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Jornal Olho nu - edição N°126 - maio de 2011 - Ano XI

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OS PERCALÇOS DA EVOLUÇÃO HUMANA

por Aguinaldo C. da Silva*

Uma sociedade que se vangloria por ter alcançado os mais altos níveis de desenvolvimento científico, educacional e filosófico, que tem no humanismo o referencial de seus valores sociais, propicia ainda fatos descabidos ou no mínimo esquisitos.

Outro dia, um dos mais acessados sites de notícias deste país, trazia em sua página principal uma manchete assim: “Mulher nua é fotografada pelo Google Earth em uma sacada de Hong Kong”. Recentemente a notícia de uma mulher nua resgatada por bombeiros em um costão de mar correu o mundo. Ela estava a caminho da praia e perdeu a trilha.

Ora, o que há de inusitado nos fatos citados? Seria anormal, numa sociedade humana, a simples visão de um corpo também humano? Não eram alienígenas nem seres humanos em mutação. Mas se tratava de seres normais de nossa espécie que nada fizeram de espantoso nem de admirável. Simplesmente estavam despojados de uma cobertura têxtil.

Evoluímos nalguns aspectos, mas parece que estamos involuindo em outros. Pois nenhuma outra espécie exige que seus indivíduos andem cobertos continuamente. Entre os índios não veríamos tal reação. Um índio jamais ficaria escandalizado por avistar sua vizinha nua na varanda de sua casa. Muito menos ficaria espantado ao saber que indivíduos de sua tribo foram à praia nus.

Expor seu corpo à luz do sol na visão de outros indivíduos da mesma espécie deveria ser um ato plenamente normal, natural e comum, para quem se aceita humano, livre e educado.

Que nossa civilização já foi mais grotesca eu não tenho dúvidas. Basta lembrar do que já se fez com os negros, índios e judeus, entre tantos outros atos desumanos e cruéis presenciados neste mundo. Contudo, no processo de aperfeiçoamento humano, estamos ainda longe do ideal, caminhamos a passos lentos e curtos. Pensemos em como temos tratado as demais espécies animais. Na crueldade dos abates para justificar nosso sustento ou simplesmente para exibir suas peles em trajes luxuosos. Na exploração predatória dos recursos naturais e em tantas outras agressões e injustiças aos mais desfavorecidos de nossa sociedade.

Realmente falta muito em consciência e sensibilidade para nos declararmos como uma sociedade humanizada. O que mais se carece em nosso século é de reflexão! O simples exercício do raciocínio já seria algo muito positivo. Mas isto é sobremaneira difícil para boa parte de nossa sociedade. É mais fácil seguir as convenções estabelecidas, os modismos, a superficialidade da maioria. Pensar, ser consciente, é coisa para maluco! É mais fácil não questionar e tomar uma atitude subserviente aos valores de nossa época, buscar o mesquinho, aquilo que é tacanho ou leviano.

Mas para não parecer pessimista, penso que o presente quadro pode ainda ser revertido pela boa educação, por bons exemplos na sociedade, por gestos e atitudes maduras. Quem sabe no futuro, a visão de um corpo humano não seja mais chocante. Das matérias citadas no início, só choque a lembrança de que um dia o ser humano não podia simplesmente estar nu. Vivamos para ver!

(enviado em 13/04/11)


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