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Jornal Olho nu - edição N°141 - Agosto de 2012 - Ano XIII

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Nudez e Sensualidade:

Impressões e Realidades do Naturismo

por Aguinaldo da Silva*

 

Na mídia, em especial na Internet, 99,9% de tudo o que é veiculado envolvendo nudez é conteúdo que pode ser considerado erótico ou pornográfico. Isto acaba dando a impressão que é impossível desvincular nudez de sexo. Justamente esta é a idéia da maioria das pessoas e acredito que é nisto que reside a maior resistência das pessoas à prática do Naturismo.

 

img: arquivo JON

O fotógrafo Norte-americano Spencer Tunick esteve em São Paulo no ano de 2002 para fazer um de seus trabalhos com nudez coletiva

Outro dia, ao assistir um vídeo de um trabalho do fotógrafo Spencer Tunick, pude fazer uma constatação já percebida no meio naturista. As cenas mostravam um agrupamento de pessoas nuas ao ar livre, numa área pública, não para uma performance sexual, mas apenas para serem fotografadas. Mesmo que para alguns a cena possa ser considerada sensual, na realidade a impressão que tende a causar é outra.

 

Do grupo de participantes, alguns expressavam um pouco de tensão pelo cenário inusitado, outros estavam mais à vontade parecendo já acostumadas à nudez social, mas em geral o sentimento parecia ser de liberdade. Pessoas querendo ver a si e aos outros como são, livres do artifício das roupas e da impressão falsa que a mesma dá.

 

img: arquivo JON

O Parque do Ibirapuera foi o palco no Brasil

Ali não se criou um ambiente oportuno para a prática da sedução, ou mesmo ao exibicionismo, pois todos estavam simplesmente nus, sem adereços, enfeites, fetiches, etc. Havia pessoas de várias idades e formas físicas diferentes, todos juntos, compondo uma massa de corpos humanos. Mesmo que ali estivesse uma beldade, era apenas mais uma pessoa na multidão.

 

Ao observar este evento pude refletir sobre como surgem as impressões e as associações que usamos para caracterizar sentimentos, valores e idéias. Por um momento, as pessoas do episódio narrado transmitiram a idéia de que é necessário muito pouco para ser feliz. Que criamos máscaras para nossas fantasias e depois nos condicionamos a elas. Que a vida seria muito mais fácil e simples se quiséssemos de fato.

 

img: arquivo JON

O editor do Jornal OLHO NU participou deste evento inesquecível

Geralmente nos deixamos levar pelo que está à primeira vista ou a impressão que formamos a partir dos nossos conceitos ou preconceitos. Quando se fala em nudismo/naturismo é comum se ouvir algo associando à indecência ou ao erotismo. Uma falsa impressão que pode ser debelada apenas pela experiência prática. Geralmente quem desconsidera o Naturismo como estilo de vida nunca foi a uma área naturista. É a impressão rotulando, criando conceitos à priori. Na minha infância, minha mãe sempre dizia: “Meu filho, não despreze a sopa sem experimentá-la.” Geralmente eu estava errado e a sopa estava boa, hoje sou um apreciador de sopa. Este é um bom exemplo para ilustrar o que não se explica muito bem por palavras.

 

É muito forte a influência de um costume ou tendência popular sobre nossas escolhas. Especialmente quando esta tendência é potencializada por um veículo de comunicação em massa. Mas devemos encarar e deixar fluir as coisas como são. Se há a tendência de pôr ou ver erotismo em tudo, devemos encarar isto como um artifício, um vício da sociedade, e não a realidade dos fatos à luz do bom senso e da racionalidade.

 

*Teólogo e escritor

aguinaldodasilva@yahoo.com.br

 

Veja a matéria sobre a sessão fotográfica realizada por Spencer Tunick em São Paulo, publicada pelo jornal OLHO NU em maio de 2002


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