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Jornal Olho nu - edição N°167 - Outubro de 2014 - Ano XV

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Reflexão de Primavera

Por Paulo Pereira*

Parece que nuvens cinzentas ainda persistem nos céus dessa primavera, o que não constitui propriamente uma novidade, mas, por certo, inquieta. Leio, atento, as palavras de Artur Xexéo, Segundo Caderno de O Globo (01-10-2014), sobre possíveis descaminhos da cansativa campanha eleitoral e, já no título, contata-se a inadequação do momento que vivemos: “Homofobia e Mau Humor na Campanha”... Fala-se, de resto, em mudanças, mas a mesmice burra permanece... Xexéo anota: “Há alguma coisa errada na campanha eleitoral quando de um debate realizado uma semana antes do dia das eleições o que fica são as declarações desastrosas de Levy Fidelix”. Xexéo declara que a fórmula dos debates eleitorais já está esgotada, e eu até diria que esse esgotamento vai bem mais longe, se conseguirmos perceber melhor as mensagens e propostas (?) dos principais candidatos. Xexéo arremata: “Aécio e, principalmente, Dilma e Marina parecem acreditar que bom humor é sinônimo de incompetência, quando, na verdade, mau humor é sinal de ranzinzice; quem quer um presidente ranzinza?” Irretocável! Façamos nossa reflexão. Mas é importante, aqui e agora, falarmos, uma vez mais, de ignorância, de intolerância, de protagonismo vazio. Enfatizo em cores vivas o que eu coloquei no meu livro “Sem Pedir Julgamentos, Conforme a Natureza”, pois é indispensável que busquemos um índice elevado de qualidade de vida, certamente sem os fariseus de sempre, sem a dita ranzinzice nauseabunda.

O falado Fidelix, talvez fiel a medos e anacronismos, como escreveu Artur Xexéo, teria dito algumas “joias”: “Aparelho excretor não reproduz. Vamos ter coragem. Nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Não tenha medo de dizer que sou pai, mamãe, vovô, e o mais importante é que esses que tem esses problemas realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, bem longe mesmo porque aqui não dá”... Sem lógica, sem conteúdo respaldado, homofóbico, doente, burro. Mas tem gente que gosta... A mesmice da ignorância salta aos olhos, agride o bom senso e despreza a verdade científica, o conhecimento comprovado. A mesmice da intolerância misturada à mesmice do protagonismo vazio, e ao mau humor desconstrutivo dos candidatos à presidência. Até quando? Afinal, será que estamos nos acostumando, de forma alienada e perversa, ao chamado “samba do crioulo doido” do velho Ponte Preta?...

Política não é politicagem. Mas, como afirmei no meu livro, é mister procurar a boa reflexão, a melhor percepção em vez do simples olhar míope de sempre. A natureza nos ensina a não prestigiar as fobias, os dogmas, os ditos pecados, a hipocrisia, os pudores repetidos. A natureza nos mostra o caminho sem atalhos espinhentos, sem delírios, sem epifanias, sem julgamentos. E, talvez por isso, a nossa mãe natureza continua sendo agredida, menosprezada, desconsiderada em nome de fantasias lucrativas, como leio igualmente na página “Sociedade – O Globo – 01/10/2014”, sob o título de “Vida silvestre diminui 52% em 40 anos”, da autoria de Renato Grandelle. E os nossos ilustres candidatos xingam-se, agridem-se verbalmente, prometem utopias, mas elegem um silêncio cúmplice diante da destruição ambiental. O conhecido “Relatório Planeta Vivo – 2014”, divulgado pelo WWF denuncia que 52% dos animais silvestres se perderam desde 1970. Grandelle escreve: “A destruição da biodiversidade está aumentando exponencialmente, alerta Jean François Timmers, superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil. A indústria e a exploração insustentável de commodities dominam regiões do mundo inteiro, do fundo do oceano ao Ártico. Os animais que são indicadores da saúde dos ecossistemas estão desaparecendo”.

O desmatamento criminoso, as queimadas sistemáticas, a exploração descabida de caça e pesca, o desrespeito às terras indígenas, enfatizo, tornaram-se triviais nesse país incoerente. O artigo de “O Globo” ressalta que a redução mais dramática da biodiversidade foi na América Latina: uma queda de 83%... Um absurdo! A nossa bela e brava onça pintada, inclusive modestamente homenageada por mim na capa do meu livro “Sem Pedir Julgamentos”, símbolo da nossa biodiversidade, está seriamente ameaçada de extinção, a exemplo do que já ocorreu com inúmeras espécies notáveis que já estão extintas. E tudo isso sem que possamos nos esquecer dos povos das florestas, das várias tribos indígenas igualmente extintas (como aconteceu com os dignos e valentes Tupinambá)...

E, ainda hoje, em pleno século XXI, ficamos assistindo a debates ranzinzas e demagógicos para efeitos eleitorais... No fim, com um ou dois turnos, mais o mesmo do mesmo, a vida violentada, a liberdade ameaçada, perseguida, o sexo e a nudez, por exemplo, balizados por portarias hipócritas, por neuróticos ignorantes. Há, atuantes, muitos alienados, desfocados, que tem medo da liberdade, como nos ensinou sabiamente o notável Erich Fromm. Intolerâncias, preconceitos, egoísmos, artificialismos, protagonismos vazios, desconstruções, agressões aos próximo e ao meio ambiente... Essa primavera pede, mais uma vez, uma profunda reflexão, na busca de um viver mais natural e mais feliz.

P.S.: Quando, no Brasil, serão tratados com inteira seriedade, e objetividade, temas importantes, como o do índice de respeito aos idosos, a questão da maioridade penal, a qualificação efetiva da educação laica, gratuita e geral, a criminalização do racismo e da homofobia, a assistência médico-hospitalar para todos, com dignidade, a preservação e o manejo sustentáveis do meio ambiente?... Não precisamos trocar de nomes, mas sim de mentalidade, de foco, de prioridades. Em vez de tagarelice meio inconsequente, um pouco mais de reflexão e de silêncio nobre.

(enviado em 13/10/14 por Paulo Pereira)


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