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Jornal Olho nu - edição N°151 - Junho de 2013 - Ano XIII

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Terceira manifestação pela liberdade de nudez, no Ibirapuera.

por Richard Pedicini*

Imagens: André Sodré**

 

Reunindo sob a bandeira de paz

Uns poucos raios de sol penetraram até o parque do Ibirapuera para a “ManiFESTAção pela LIBERDADE da NUDEZ 3!!!” no dia 30 de maio, mas o ar continuava frio, e o chão molhado. Quem chegou na hora marcada encontrou uma cena pouca promissora. Enquanto umas 300 pessoas tinham confirmado presença pelo Facebook, no horário marcado menos de 20 pessoas estavam no grupo da palmeira onde o ato anterior aconteceu sob o sol de fevereiro.

 

O organizador Alfredo, com sua floresta de barba devastada (não por fazendeiros faciais, mas para adequar o visual ao seu papel num filme), disse que o propósito era de um papo, de “trocar idéias sobre a liberdade da nudez”, e disse que não deu tempo para viablizar a possibilidade que ele postou online, “Estou agitando de levar uns lambe-lambes do Banco Mundial da Genitália, daí se estiver frio a gente coloca as fotos dos genitais na frente das roupas ...”

 

Dias antes em São Paulo a “Marcha das Vadias” levou centenas de mulheres da Avenida Paulista à Praça Roosevelt. Foi lembrado que aquele evento cresceu, mas também começou pequeno no Brasil, com poucas pessoas.

 

Urucum

Pessoas continuavam chegando, e uns chegaram de longe. Vagner era da capital, e veio assistir a manifestação que “vi no Face. Eu apoio, e o nu pode ser artístico também, no teatro, na TV.” Com dez anos de teatro, ele já fez peças de Plínio Marcos como “Querô”, e o próximo será “Homens de Papel”.

 

Profissionais do nu

 

O modelo vivo Fidel já trabalhou em Washington, e notou que ser brasileiro era vantagem no ramo por lá, “Minha cor é boa para trabalhar como modelo vivo. Eu era o único Latino,” e tinha poucos homens, mulheres eram bem mais comuns. Destacou uma vantagem da profissão, “Pagam dinheiro vivo na hora.”

 

Enquanto esperam, tocam flautas...

Fidel veio de Belo Horizonte junto com sua amiga Frances, também modelo, que estava de cabelo fortemente vermelho, lábios negros e luvas de oncinha. “Eu sempre mudo a aparência, para que os artistas pintores não fiquem acostumados. É um fator a favor,” Frances contou. Ela tinha trabalho na cidade, mas foi por causa da manifestação que veio. Ela confirmou a preponderância de modelos femininos, dizendo que há três para cada masculino. Porque há mais demanda para mulheres? “São as curvas. Mulheres são mais difíceis de serem traçadas por terem mais curvas. O homem é mais quadrado.” Freelancer, só está seis meses trabalhando como modelo vivo, na faculdade UEMG Escola Guignard. [link:http://www.uemg.br/unidade_guignard.php] Todos os modelos da faculdade são profissionais, e ela não sabe se já tentaram usar alunos como modelos. No começo do semestre ela tem mais trabalho, até oito aulas por semana, mas agora no final do semestre está em volta de três aulas por semana.

 

Apesar do frio, pouco depois das 16:30 há quatro pessoas sem roupas, e duas tocando flauta. Em total há sete sentados em roda, passando de mão em mão uma garrafa de vinho “Periquita”.

 

A manifestação já está atraindo espectadores entre os frequentadores do parque. Três jovens vierem de uma pelada, quando avistaram a manifestação. Enquanto Paulo Roberto, 16 anos, olha e conversa, seus pés continuam batendo a bola. Não sabia do evento, e não pretendia participar: “Tirar roupa, tá maluco? Não consigo.” Mas está a favor de mulher pelada no parque. Seu amigo Clayton, uns poucos anos mais velho, concorda, mas emenda, “Homem, menos”. No balanço, concordam que o evento é “Muito legal”.

 

Roda, roda

 

Posando para a mídia

Dez pessoas posaram para os fotógrafos, abraçados na grama molhada do parque, nove delas peladas e uma vestida. O total de participantes tinha crescido a 27, apesar do tempo piorando.

 

Além dos espectadores, aparecerem guardas do parque. Leandro informou que, “Até o momento, creio que não houve reclamações.” Um pequeno grupo de adolescentes brincando de futebol olharam enquanto passaram, mas nem diminuíram os passos. Continuaram no caminho.

 

Como na segunda ManiFESTAção, houve uma roda de dança, mas não havia gente suficiente para que o círculo pudesse incluir as palmeiras. Sete pessoas, com listras vermelhas de urucum nos rostos, cantaram “Tupi, ou não Tupi” e giravam, enquanto meia-dúzia de fotógrafos profissionais clicaram e filmaram.

 

Rodando a roda

Os guardas, cujo número chegaria a nove até o final da dança, se vendo sem necessidade de guardar, também sacaram máquinas fotográficas ou celulares. “Hoje não tem muita gente, porque muitos emendaram o feriado,” informou a guarda Bruno, que chegou a manifestação de bicicleta. “Trabalhar de bicicleta é melhor, porque o parque é grande”.

 

Gravando a dança com um laptop Apple, para colocar no seu canal W8TV no YouTube, era Willians Queiroz, assistido pelo seu filho de 13 anos, João Vitor, que prestou mais atenção aos equipamentos do que às mulheres peladas.

 

André, fotógrafo amador que “veio pelo evento pelo Facebook”, disse que tirou 30, 40 fotos, que “vão para Facebook.” Ele só fez uma reclamação do evento, “As fotos teriam ficado melhores com sol.”

 

Fiéis e arco-íris

 

Miriam também estava presente em fevereiro, e achou que , “Teria sido melhor com mais pessoas”. Ela gostaria de “transformar parte do parque do Ibirapuera em área de naturismo, de nudismo, tomara que dê certo.”

 

Alfredo e Rudy do Rainbow Family

Uma figura que remetia a época hippie era Rudy, de 23 anos dos quais sete no Brasil. Alemão como mãe suíça, ele é músico e criador de eventos, mas acha que é mais fácil ganhar a vida com arte em outros lugares, porque “pessoas não tem o mesmo respeito pela arte no Brasil”. Rudy faz parte do “rainbow family”, que tem muitos adeptos no Brasil e que não tem organizadores, e disse que veio “trazer a luz para a família Rainbow no Brasil.” Ele confirmou que ficar pelado em parque é mais comum na Alemanha, e ele já participou de naturismo, inclusive onde mora em Mangaratiba no Rio de Janeiro. Também conhece a Praia de Abricó, dizendo, “sete anos é muito tempo, dá para ver muita coisa”.

 

Pacificando o sistema

 

Alfredo sumarizou o evento para Jornal Olho Nu, “Quinze pessoas, poucas dezenas de aglomerados, que se encontram num parque num feriado. Atrair tanta mídia, motivar tanta opinião, criar tanto furor, sem que ninguém seja uma personagem, sem uma pessoa famosa? Somos pessoas fazendo um encontro, como tantos. É apenas pela presença da nudez.”

 

“Nudez atrai um atitude de esconder. Até quem tem liberdade para ficar nu, fica escondido. Aqui com a presença da polícia próxima, a gente trazer também isso, de não esconder. Alguns grupos naturistas acham a gente irresponsável. Isso prova a responsabilidade. Fazendo com segurança, pacificamos o sistema.”

 

Veja o vídeo de Willians Queiroz

 

Na mídia: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia

 

*Richard Pedicni é jornalista

richard.pedicini@gmail.com

**As fotos de André Sodré

estão disponíveis no Flickr.com


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