Dezoito bailarinos entram em cena, todos nus. Por uma
hora e meia, nove homens e nove mulheres de 22 a 51 anos
dançam à exaustão, começando em passos lentos e
alcançando picos de um ritmo ensadecido de uma mistura
musical que inclui rock n’roll. O polêmico espetáculo “Tragédie”,
de autoria do coreógrafo francês Olivier Dubois, será
apresentado no sábado 12, no Rio de Janeiro. Antes de
chegar por aqui, o número enfrentou represálias. Na
França, representantes do partido de extrema-direita
Frente Nacional tentaram impedir a apresentação. Em
Israel, houve pedidos de interdição do espetáculo e a
Ópera de Tel Aviv retirou o nome da parceira. Em
entrevista à ISTOÉ, Dubois, que pela primeira vez
apresenta uma obra no Brasil, diz que a nudez não deve
ser vista como um evento ou um atrativo por si só, mas
como uma forma de atentar para a condição humana de cada
um.
O dramaturgo afirma que o espetáculo atinge um ponto
onde as roupas não fazem mais diferença, quando se
testemunha o desaparecimento das identidades e dos
gêneros. “O que resta são pranchas de carne, como placas
tecnônicas. Pele que ganha espaço para cobrir o mundo.”
A função principal da nudez, segundo o coreógrafo, é
demonstrar como somos iguais. “Essa posição nos permite
lembrar que a primeira lição, quando alguém observa a
humanidade, é anatômica.” Segundo ele, há um único e
contínuo gesto durante o espetáculo, que é a caminhada.
“Corpos se deslocam como ondas, em um ir-e-vir que se
acelera.” Sua intenção é que a audiência seja embalada
por som e luz, enquanto os corpos permanecem martelando
e batendo o chão. Dubois está ansioso para conhecer a
reação dos brasileiros.