu corpo”... A atriz
corajosa, a feminista, a nudista-naturista desde a primeira hora; a
dona do seu corpo, como diz “O Globo”, causava admiração, espanto,
até inveja e desconforto, até porque a mediocridade da maioria, até
mesmo nos dias de hoje (2017), tem grande dificuldade de perceber a
verdade nua, a vida sem medo à liberdade, a vida percebida
Naturalmente, como enfatizo nos meus textos publicados, desde o ano
2000 na coluna “Naturalmente”, no Jornal Olho Nu e, em 2008, no
título do meu livro “Naturalmente, Um Perfil Documentado”, Editora
Livre Expressão, apresentação do meu ilustre amigo Pedro Ribeiro,
atual presidente da FBrN, da qual faço parte, inclusive, como membro
do Conselho Consultivo. Viver naturalmente é, pois, um aprendizado,
que o tempo enseja e reafirma.
(enviado em 8/03/17 por
Paulo Pereira)
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