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Jornal Olho nu - edição N°148 - Março de 2013 - Ano XIII

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A Dignidade no Naturismo

por Aguinaldo da Silva*

 

Uma das questões que vem à tona ao se falar em nudez social é quanto a dignidade de assim se portar. Em nossa sociedade, se atribui status pelo uso de certos objetos, tais como as roupas, que além de proteção, proporcionam ostentação e prestigio. Já a nudez, pura e simplesmente, mostra o indivíduo como é. Não mostra o nível sócio econômico, ou o status quo, mostra o homo sapiens na sua forma natural.

 

Numa época em que se valoriza os rótulos, as marcas e não a essência, andar nu parece ser uma ofensa a dignidade e a honra pessoal. O que vão dizer as pessoas da minha rua, da minha escola ou da igreja que frequento? Esta é a preocupação de muitos que se deparam com a possibilidade de praticar o naturismo. A impressão de que isto seja um risco à honra tem levado muitos a descartarem a nudez como uma forma de estar. Mas as impressões geralmente são oriundas do mundo imaginário e não do real. Por isto nossos referenciais de verdades e valores devem vir da ponderação racional e lógica.

 

Ao termos vergonha de nos portar nu, estamos considerando nossa forma física imprópria, deselegante ou altamente tentadora. Mas afinal, por que deveríamos nos envergonhar do que realmente somos? Por sermos sexuados? Ou porque a nudez mostra detalhes, como rugas e cicatrizes? Ou porque não somos todos iguais, mas temos peculiaridades físicas?

 

Uma das razões pela qual deveríamos valorizar a forma física humana é o fato de sermos feitos, segundo a Bíblia, conforme a imagem do Criador. O grande Artista não se envergonhou de nos ver nus. E ainda considerou sua obra muito boa.1 Quando exigimos que esta obra esteja permanentemente coberta não estaríamos desprestigiando uma parte da Criação divina?

 

Sobre a questão de sermos sexuados, muitos alegam a inadequação da nudez pelo risco moral ocasionado. Esta noção geralmente decorre da ideia infundada de que o naturismo proporciona um ambiente lúbrico. No demais, a censura da genitália vem de certas pressuposições e impressões morais adquiridas nos primeiros anos de vida. Por que deveríamos ter vergonha de nossos órgãos sexuais? Estes são tão importantes quanto os demais para a manutenção da vida, nos dando a capacidade de procriação.

 

Outra pergunta é: por que temos que esconder nossos “defeitos” físicos , tais como rugas e cicatrizes? Estas são marcas que a vida nos dá. Teríamos de nos envergonhar destas marcas que indicam nossos riscos, fatalidades e finitude, que como seres humanos estamos submetidos? Se nossa forma física tivesse relação direta com nossas fraquezas ou defeitos de caráter, aí sim deveria ser escondida. Ao se contemplar um corpo em estado natural (não insinuante) não se percebe intenções, traços de caráter ou as características da personalidade. E as roupas em nada mudam a essência de cada um.

 

Outra questão, que diz às peculiaridades físicas, estas existem por sermos naturais. Na natureza é assim, vemos diferenciação nas formas. As pedras, as árvores e mesmo os animais tem suas peculiaridades diferenciadoras. É no conjunto de formas, cores e tons que está o belo. Já pensou se todas as pedras fossem quadradas ou redondas, com a mesma simetria e tamanho? Se todas as árvores tivessem o mesmo formato de tronco ou coloração das folhas? Seria no mínimo, um mundo chato ou monótono. Nosso Criador fez a diversidade para que o mundo fosse completo. Ademais, quando estão todos juntos nus, se atenua as diferenças, parecendo todos iguais, talvez por estar evidenciado algo em comum: nossa humanidade.

 

A nudez, pura e simplesmente, não assume valor moral, ela é neutra. Eu tanto posso me portar indecentemente nu ou vestido. Se em nossa sociedade muitos usam a nudez para realizar suas fantasias e depravações, não é por isto que a visão do corpo deva ser vetada. O fato de muitos morrerem pela boca não obriga que toda comida e bebida seja ocultada da visão. Aos intemperantes, bem como aos pervertidos, se recomenda educação. Esta trata não só de transferir informação mas de conduzir à maturidade.

 

No naturismo há dignidade, porque envolve uma consciência de respeito ao corpo e consequentemente ao ser humano em si. Esta consciência é reafirmada por um código de conduta mantido pelas entidades que o representam.

 

Para concluir, resta dizer que a dignidade se faz com atitudes e não com aparências formalmente produzidas. Nosso mundo está farto de rótulos, marcas, valores irreais, mas carente de verdade, de autenticidade. A dignidade não está na forma, mas na essência.

 

1 Gênesis capítulo 1, verso 31.

 

*Teólogo e escritor

aguinaldodasilva@yahoo.com.br


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