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Jornal Olho nu - edição N°108 - novembro de 2009 - Ano X

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Naturalmente

por Paulo Pereira*

Já falamos sucintamente a respeito dos pretextos eventualmente utilizados por muitos oportunistas na prática nudista, quer dizer: é fato que alguns deslumbrados usam o naturismo-nudismo como biombo, como desculpa conveniente para seus transbordamentos... Mas, além dos pretextos, há por certo as alianças esdrúxulas, as divisões fantasiosas, os sectarismos descabidos e sem respaldo oficial.

Destaco aqui enfaticamente a possível existência de alguns setores ou grupos (ou subgrupos), estranhamente chamados de naturistas, que, na realidade, desconsideram os postulados oficiais do Movimento, da Federação Internacional de Naturismo em seus “Estatutos”. À primeira vista, quando nos deparamos com as “denominações” desses subgrupos, tudo pode parecer trivial, banal, pouco relevante. Mas um exame, isento e atento, revela claramente os equívocos de tais agrupamentos. É até fácil admitir, por exemplo, que, em alguns casos isolados, a intenção de tais propostas pode ser tida como irrefletida, sem nenhuma espécie de desacato ou dolo. Haveria, então, uma mera explicação não fundada, mas jamais uma justificativa bem conceituada.

Recordemos, desde logo, que o naturismo tem vivido e se firmado, durante mais de um século, especialmente como um modo de vida simples e despojado, natural e universal. É oportuno recordar aqui, e reafirmar objetivamente, o que está oficialmente posto e declarado pela I.N.F.- Federação Naturista Internacional, de longa data.

Reproduzo, então, o que está escrito (transcrito) no meu livro “Corpos Nus, Verdade Natural” – 2006, no capítulo segundo (Ponto e Contraponto), págs, 93 e 94: as definições oficiais, em alemão, inglês, francês e holandês, estão devidamente registradas no “INF- Handbook”. Definição em língua inglesa – Naturism ( nudism) is a way of life in harmony with nature, characterised by the practise of communal nudity, with the intention of encouraging self-respect, respect for others and for the environment. Esta definição (editada em Agde, 1974) é oficial, repito, a que realmente está autorizada e consagrada. Podem existir, aqui ou ali, algumas pequenas versões ou redações ligeiramente diversas, mas sempre fiéis ao conteúdo da definição oficial. Uma federação nacional qualquer que, por exemplo, divergisse em essência oficial da Federação Internacional de Naturismo (INF) evidentemente não estaria filiada. Este é um conceito óbvio.

Como esclarecimento, oportuno e definitivo, cito aqui, a seguir, o que a I.N.F. declara formalmente nos seus “Estatutos”, no artigo segundo, relativo aos objetivos ou metas (“Aims”).

1) Naturismo (nudismo) é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez grupal (social) com a intenção de encorajar o auto-respeito, o respeito pelos outros e o cuidado pelo meio ambiente. (Nota: os termos “nudismo” e “naturismo” são igualmente usados e consagrados, de mesmo significado histórico-filosófico dentro do Movimento e oficialmente aceitos desde o Congresso Mundial da Croácia; a nudez total é condição básica, essência doutrinária, visando maior integração com a natureza e o cuidado com o meio ambiente é ressaltado, mas nunca como forma de modismo ou erudição).

2) O propósito do naturismo-nudismo é a promoção da saúde física e mental da humanidade pelo contato com o ar puro e pela prática de esportes. A I.N.F. apóia tudo que beneficie o corpo, a alma e a mente, e é contrária a tudo que atue em detrimento da saúde físico-mental, especialmente o abuso do fumo, do álcool e das drogas. A I.N.F. apóia a proteção da natureza.

3) A I.N.F. dá suporte à cooperação internacional de todos os naturistas-nudistas, no sentido de difundir a causa comum.

4) A I.N.F. dedica-se à sua difusão(aceitação) pelo mundo inteiro, e promove seu desenvolvimento. A I.N.F. coopera com organizações nacionais e internacionais.

5) A I.N.F. luta pela coexistência harmoniosa de todos os povos e raças (ou etnias e nações), adotando uma atitude neutra em relação, sobretudo, a partidos políticos, religiões e filosofias de vida. A I.N.F. condena todas as formas de discriminação como, por exemplo, de raças, religiões, ideologias políticas ou orientação sexual.” Nada mais claro e objetivo. Não há qualquer margem para dúvidas e muito menos para invencionices ou sofismas. Naturismo não é uma ideologia! Naturismo não é um modismo nem pretexto para os vícios. Os espaços naturistas, todos, especialmente os afiliados à I.N.F., não podem aceitar discriminações nem prestigiar separatismos ou privilégios. Naturismo é somente uma forma de comportamento, um modo de vida de caráter universalista, fraterno, natural. Separar, pois, os naturistas por questões sociais ou religiosas, por exemplo,constitui flagrante desacato aos fundamentos da I.N.F. e aos reais princípios da vida naturista.

Como Deus, por princípio e definição, não tem religião, não tem raça nem ideologia, ou sexo, ninguém deve em sã consciência criar muros em vez de pontes. Não tem o menor sentido, nem respaldo oficial, encorajar a criação e manutenção de grupos, subgrupos ou organismos (entidades) de caráter seletivo. É absurdo falar em “naturistas republicanos”, “naturistas monarquistas”, “naturistas negros”, “naturistas ateus”, “naturistas gays”, “naturistas espíritas”, “naturistas cristãos”, “naturistas viúvos”, “naturistas budistas”, “naturistas judeus”, etc... Fala sério...É chegada a hora ( e já faz tempo) de acabar com as trevas da ignorância, da pseudo-ciência, do culto a crendices, do prestígio das intolerâncias e da desunião burra. É hora de somar. Dividir sempre acaba enfraquecendo... A imagem pública do velho naturismo está em jogo como nunca neste século vinte e um. É hora de refletir, de ler mais, de procurar não inventar; não é o momento de tentar dividir para reinar...

Insisto sempre na prevalência da união e da fraternidade. Como minoria perante a sociedade majoritária, vestida, os naturistas conscientes precisam priorizar o trabalho de equipe e o bom senso. Só poderemos melhorar a aceitação do naturismo-nudismo pelo bom exemplo, pela tolerância inteligente e pelo trabalho unido.

A imprensa no Brasil, em geral, costuma assumir procedimentos meio inconstantes ou delírios, quer dizer; morde e assopra. Frequentemente há enfoques ou comentários maliciosos, que denotam hipocrisia e falta de conhecimento adequado dos fundamentos e das realidades naturistas por parte de alguns jornalistas, que buscam somente audiência. As eventuais piadinhas a respeito de sexo e nudez, salientando de forma desrespeitosa a anatomia humana (gente gorda, magra, velha, caída, pouco dotada, super-dotada, baixinha, feia, etc) são demonstrações públicas de ignorância e falta de polidez. O corpo humano, nascido nu (é bom não esquecer), filho natural de uma união sexual, mortal, merece mais respeito. O bom naturismo ( sem discriminação de ninguém) não quer que todos se mostrem “pelados”. O naturismo busca esclarecer os mitos e tabus em relação à nudez, por exemplo, propondo um despojamento integral e uma comunhão consciente com a natureza.

Natureza é síntese, é equilíbrio. A natureza não aceita julgamentos. A Terra não é centro do sistema solar. Nós não estamos mais na chamada idade média para falar em bruxas e demônios, em pecados recorrentes. As tsunamis não escolhem nem evitam santos ou pecadores... Naturismo não é boa rima para subjetividade, nem mesmo as ligadas, por exemplo, à fé. Não devemos somar quantidades heterogêneas.

Para que os naturistas tenham, afinal, vez e voz, é mister trabalhar em parceria, sempre buscando o foco do natural, sem preconceitos, sem pretextos, sem exclusões, sem atalhos convenientes. O naturismo se faz plural.

Os seres humanos pertencem a uma única raça, de resto meio inquietante, fabricante de lendas e de deuses. O bicho-homem é uma antítese?... Mesmo nas contradições da vida, é necessário procurar a síntese, o ponto de equilíbrio, modo eficaz de crescer.

O naturismo não valoriza privilégios e sempre aconselhou o bicho-homem a viver como a natureza manda, prestigiando a verdade nua (como dizia Luz Del Fuego) sem criar cercas, muros e dogmas esdrúxulos. Os espaços naturistas não devem ser “clubes-do-bolinha”... Poucos se apercebem de que a simplicidade é o segredo da felicidade. É só.

Paulo Pereira/Nov 2009.


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