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Jornal Olho nu - edição N°109 - dezembro de 2009 - Ano X

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Você sofre de “normose”?

por Laércio Júlio da Silva*

A patologia da normose pode ser definida como o conjunto de costumes, normas predeterminadas, conceitos padronizados, valores objetivos e subjetivos empíricos, estereótipos predefinidos, hábitos de pensar ou agir que são aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam a massificação de determinados modos de raciocínio, causando muitas vezes sofrimento, doença e morte. Há pensadores contemporâneos que dizem que o poder castrador de nossa sociedade não é mais de ordem sexual, como defendia Freud, mas sim espiritual, e seu nome é normose - a síndrome da normalidade.

A normose significa assistir a guerras, violências, escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal, aceitando-os como se fossem fatores oriundos da hipocrisia humana sem que ao menos haja a chance da busca de uma solução aparente. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos somente no discurso impelidos por uma mídia que valoriza o rápido e o digerível, sem tempo para o raciocínio lógico que preconiza a ação. Formamos assim uma maioria muitas vezes calada e acomodada. Ao invés de curar o mal lutando efetivamente por uma sociedade mais justa, somos tentados a simplesmente desviar do problema e a passar a cuidar somente do nosso próprio umbigo. Algumas vezes os naturistas são taxados de maníacos, diferentes, exóticos, evoluídos e toda a sorte de adjetivos para conceituar uma atitude anormal e fora dos padrões definidos pela “sociedade têxtil”.

Um amigo uma vez me confidenciou que não iria a um local naturista por considerar-se um ser primitivo, incapaz de chegar à iluminação dos que praticavam o naturismo. O pensamento dele se baseia na tese de que os naturistas são seres muito evoluídos em relação aos padrões “normais”!

Existe na maioria da população uma crença bastante enraizada, segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas pensa, sente, acredita ou faz deve ser considerado como normal e, por conseguinte, servir de guia para o comportamento de tudo ao seu redor.

O fato de estar nu significa um grande prazer para algumas pessoas, no entanto valores provocados pela normose impedem a felicidade de muitos que gostariam de ser naturistas. Esses indivíduos invejam o modo despojado com que os naturistas se relacionam com o mundo a sua volta e lutam dia-a-dia contra preconceitos encerrados em seu íntimo. Ao travarem contato com o naturismo, as pessoas se convencem que a maior barreira está nelas mesmas e tentam vencer a sua própria normose.

É interessante notar como o conceito de beleza corporal pode ser banalizado pela sociedade dita normal. O fato recente de uma estudante em trajes expondo parte do seu corpo fez com que uma multidão de estudantes a seguisse pelo campus. Pode-se observar pela TV que as pessoas iam atrás de algo sem sentido, com a normalidade típica de bois indo para o matadouro. O “anormal” seria se ela estivesse ao natural e completamente nua: a expulsão não seria revogada, ela seria matéria jornalística no mundo todo que noticiaria imagens com uma ridícula tarja na genitália. Com certeza as pessoas não a seguiriam por tratar-se de uma pessoa que evidentemente foge à normalidade!

No entanto o fetiche da sexualidade estava exatamente na pouca roupa ou no muito que poderia ser mostrado. No meio naturista costuma-se dizer que uma mulher com “fio dental” ou um homem com a sunga apertada torna-se muito mais sexualmente apelativo do que a nudez que não encerra qualquer mistério! Quem se “normaliza” acaba adoecendo com bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de enquadramento. Portanto, deixe o normal de lado e seja original: o naturismo ajuda as pessoas a sair da mesmice e a se autoconhecerem em sua plenitude.

*Laércio Júlio da Silva é diretor da

Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e

presidente da Associação Goiana de Naturismo,

 

Publicado no jornal Diário da Manhã, em 3/12/09

 

(enviado em 3/12/09)


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