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Jornal Olho nu - edição N°132 - novembro de 2011 - Ano XII

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A volta do índio ao naturismo

por Pedro Ribeiro*

 

Pedro Pereira ao lado de sua escultura preferida.

Nascido numa aldeia Xavante, no Mato Grosso, hoje extinta devido à ocupação do homem branco por causa da especulação imobiliária, Pedro Pereira, seu nome artístico adotado quando deixou a aldeia aos 12 anos de idade, é o escultor de todas as obras que estão espalhadas pelo Hotel Parque das Primaveras.

 

Quando era criança na aldeia, onde vivia nu e totalmente integrado à natureza, viu a área diminuir paulatinamente com o cerco dos fazendeiros avançando brutalmente e deixando apenas um corredor para poder alcançar a margem do rio Araguaia, que era a fonte de sustento e da vida dos habitantes. Os índios ficaram em situação difícil passando fome. "Os peixes e as caças já não estavam mais mansos". A Aldeia se tornou inviável. Naquela época não existia nem a FUNAI. Não havia proteção nenhuma para os índios.

 

Pedro exibe uma reportagem sobre ele publicada em uma revista húngara na década de 90

Quando saiu da aldeia com a família foi morar em Goiânia, mas o menino não aceitava morar na cidade. Ele vivia numa "matinha" preservada no encontro do rio João Leite com Meia-ponte. Foi aí que o dono do hotel, o médico húngaro de nascença e alemão de criação Rodolfo Rohr, o conheceu e praticamente o adotou. Pedro passou a acompanhar o homem e a receber estudos e formação do homem branco. A partir de 1988 Pedro foi morar definitivamente neste hotel parque das Primaveras. Antes ele passava somente os finais de semana por causa dos estudos em Goiânia. Ele completou o segundo grau e fez bacharelado em Artes na Universidade Federal de Goiânia.

 

O ateliê de trabalho do Pedro funciona nesta pequena cabana dentro do Hotel Parque das primaveras

Nascido no ano de 1953, hoje então com 58 anos, já sentia o viés da arte desde a infância na aldeia. Pegava seu canivete e esculpia nas raízes das árvores que encontrava pelo caminho.

 

As esculturas de Pedro espalhadas pelo hotel surgiram da vontade dele de caracterizar a propriedade não como uma simples pousada, mas como um santuário ecológico, o que teve total concordância do dono, que é também, segundo Pedro, muito ligado ao ambiente, um amante da natureza. Percebe-se.

 

As esculturas foram distribuídas de tal forma que o observador tenha o sentimento de que ela nasceu ali, tal é sua integração com o local escolhido. E o resultado é fantástico. Pedro procurou fazer as brincadeiras de criança no sentido de preservar a memória e a tradição dessa cultura, que está quase extinta hoje em dia porque as crianças não querem mais saber de brincar fora de casa, "ficam somente no teclado do computador" critica. 

 

O trabalho do Pedro atualmente no hotel, onde trabalha e reside, é fazer esculturas sob encomenda para os hóspedes. Nas horas vagas continua fazendo novas esculturas para o hotel. As esculturas não são muito aparentes, elas estão no meio do caminho e as pessoas as descobrem quase que por acaso.

 

O ateliê de Pedro não para. Ele diz que se a pessoa não consegue ter inspiração para trabalhar, então o sujeito é muito ruim mesmo, porque o lugar é mais do que inspirador.

 

Pedro se considera naturista, mas se sente muito só. Conheceu agora o grupo GoiasNAT e se filiou a ele. Quando ele foi morar junto com os brancos assimilou rapidamente os seus costumes e sua cultura. Mas a única coisa que o incomoda até hoje e que não conseguiu assimilar totalmente foi o costume de usar roupa. "É uma dificuldade. Acho que nunca vou conseguir me acostumar com roupa". Até os 12 anos não sabia o que era roupa. Primeira coisa que faz quando chega em sua casa é tirar as roupas. Não usa roupas dentro de casa, no ambiente fechado que é exclusivo dele e de sua família.

 

De vez em quando ele vai visitar seus parentes que ainda moram em aldeias indígenas, não mais aquela onde nasceu, extinta. Mas reclama que elas estão completamente aculturadas. "Por estarem nas rotas de turismo os índios são obrigados a usar essa maldita roupa" denuncia. Mas nas aldeias mais afastadas os índios continuam a viver nus. O índio aceitou isso porque não quer perder essa fatia de rendimentos que é o turismo.

 

A escultura preferida de Pedro é O Pensador. Não a famosa de Rodin. É a escultura de um menino compenetrado lendo um livro. No livro está registrada a frase de sua autoria "o homem passa a vida inteira achando que sabe tudo, quando aprende a primeira lição passa a ter a certeza que nada sabe".

 

Pedro tem uma carreira internacional. Já mostrou seu trabalho em quatorze países do mundo em exposições coletivas e individuais. Quase todos países europeus. Algumas vezes nos Estados Unidos e uma vez no Canadá, uma outra vez no Chile e outra no México. Também recebeu diversas premiações e diplomas. Aqui no Brasil já perdeu as contas de quantas exposições participou. O aeroporto de Goiânia, o Santa Genoveva tem uma escultura sua, a maior que já fez até hoje. Também produz pinturas em quadros.

 

Sua matéria prima preferida é a madeira, principalmente o pau brasil. Mas também esculpe em pedra sabão.

 

Ele conta que foi convidado pelo Partido Verde da Hungria para expor seus trabalhos quando da visita do Papa no Congresso Eucarístico Internacional, ocorrido em Budapest, em 2001. O Papa João Paulo II foi presenteado com uma escultura sua. Em seu ateliê mostra seu álbum de recordações, com muitas fotos das ocasiões especiais de suas exposições e recortes de jornal e revistas que têm matérias sobre ele e seus trabalhos.

 

Pedro é casado e tem dois filhos que não moram mais com ele e sua esposa. Na tarde de sábado Pedro presenteou o GoiasNAT com uma bela escultura e aproveitou a ocasião para voltar às origens e ficar nu novamente. O contato com ele é através do e-mail do próprio hotel: info@termasgoias.com.

 


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