O PODER
DA NUDEZ NA ARTE DA PERFORMANCE
(Uma abordagem do trabalho
de Regina José Galindo)
Parte III (final)
Por Jorge Bandeira*
Poucos
são os artistas que buscam pela nudez o espelhamento necessário da
sociedade, enxergando as possibilidades de ter em seu corpo nu uma
ferramenta além do banal já tão desgastado, especialmente quando se
interpõe à nudez ao elemento do choque ou agressão aos espectadores.
Regina José Galindo vem no sentido contrário destas manifestações um
tanto quanto agressivas, mas que no seu conceito estético acabam por se
tornarem efêmeras, e muitas das vezes acabam por se tornar instrumentos
de repulsa pura e simples, mas sem alcance maior de conscientização de
um espectador que observa um corpo nu em seu estado estético e lúdico.
A
nudez extremamente planejada de Galindo nos insere em diversos
contextos, com bases políticas, filosóficas, existenciais, culturais,
etc. A cultura perpetrada por esta artista natural da Guatemala é de nos
deixar felizes, nós que temos no Naturismo uma prática saudável de
convivência. Lembro que a PETA, que trata dos maus tratos aos animais,
via indústria de alimentos, cosméticos e da moda, utiliza a nudez como
fator reflexivo e de grande poder de visualização nestes tempos. Galindo
é uma artista solitária na maioria de suas intervenções, e claro que nos
bastidores sua equipe, liderada por seu marido, dá conta do recado de
planejar tudo a contento para que nada dê errado.
Nudez
com propriedade impressionante, seja num momento de calmaria ou de
tempestade. Curioso notar que não existe uma inércia nesta arte da
performance de Regina Galindo, ela pode estar imóvel, mas ao redor a
brainstorm(tempestade de cérebros) se converge para sua obra. Galindo
nua na cama, grávida, pernas abertas, amarrada, protestando contra os
estupros. Galindo sofre intervenção cirúrgica para “tornar-se” virgem
novamente, zombando, assim, do preceito machista da virgindade como
imagem imaculada de um determinado cárater. Galindo nua, numa encosta,
encolhida, ao seu redor, sua urina. Imagem forte, linda, inquietante.
Galindo deitada numa cama, esperando seu “príncipe azul”, com apenas uma
abertura no lençol, exatamente onde é sua vagina, que é a única coisa
que aparece. O Príncipe azul só a quer possuir, e depois, dar o fora. Já
vimos isso muitas vezes. A nudez desta performer é de uma singeleza e
capacidade de comunicar, de ter seu corpo a nosso alcance e além,
estamos irmanados com a nudez da artista, com a verdade que ela consegue
nos transmitir. Força de uma mulher, talvez a mais autêntica artista
desta arte da performance, muito em voga neste começo de século XXI,
especialmente com a insurgência do Teatro pós-dramático.
Um
outro aspecto da obra de Regina Galindo que muito chama a atenção deste
crítico de arte é a simplicidade de suas ações, a limpeza de suas ideias
e a colocação de sua nudez realmente de forma natural, ela escapa do
exibicionismo de maneira tão elegante, tão singular, que temos a
impressão que sua obra é determinante para termos um foco mais delicado
às questões que envolvem a nudez em nossas vidas. Este um valor
preponderante para todos nós, naturistas ou artistas que prezam por uma
coletividade realmente que nos comova, que leve aos outros nossas
mensagem da nudez como base natural de toda convivência, desta nudez
perseguida por muitos, mas desta nudez sem roupagens desnecessárias.
Lembrem
que a mulher nua da capa das revistas masculinas não está nua, ela está
vestida até o pescoço de pensamentos conservadores, de revanchismos e
machismos, de ismos que não têm fim. Nudez para Galindo é pensar, não é
enxergar. Ela já demonstrou isso numa performance com cegos. Nudez para
Galindo é pensar a condição de escrava do sexo da mulher, nesta e em
todas as épocas.
A
libertação verdadeira da mulher só será possível quando ela,
inteiramente nua, passar sem ser percebida com olhos carnívoros pelos
homens. O sonho de Regina Galindo perfaz este percurso de libertação da
mulher. É um tapa na cara dos “naturistas” que povoam muitos locais,
naturistas ocasionais, que estão naturistas apenas para vislumbrar os
corpos nus com desejos masturbatórios ou de perversão, ou de sexo,
puramente. Máscaras caem automaticamente com a força desta arte de
Galindo, uma artista além de nosso tempo, ou melhor, que consegue
visualizar o nosso tempo apenas com a força de sua nudez. Algo deveras
impressionante. Para conhecer o trabalho de Regina José Galindo, com
textos e fotos de todas as suas performances excelentes e comoventes,
acesse em :
http://www.reginajosegalindo.com

*Jorge Bandeira é
escritor,
professor de história,
artista manauara, naturista.
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A partir deste
ponto, republicação e/ou atualização das notícias e
informações publicadas na seção Últimas Notícias entre 2 de
dezembro de 2010 e 2 de janeiro de 2011 |
O projeto Nu na Arte
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Trabalho da
fotógrafa Sandra Nunes |
Em
29/12/2010, bem no finalzinho do ano, o "Projeto o nu na arte" apresenta
sua "atualização da virada". São 19 novas galerias de fotógrafos na
seção "Fotografia & pintura corporal" e na seção "Vídeos &
curiosidades", está disponível a coletânea "A nudez na telinha... e na
telona!" com mais de 60 vídeos curiosos oriundos do cinema e televisão.
Espero que goste !
A próxima
atualização do blog ocorrerá em fevereiro de 2011.
http://projetoonunaarte.blogspot.com
(enviado em
30/12/10 por Sérgio Pereira)
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