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Jornal Olho nu - edição N°115 - junho de 2010 - Ano X

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NATURISTAS BRASILEIROS X NATURISTAS COREANOS

por Evandro Telles*

 

 Nem sempre ofereço o livro “Verdades Que As Roupas Escondem” às pessoas que vêm ao meu escritório, porque para cada livro vendido tenho que explicar a filosofia naturista, às vezes cansa.

 

Alguns dias atrás veio uma cliente, daquelas religiosas radicais, que tudo vê pecado, todos estão errados, só ela está certa. Nem toquei no assunto “livro”, mas como tinha muitos exemplares na prateleira, a curiosidade dela não me perdoou, só deu para ouvir “Deus o liberta disso!”. Mentalmente respondi “Deus a liberta disso!”. Será que o nosso Deus não é o mesmo?

 

Essa mania de achar Deus uma propriedade de alguma religião ou nacionalista não é de hoje, vem de longe. No Velho Testamento, Jeová é o Deus de Israel, propriedade de uma só nação, um deus nacional ou tribal. Atualmente sabemos que os deuses “nacionalitas” não existem, a sociedade mais culta sabe perfeitamente da universalidade de Deus.

 

No dia 15/06/10 o Brasil estreia a copa do mundo jogando contra a Coreia do Norte, amarelo de um lado vermelho de outro. Se todos estivessem ao seu natural a identificação ficaria muito mais difícil. As roupas criam divisões, identificações e classificações e um comércio muito ativo das passarelas às lojas.

 

Deus e a natureza se integram numa missão maior do que as nossas divisões insanas, o naturista se integra com a água num mergulho, água e corpo, tudo natural numa única força energética, é o ser dentro do todo, tudo conectado. As divisões criadas por sexo, cor, crenças, amarelo e vermelho é tudo uma forma de competição e poder. O Budhismo prega a não competição como meio de viver melhor, só que não sabemos ver o mundo de outro modo, estamos condicionados a competir uns com os outros na beleza, na riqueza, no poder e de ser o melhor.

 

A nossa mente condicionada está em muitos lugares, imagine se amanhã tivéssemos que andar com nossos veículos no lado esquerdo no trânsito, estaria montado o caos. Foi pensado uma forma de trafegarmos, criou-se um sistema, nascemos quando já existia o consenso de que era assim o certo, não sabermos ver de outro jeito e nem questionamos como tudo foi criado. Assim, fomos condicionados com relação ao nosso corpo não aprendemos ver copos nus na sua real naturalidade, é preciso vencer bloqueios pessoais e reconhecer que fomos induzidos por interesses econômicos e não naturais.

 

No site www.copadomundo.etc.br diz que o “Governo da África do Sul aposta na copa do mundo 2010 para unir brancos e negros”. Ele poderia fazer isso numa forma bem mais barata, bastaria criar áreas naturistas. A união viria naturalmente porque poderia observar a igualdade nas nossas diferenças. As mudanças sociais ocorrem em primeiro lugar no pensamento, para depois se materializar, é preciso sair do condicionamento mental e partir para ações concretas, aquelas que podem fazer de fato diferença na vida das pessoas.

 

Entretanto, essas ações têm que ser positivas e conscientes. Algumas pessoas já me disseram que não são naturistas, mas também nunca procuraram saber a dimensão e os conceitos filosóficos do naturismo. O pensamento não se enquadra com as ações, em outras palavras, dizem que não é o que não conhecem. Conhecimento é a palavra chave que abre as portas para fazermos questionamentos e conhecermos a nós mesmos, a nossa identidade, o nosso caráter e a nossa natureza. Todos nós somos potencialmente naturistas porque somos naturais, não há como negar. O que pode ser dito é que não conseguiram vencer e nem enxergar um sistema social que privilegia o externo; a casa bonita, o carro bonito, a roupa bonita etc. Mas nunca foi o homem capaz de ensinar a conhecer-se a si mesmo.

 

No artigo “Causas da decadência da atual civilização”, publicada na revista Logosofia nº 2 página 9 diz: “O fato de não se haver ensinado ao homem a conhecer sua vida interna, plena de recursos e energias para aquele que sabe aproveitar tão imponderável riqueza, tem sido a causa que o faz ceder, sem maior resistência, à tentação de fundir-se na multidão anônima, consumando-se assim a perda da sua individualidade”.

 

Participar de uma reunião naturista na casa de um amigo, na praia, sítio ou clube tem o seu valor. O ato de colocar de lado as roupas não é um ato obsceno sem valores morais, representa a conquista da liberdade de um sistema que aprisionou a mente do homem que sente a necessidade de sair dessa prisão.

 

Trazer a copa vencendo os outros é relativamente fácil, o difícil é vencer a si mesmo. Somente seremos realmente melhores quando encontrarmos as nossas verdades naturais capaz de unir etnias diferentes, povos diferentes e encontrarmos a tão sonhada paz. Assim veremos o jogo Naturistas Brasileiros x Naturistas Coreanos, não precisaríamos saber quem é um ou outro porque todos serão um só. Provavelmente Deus seria um torcedor porque não precisaria excluir ninguém, todos seriam igualmente importantes no cenário da natureza.

 

*Presidente do grupo Naturismo Capixaba

 

(enviado em 24/05/10)


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