O ELO PERDIDO DO NATURISMO
por Evandro
Telles*
Algumas
pessoas que nunca tiveram experiências com o Naturismo me questionam:
Vocês chegam à praia ou sítio, tiram a roupa. Só isso? O pensamento já
está voltado para sexo, esse “só isso” é um vazio que o indivíduo sente,
está faltando alguma coisa. Justamente a importância de se criar esse
vazio que é preciso ser entendido. Somente uma nova mentalidade pode ser
criada se tivermos um espaço que nunca foi dado pela sociedade, ao
contrário, desde a infância fomos bombardeados na repressão ou numa
liberdade promíscua com relação ao sexo, raramente no seu verdadeiro
sentido.
Foi
comemorado no dia 06 de Setembro o “dia do sexo”. A data é celebrada
desde 2008, após uma ação de marketing do fabricante de preservativos
Olla e da agência Age, ambas americanas, novamente usando “sexo“ para
finalidades mercantilistas. Numa pesquisa rápida pela internet percebi
uma relação de abordagens a favor do sexo, muito interessante! Só faltou
o principal: “Sexo é a forma como a natureza te engana para preservação
da vida”.
O
Naturismo não é contra o sexo, simplesmente o coloca no sentido mais
natural, na fluidez da própria natureza, na beleza do encontro dos
opostos que se tornam um só, sem distinção, sem diferenças, numa
perfeita harmonia, que desafia qualquer orquestra harmônica porque até o
som que ouvimos depende dos neurônios cerebrais que acumulam informações
e valores individuais, ou seja, até o que escutamos podemos estar
enganados pela nossa própria natureza.
(1)
Até o que vemos com os nossos próprios olhos também nos engana,
“portanto, não enxergamos na essência da realidade física. Temos apenas
nossos experimentos, e eles nos dão uma imagem incompleta do que
ocorre.” (2)
Os
valores humanos são como uma escada de muitos degraus, o amor é luxúria
no degrau mais baixo como também é oração no mais alto. Na luxúria, o
amor equivale a apenas 1%; 99% são coisas como ciúmes, ilusões e
mal-entendidos, possessividade, raiva, sexualidade. O amor, nesse caso,
é mais físico, mais químico, não tem profundidade. É muito superficial,
não ultrapassa o nível da pele. Conforme os sentimentos vão ficando mais
profundos, ganham novas dimensões. O que era fisiológico começa a ter
uma dimensão psicológica. O que era pura biologia começa a se tornar
psicologia.
(3)
O
vazio criado pela simples nudez sem intenções pode provocar profundas
reflexões sobre o corpo e a forma como relacionamos com o mundo que nos
cerca. Além dos benefícios físicos da exposição ao sol já descritos em
outros textos, também encontramos no psíquico. Ora, esses benefícios são
para todas as pessoas sem excluir idade, sexo e raça, não é algo só para
adultos, o Naturismo é inclusivo.
Diversas áreas naturistas
têm aceitado pessoas vestidas desde que não se importem com a nudez dos
outros, até aí tudo bem desde que não se torne um hábito do visitante
continuar freqüentando seus recintos com roupas, Por quê? Em primeiro
lugar, porque é um espaço naturista e destinado para o exercício da
nudez social; em segundo, que considero o mais importante, não estamos
realizando para essa pessoa nenhum benefício psicológico, teríamos que
ajudá-la a vencer seus temores e fazer a travessia para os valores
naturais.
Às
vezes não sou bem interpretado com esse posicionamento. Não é uma
questão de radicalismo, nem mesmo de imposição à nudez. Mas se o
Naturismo não puder realizar mudanças individuais que proporcione
crescimento e uma postura diferente em relação ao próprio corpo, não
haveria nenhuma necessidade somente da minha nudez. Na verdade é algo
que precisa ser dividido e compartilhado, caso contrário torna-se um
comportamento egoísta.
Quanto
mais coberto o corpo maior é a curiosidade e assim favorecendo a
fantástica indústria do fetiche, cujo mercado vem crescendo muito acima
do número dos freqüentadores do Naturismo. Com toda infra-estrutura para
atender um público que dá retorno financeiro para os investidores.
(4)
A Pompéia destruída pelo vulcão Vesúvio foi reerguida, agora é esperar
que o Naturismo seja de fato uma utopia do século XXI. Talvez em alguns
anos estejamos procurando onde foi que erramos, onde está o elo perdido
de um estilo de vida rico na essência, mas perdeu para o materialismo e
suas ilusões.
Evandro Telles
10/09/12
www.evandrotelles.blogspot.com
(1)
Miguel
Nicolelis, Muito Além do Nosso Eu;
(2)
Marcelo Gleiser, A Essência da Realidade Física;
(3)
Osho, Meditação – A primeira e última liberdade;
(4)
www.administradores.com.br –
Mercado do
sexo: a fantástica indústria do fetiche