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Jornal Olho nu - edição N°146 - Janeiro de 2013 - Ano XIII

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A NATUREZA FILOSÓFICA DO NATURISMO

por Aguinaldo da Silva*

 

Apesar de o movimento Naturista existir há mais de cem anos, ainda encontramos pessoas perguntando se o ambiente comporta criança, família, se é livre a todos os públicos, etc. Ainda se tem dúvidas quanto a natureza filosófica deste movimento, muitos o consideram como uma vertente da contracultura.

 

O desconhecimento da formação histórica deste movimento e seu propósito talvez seja o maior entrave para sua popularização. A falta de espírito de pesquisa, investigação, é o maior responsável pela superficialidade cultural de nossa geração. Superficialidade esta que se estende a vários campos do saber, até a consideração do que é verdadeiramente científico foi afetado por esta onda de acomodação ao que é proclamado por uma elite, sem ser examinado a veracidade dos fatos.

 

Exemplificando o que estou tentando dizer: Galileu apresentou uma teoria revolucionária na época, porém suas proposições foram comprovadas como verdadeiras por vários meios de verificação e continuam inabaláveis até hoje. Ninguém escreve um livro com o título “A Caixa Preta de Galileu” ou “O Delírio de Galileu”.

 

Comparação entre genes homeóticos de Drosophila e ser humano nos cromossomos e na organogênese.

Fonte: http://www.teliga.net

"Estudos recentes tem levado os pesquisadores a discutirem até que ponto a seleção natural, gradual ou em saltos, tem de fato condições de explicar o surgimento de novas espécies. Foi descoberto que algumas espécies que surgiram há mais de 500 milhões de anos conservam até hoje algumas partes do material genético primevo. Um exemplo são os genes homeóticos, que indicam o desenho geral do organismo, como os lugares em que a cabeça e os membros se posicionam. Pesquisas feitas nos últimos anos mostram que animais tão diferentes quanto uma mosca de fruta e o ser humano mantiveram até hoje a mesma seqüência desse tipo de genes.1"

 

Contudo, o mais contundente são as recentes descobertas no campo da genética. No tempo de Charles Darwin se acreditava que o interior da célula vegetal ou animal era basicamente composto de uma gelatina muito simples. Com a descoberta do DNA se constatou que esta é muito complexa, que contém um intrigante sistema de informação minuciosamente detalhado e incrivelmente organizado.

 

Decifrando o código genétcio humano

Este fato tem levado grandes estudiosos a mudarem de posição, como é caso do Dr. Francis Collins. Este cientista se declarava ateu até participar do projeto Genoma (mapeamento genético humano), onde atuou como coordenador. A partir daí passou a ser teísta, escrevendo o livro “A Linguagem de Deus”.

 

O endeusamento da seleção natural tem levado a grandes equívocos não só no campo da ciência quanto no campo ideológico. A Eugenia, assim denominada por Francis Galton, que aplicando as noções de evolução e sobrevivência do mais apto, deu base a programas de esterilização em massa e limpeza étnica que acabaram sendo praticadas em larga escala pela Alemanha Nazista. O “darwinismo social”, termo criado pelo historiador americano Richard Hofstadter, foi desenvolvido por Thomas Malthus e Herbert Spencer aplicando as proposições de Darwin.2

 

Charge criticando o darwinismo social, pois na charge Charles Darwin não concorda em adaptar a sua Teoria da Evolução das Espécies à sociedade capitalista.
O Darwinismo Social foi empregado para tentar explicar a pobreza pós-revolução industrial, sugerindo que os que estavam pobres eram os menos aptos (segundo interpretação da época da teoria de Darwin) e os mais ricos que evoluíram economicamente seriam os mais aptos a sobreviver por isso os mais evoluídos.

Fonte: http://historiacolegiojk.blogspot.com.br

Talvez a motivação de alguns em dar status científico à uma teoria ainda não comprovada, possa ser ilustrada pela frase de Ivan Karamazov em Os Irmãos Karamazov, personagem de Dostoiévski : "Se Deus está morto, então tudo é permitido." 3

 

Pode ser atraente para alguns rumar para o niilismo, simplesmente virando a mesa das verdades e dos valores estabelecidos, mas isto não evidencia necessariamente evolução intelectual. Simplesmente abusar da subjetividade sem avistar um ancoradouro que justifique as prerrogativas propostas, serve para quem quer ficar andando sem chegar a lugar algum.

 

Toda filosofia, movimento cultural ou estilo de vida deve ser pautado pelo respeito, tolerância e consideração para com o ser humano. Isto, também vejo presente na filosofia naturista e deve ser seu lema para o êxito e preservação deste movimento.

 

Como participantes de um contexto cultural amplo e abrangente do qual somos agentes de constante transformação, acho cabíveis estas colocações não para sustentar um posicionamento, mas para abrir o campo de visão de muitos, que infelizmente se deixam guiar pelo que diz certo setor da sociedade, que por coincidência detém o poder da grande mídia.

 

Ser cidadão no mundo de hoje, globalizado e multicultural requer olhar atento. Não se pode tratar as idéias de forma inconseqüente, sem distinguir a natureza dos frutos. É fundamental distinguir nitidamente as proposições para que possamos melhor fazer nossas escolhas.

 

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1 Disponível em: <http://super.abril.com.br/cultura/ha-errado-darwin-442303.shtml> Acesso em: 01 dezembro 2011

 

2 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Darwin>

Acesso em: 10 dezembro 2012

 

3 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Niilismo>

Acesso em: 10 dezembro 2012

 

*Teólogo e escritor

aguinaldodasilva@yahoo.com.br


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