') popwin.document.close() }

Jornal Olho nu - edição N°136 - março de 2012 - Ano XII

Anuncie aqui

O Encontro da fraternidade

texto e imagens: Pedro Ribeiro*

 

Horcón é uma vila de pescadores, usada intensamente para férias de veraneio pelo chilenos, situada na direção norte de Santiago, nas margens do oceano pacífico. Foi nesta tranquila região chilena onde ocorreu o Quarto Encontro Latino Americano de Naturismo, entre os dias 3 e 5 de março passado, mais precisamente na Playa Luna, a única praia naturista de todo o Chile, distante 4 quilômetros do centro da vila. Na praia aconteceram os eventos diurnos, e no camping onde ficaram os motor homes estacionados aconteceram os noturnos.

 

O camping onde ficou a maioria dos participantes inscritos é bem distante da praia Luna e não era naturista.

O camping está situado sobre as montanhas a cerca de três quilômetros da Playa Luna, a qual é alcançada por uma trilha bem íngreme, ou por uma estrada um pouco menos inclinada, mas com muitas voltas, o que aumentava ainda mais a distância. O sinal de Internet era quase nulo e foi impossível manter as informações e comunicações atualizadas com os meios de comunicação naturistas presentes no evento.

 

Os tão aguardados motor homes que saíram do Brasil na segunda-feira anterior e atravessaram o Uruguai e a Argentina, até alcançar o povoado chegaram com mais de vinte e quatro horas de atraso, provocando alterações na programação prevista. Os aventureiros que dessa forma chegaram ao ELAN ficaram sem meios de informar aos organizadores do evento as dificuldades que enfrentaram no caminho, deixando todos preocupados. O primeiro dos carros somente chegou no camping à meia-noite de sexta-feira, e os outros dois no sábado em torno do meio dia.

 

O caminho até a praia era longo e em alguns pontos dificultoso. Na foto René e Franco, enrolado na bandeira brasileira.

Na tarde de sexta-feira o ELAN começou oficialmente, mesmo sem a presença dos outros brasileiros, com exceção de mim mesmo. A ida do camping até a Playa Luna não chegou a ser um desafio, mas é uma boa caminhada. Da trilha na borda do costão dá para ver o infinito oceano Pacífico em seu azul escuro e também toda a extensão da praia de areia escura e poucos frequentadores, os quais da distância não se definia se estavam nus ou vestidos.

 

A Zona Nudista da Playa Luna tem cerca de 800 metros de extensão. É área de proteção ambiental e é berçário e moradia das centenas de gaivotas que povoam o local. O nudismo não é obrigatório e confesso que não tinha grandes expectativas em relação ao Naturismo na praia por causa disso.

 

A praia tinha cerca de vinte pessoas, das quais umas quinze estavam totalmente nuas. O pessoal de apoio começou a construir os detalhes do evento: uma tenda onde haveriam as palestras. Há duas construções na areia, na verdade são os banheiros, um exclusivamente para urinar e outro para..., bem, o resto. Também foi montada uma pequena cabana onde havia aplicação de massagem reiki e uma barraca para venda de bebidas e empañados.

 

Esta pequena placa  colocada na encosta indicava o início da praia naturista.

Aos poucos começou a aumentar o número de frequentadores e uma coisa já me chamou atenção: a maioria era de jovens. René Rojas, o presidente da associação naturista chilena, estava à frente dos trabalhos de organização. O Sol estava muito forte, aliás, não havia qualquer nuvem no céu e a vegetação demonstrava que fazia muito tempo que não chovia. No entanto ventava bastante. Se acaso quisesse se proteger do sol e fosse para uma sombra sentia-se frio. A água do mar estava de um frio gélido, maltratando o corpo. Mesmo assim havia aqueles que se aventuravam ao mergulho.

 

René Rojas, presidente da única associação naturista do Chile foi quem organizou o IV ELAN.

O Chile está em horário de verão, que não acaba no mesmo dia em que ocorre em nosso país. Portanto havia sol até às 8 e meia da noite, que faz a permanência na praia bem proveitosa. Por volta das 17 horas, René deu início ao Encontro, anunciando algumas das atrações previstas. Explicou que ainda faltavam os brasileiros a chegar. Logo então convidou o sexólogo Christian Thomas Torres para a palestra com o tema Sexualidade e Naturismo.

 

Torres explicou que a sexualidade é inerente ao ser humano, mais ainda, em todo ser vivo, o que não significa implicitamente que o sexo é feito a todo momento. Afirmou que o ser humano criou regras de comportamento sexual que mudam, inovam ou retornam através dos séculos. O aceitável e o não aceitável depende da sociedade constituída em cada época e que não tem cabimento comparações do tipo que "antigamente era melhor, ou mais educado", porque o comportamento é estritamente ligado àquela organização social e a aceitação ou não vem desses parâmetros sociais.

 

O sexólogo Christian Torres palestrou sobre o tema "Sexualidade e Naturismo"

Destaca que o Naturismo representa um avanço social dentro da sexualidade humana, mas que ele deve ser levado inteiramente pelo código de ética que o define. Deve haver uma luta constante para que não seja deturpado por outras vias de comportamento incompatíveis com sua filosofia. Exalta para que os frequentadores das áreas naturista fiscalizem o cumprimento dessas regras sob pena de perder espaços conquistados. Cita exemplos de mulheres que foram molestadas na praia e se retiraram sem dar queixa aos organizadores, deixando o molestador à vontade para outros ataques. Diz que esses tipo de atitudes, tanto do molestador quanto do molestado, atrapalham o Naturismo.

 

Franco foi um dos que participou ativamente do debate com Torres

Em seguida um debate tomou conta da assistência, que contava com cerca de 25 espectadores. Houve grande polêmica pelo pedido da retirada da praia de um frequentador que foi identificado como molestador, servindo até, não intencionalmente, como exemplo prático do que se estava falando. Ao final o sexólogo foi muito aplaudido e disse que se sentiu satisfeito com o resultado da palestra, justamente por ter servido como um despertador para alguns naturistas.

 

Torres trabalha na Universidade de Valparaíso e na Universidade das Américas, além de uma clínica de sexologia, o Centro de Estudos de La Sexualidad Chile, em Santiago. A página na Internet é www.cesch.cl e seu e-mail de contato cthomas@cesch.cl.

 

O primeiro motor home brasileiro a chegar foi o que trouxe os naturistas da região centro-oeste

As outras atividades da tarde foram o jogo de vôlei e muito bate-papo de confraternização. À noite o jantar programado na tenda do camping foi atrasado o máximo possível porque veio a notícia que finalmente um dos motor homes brasileiros estava chegando.

 

O primeiro veículo a chegar foi justamente o que saiu de mais longe. Saiu do Paraná com o pessoal de Goiás, Brasília e até de Santa Catarina. Neste estavam os ex-presidentes da FBrN Elias Pereira e José Tannús. Era já bem próximo da meia-noite. Contaram que tiveram problemas na aduana na fronteira entre a Argentina e o Chile, por causa da comida que carregavam para consumo próprio, proibido de entrar no Chile. Neste momento perderam o contato com os outros ônibus, mas sabiam que eles estavam ainda retidos.

 

A manhã de sábado serviu para os recém-chegados pudessem fazer novas amizades

O jantar foi uma mariscada à moda chilena à volta da fogueira, que aquecia a noite fria, ou dentro da tenda. A área do camping não é naturista, mas mesmo que fosse o frio da noite de verão teria desanimado a prática do nudismo. Após o jantar foi festa com muita música chilena e brasileira, com muita animação e dança com novos passos sendo aprendidos e ensinados. A festa foi até as três horas da manhã.

 

O sábado amanheceu tarde. Por volta das 8 horas é que começa a clarear. A manhã acorda preguiçosa ainda sem informações sobre os outros dois motor homes. As tentativas de conexão pela Internet foram fracassadas. Não há sinal.

Os outros motor homes foram recebidos de maneira bem festiva

Por volta das dez da manhã veio a informação que eles se aproximavam e um pouco antes do meio dia chegavam finalmente o restante da tropa brasileira. Nestes últimos veículos chegaram o presidente da FBrN, João Olavo Rosés, o vice-presidente, Marcelo Pacheco, Glacy Machado, autora do Blog da Glacy, Alex de Souza, vice-presidente da SONATA, Carina Moreschi, editora da revista Brasil Naturista, entre outros naturistas anônimos completaram o extraordinário número de 41 brasileiros presentes neste evento internacional.

 

Após a chegada todos foram cadastrados e receberam camisetas comemorativas, crachás e  pulseiras de identificação

A chegada foi festiva e deixou a todos aliviados. Logo os recém-chegados foram cadastrados, pagaram a taxa de inscrição de Us$ 60, ganharam a camiseta oficial do evento e a pulseirinha verde que identificava os participantes.

 

Depois foi hora dos novatos conhecerem a área. Muitos se frustraram pela condição não naturista do camping, que no momento era iluminado por um sol abrasador. A caminhada até a praia também foi motivo de insatisfação de alguns, por causa da dificuldade da trilha, o que impossibilitou alguns naturistas com dificuldade de locomoção alcançarem a área oficial do Encontro.

 

A praia estava surpreendentemente "lotada". Noventa por cento das pessoas estavam nuas, que para mim foi outra surpresa, por causa do caráter não obrigatório do nudismo. E mais uma constatação confirmava a percepção de ontem, a grande maioria era de jovens, uma média de 25 a 30 anos, coisa escassa no Naturismo brasileiro, muitas mulheres e famílias com filhos pequenos e, mais raro ainda no Brasil, adolescentes. Estes números também foram surpreendentes na opinião de alguns frequentadores habituais da praia. Acreditam que foi a divulgação do encontro que tenha trazido tantos novos visitantes. O mar continuava gélido, mas o vento frio que soprava na sombra no dia anterior estava bem mais agradável.

 

Marcelo Pacheco, Elias Pereira, José Tannús, João Rosés e René Rojas abriram oficialmente o IV ELAN

Por volta das quatro da tarde foi feita a abertura oficial do evento por René Rojas, que convidou o presidente da FBrN para falar ao grande público presente. No seu discurso Rosés elogiou a calorosa recepção dos chilenos e ressaltou a importância do Encontro para a implementação e o desenvolvimento do Naturismo na América Latina. Convidou para darem suas palavras Elias Pereira, delegado da INF para o desenvolvimento do Naturismo na América latina, Marcelo Pacheco e José Tannús.

 

Norberto Barcellos, que foi ao evento em uma das caravanas, representou o grupo Naturismo Capixaba

Norberto Barcellos, representante do Naturismo Capixaba, trouxe a mensagem do seu grupo ao evento, a qual não foi lida, mas destacou a importância para o naturismo Chileno da leitura do livro de Evandro Telles, "As Verdades que as roupas escondem" - à venda na loja virtual jornal OLHO NU -, como sugestão para que pudessem aprofundar seus conhecimentos a respeito do Naturismo. Depois René Rojas me convidou para dar uma palavra ao público, como representante da Associação Naturista de Abricó e do jornal OLHO NU. Ressaltei a importância do evento e da grande amizade que tenho por ele, com o papel de destaque que ele tem no Naturismo Chileno e por sua garra e determinação neste campo. Elogiei seu empenho em realizar o evento, mesmo sem recursos financeiros e quase nulo apoio institucional.

 

Estavam presentes representantes do Naturismo da Argentina e do Uruguai, além de Gian Franco, da Itália.

 

O casal de terapeutas fez palestra sobre o tema "O casal e o naturismo"

Após os discursos João Olavo sugeriu a organização de um grupo de trabalho para discussão de temas de interesse do Naturismo com ideias que pudessem incentivar o crescimento do Naturismo nestes países que já possuem grupos representantes. O trabalho não foi realizado. Mas ficou encaminhado que o próximo encontro latino americano será realizado no Uruguai, em 2014.

 

Em seguida, o casal terapeuta Ricardo Cariaga e Monica Silva apresentou palestra com o tema "O casal e o Naturismo", que falou das atitudes do dia a dia que possam ajudar a manter a relação duradoura. A rápida palestra provocou algumas manifestações da plateia com sugestões e risos. O casal possui uma página na Internet www.vivirenpareja.cl e recebem mensagens pelo e-mail organizacion@vivirenpareja.cl.

 

Quatro performancers com os corpos pintados dançaram coreografias abstratas ao som de música folclórica chilena

Uma performance de pintura corporal tomou conta das areias da praia, com quatro pessoas, um homem e três mulheres que desfilaram entre os banhistas com gestos dançantes. Dois autênticos índios nativos chilenos davam o ritmo da música com instrumentos de sopro típicos da região. Depois uma dupla de meninas fez uma apresentação vocal e violão. O fim do dia ainda continuou na praia com músicas dançantes animando mais a galera.

 

A dupla no violão agradou à plateia

À noite um jantar, que não estava previsto, foi realizado para poder contemplar também os brasileiros que chegaram apenas no sábado. Desta vez o prato foi massa com muitas saladas e bom vinho chileno. Após, novamente muita música dançante unindo ainda mais anfitriões e visitantes.

 

O domingo quente também amanheceu preguiçoso. Já se começavam os preparativos para a partida do primeiro motor home que chegou. A partir de então a caravana se separaria com cada qual tomando um rumo diferente de acordo com as decisões dos grupos de cada veículo. Mas antes de qualquer um partir foi realizada a caminhada pelo parque ecológico onde se situa o camping anfitrião. Um grupo com cerca de vinte e cinco pessoas acompanhou Catarina, que dava informações a respeito da vegetação e dos animais típicos. As trilhas eram leves e nos levaram até o santuário de pássaros migratórios, que vêm ao Chile a partir do Canadá para passar o verão sul-americano. Esta programação estava prevista para ocorrer na sexta, 3 de março. Foi adiada para atender também os brasileiros.

 

A região da Playa Luna é área de proteção ambiental onde pássaros migratórios vêm encontrar abrigo para reproduzir durante o verão

A paisagem vista por cima das escarpas montanhosas era deslumbrante, descortinando ao infinito o Oceano Pacífico. Depois de certo ponto da caminhada, René informou que poderia ficar nu quem quisesse, pois ali era uma área deserta. Alguns aproveitaram para se desvencilharem das roupas. De volta ao acampamento, fomos almoçar. Pequenas assembleias eram formadas para os grupos tomarem suas decisões a respeito de seus retornos. René aproveitou para entregar mais alguns brindes que faziam parte do evento, como uma pequena garrafa de delicioso vinho chileno. Eu aproveitei para pegar algumas assinaturas de João Olavo para a ANAbricó e entreguei alguns DVDs "Abricó, inesquecível" - também à venda na loja virtual do jornal OLHO NU - como brindes para o anfitrião e para sorteio entre os passageiros dos ônibus brasileiros.

 

A vencedora (á esquerda) da prova da corrida do saco ganhou uma toalha de praia de brinde (com logotipo da Brahma!)

Voltei à praia, que estava bem cheia, mas não tanto quanto no sábado. A temperatura do ar estava bem agradável, porque uma pequena névoa estava cobrindo o sol. As atividades da praia foram totalmente lúdicas. O único brasileiro que desceu para a praia, além de mim, foi o Alex, da Sonata. O restante ficou no camping. A tarde foi de muita música e brincadeiras competitivas que valeram alguns brindes aos vencedores. Também um grande aulão de Yoga atraiu muita gente. Tive que encerrar minha participação no encontro por volta das 19 h 30, pois havia conseguido uma carona para me levar de volta a Santiago, de onde partiria para o Brasil.

Entre outras competições a corrida do saco teve duas versões: a feminina e a masculina

 

A foto oficial e também a de despedida do evento.

Embora não tenha ocorrido a parte mais oficial do encontro com as reuniões deliberativas, o evento foi muito agradável, não obstante as condições precárias em que foi realizado. Tudo graças à extraordinária ótima recepção proporcionada pelos chilenos organizadores. Deixou saudades.

 

*Editor do jornal OLHO NU

presidente da ANAbricó

pedroribeiro@jornalolhonu.com


Olho nu - Copyright© 2000 / 2012
Todos os direitos reservados.