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Jornal Olho nu - edição N°135 - fevereiro de 2012 - Ano XII |
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A NUDEZ NA BÍBLIA por Aguinaldo da Silva*
Uma errônea interpretação do relato de Gênesis afirma que o fruto proibido era o contato sexual de Adão e Eva, que ao conhecerem o sexo desobedeceram e praticaram o primeiro pecado.
Esta interpretação contradiz redondamente o contexto do relato de Gênesis. Antes de pecarem Deus já havia ordenado ao homem e a mulher que “fossem fecundos e se multiplicassem e enchessem a terra (Gênesis 1.27-28)”.
Como poderiam Adão e Eva obedecer a tal ordem sem terem relações sexuais? Devemos realmente supor que Deus lhes deu uma ordem e então os sentenciou à morte por tentarem cumprirem a mesma? O relato de Gênesis mostra que Adão e Eva pecaram em separado, e não simultaneamente. Eva foi tentada a comer do fruto primeiro, e depois deu a seu esposo para que dele comesse (Gên. 3.6). Assim, relacionar o primeiro pecado com a descoberta do sexo é algo fantasioso e fruto de uma interpretação distorcida do texto bíblico.
A proibição relatada na lei de Moisés, nas palavras: “não descobrirás a nudez de tua parenta” (Levítico 18); não implica em nudez física, mas em ter intimidade sexual. Traduções modernas da Bíblia, como a ‘Nova Versão Internacional’, já trazem esta expressão. Era uma maneira eufêmica do hagiógrafo se referir às relações sexuais, tanto é que em nenhum outro lugar da lei mosaica se encontra a proibição ao incesto. Se fosse literalmente ver a nudez, então seria lícito ver a nudez de qualquer outra mulher, exceto de uma parenta, algo sem sentido.
Uma referência a Saul (primeiro rei de Israel), diz que o mesmo se despiu e assim permaneceu profetizando durante todo um dia. A narrativa indica que o inusitado ato do rei, de profetizar despido, era um costume dos profetas, pois alguns que o viram interrogaram se Saul havia se tornado profeta. (I Samuel 19.24).
No Novo Testamento também não encontramos qualquer condenação à nudez.
Uma passagem diz que Pedro estava pescando nu (João 21.7), o texto não
informa o motivo de o mesmo assim agir. Possivelmente era seu hábito ao
pescar.
A ideia de que o corpo humano, por si só, é algo maligno ou impuro,
dentro do contexto do cristianismo, se deve à influência do maniqueísmo.
“Deste ficou uma a concepção dualista entre o bem e o mal, a luz e as
trevas, a alma e o corpo”1.
Porém, como vimos anteriormente, na Bíblia a nudez não tem a conotação de pecado ou proibição divina. Ela varia o sentido conforme o contexto, significando certas vezes: inocência, humildade, devoção, humilhação, pobreza, ou simplesmente estar. Toda visão negativa da nudez é construída a partir de impressões pessoais, geralmente com base em interpretações distorcidas do texto bíblico.
1 COTRIM Gilberto, Fundamentos da Filosofia, Editora Saraiva, São Paulo-SP, 1997, p. 130
*Teólogo e escritor (enviado em 25/01/12) |
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