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Jornal Olho nu - edição N°159 - Fevereiro de 2014 - Ano XIV

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Nudez e Vergonha

por Aguinaldo da Silva*

 

Por que nossa sociedade recrimina a nudez? A resposta a esta pergunta passa pela observação histórica das sociedades. Quase todos os povos adotaram a indumentária como forma de proteção do corpo diante da variação climática e de outros agentes agressivos. Não só para proteção, mas a certa altura do desenvolvimento social as roupas acabaram se tornando num instrumento de rotulagem social.

 

Com o surgimento da estratificação social, a roupa acabou caracterizando o statu quo, ou o nível de autoridade e importância do indivíduo dentro de uma sociedade. Esta convenção está arraigada em nossa sociedade, sem perspectiva de mudança, pois a indumentária se tornou um item de sofisticação agregador de prestígio. Portanto para a grande maioria das pessoas, a renúncia de toda ostentação exterior passa a ser descabida ou vergonhosa.

 

No decorrer da história de nossa civilização, andar nu passou a ser sinal de extrema humildade ou símbolo de falta de recursos, sendo as vezes imposta como forma de humilhação. Isto é o que vemos na história de povos antigos. Na Bíblia em diversos momentos há esta conotação. O profeta Isaías, por ordem divina, andou três anos nu e descalço, prevendo com este gesto a subjugação do Egito e o cativeiro iminente daquele povo pela Assíria.1

 

Esta expressão da nudez se manteve até a Idade Média, mudando um pouco sua conotação por influência da teologia agostiniana. Contudo, anos mais tarde as obras de arte renascentistas exaltam a nudez, como é o caso dos afrescos de Michelangelo feitos nas capelas do Vaticano.

 

A idéia de luxúria e pecado vinculada à nudez aparece anos mais tarde em grupos puritanos. Na Inglaterra a era Vitoriana foi caracterizada por moralismos, com preconceitos rígidos e proibições severas.

 

A ideia de nudez como forma de lazer ou simplesmente em assim estar, que é a base do naturismo/nudismo é recente em nossa civilização. Surgiu na Alemanha no início do século passado, portanto fruto da cultura ocidental, européia e cristã. O nudismo surge como uma manifestação legitimamente humanista, pois a priori não há uma busca de confrontação ideológica, ou que busque defender uma causa, seja esta de conotação política, religiosa ou ateísta.

 

Dentro deste escopo, o nudismo também pode manifestar o desejo de liberdade em relação à sexualidade ostensiva, tendência que vem se disseminando na sociedade com o auxílio da mídia. Uma busca por se desvencilhar da tirania da sensualidade, que escraviza a certos padrões de comportamento.

 

O estilo de vida naturista promove a dignificação do corpo, acabando com a vergonha e o incômodo moral associados a nudez. Esta realidade só é possível com a consciência dirigida a tal propósito, que com o passar do tempo vai se tornando mais natural e espontânea.

 

Podemos dizer também que o referido estilo de vida remete a uma busca constante por equilíbrio, com base num código de ética, sem o qual o tornaria utópico ou inviável.

 

1. Livro de Isaías, capítulo 20, verso 2 a 4.

 

*Teólogo e escritor

aguinaldodasilva@yahoo.com.br

 

(enviado em 5/02/14 por Aguinaldo da Silva)


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