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Jornal Olho nu - edição N°100 - março de 2009 - Ano IX

O que desnuda o Brasil, Brasil?

por Fellipe Barroso*

O título desta pequena reflexão faz uma referência direta ao clássico da antropologia nacional “O que faz o Brasil, Brasil?”, de Roberto Da Matta. Devo salientar, no entanto, que o que se lerá adiante não chegará nem perto do trabalho do grande mestre, porém parece ter um mínimo de pertinência, dados alguns acontecimentos ocorridos em nosso país nos últimos meses, e que, somados a tantos outros que tiveram o olhar naturista como ponto oposto de crítica, só nos levam a fazer semelhante pergunta.

Mas que acontecimentos são estes?

Deterei-me aos mais recentes, conforme explicado acima.

Big Brother Brasil 9

Este reality show, transmitido pela Rede Globo de Televisão, é líder de audiência nos países em que se realiza. No Brasil, isso não é diferente. O que me causa espanto é perceber que de “show da realidade”, o programa tem muito pouco, principalmente no que diz respeito aos hábitos caseiros mais comuns, como tomar banho.

No último domingo, 1 de março, o angolano Ricco, vencedor da edição realizada seu país e convidado especial na versão global, adentrou o boxe o banheiro para se banhar nu. Tudo bem que limpar-se cheio de câmeras apontadas em sua direção não deve ser algo muito confortável, admito, mas minha indignação e espanto residem nas atitudes dos outros participantes, brasileiros, do programa. Era como se Ricco estivesse a cometer um crime dos mais graves. Mais ainda, como se ele estivesse expondo algo que nunca haviam visto.

Estes mesmos brothers e sisters (como são chamados) protagonizam tórridas cenas de insinuações sexuais a cada festa realizada. Tais cenas, por sinal, são consideradas essenciais para que as festas sejam “boas”.

O Big Brother dos hotéis no Rio de Janeiro

No dia 17 de fevereiro, o Jornal Extra publicou em primeira página fotos de um casal de turistas desnudos na varanda de um hotel em Ipanema, bairro nobre da Zona Sul carioca. O texto da matéria explorava a ousadia dos visitantes estrangeiros, o seu descaso com a platéia que se aglomerava e aplaudia, e, principalmente, o quanto esta platéia se mostrava ávida por presenciar mais cenas do gênero. As autoridades responsáveis não tomaram qualquer atitude que coibisse tal ação.

As entrevistas com os profissionais que trabalham ao longo da orla constataram ser este espaço, durante o período carnavalesco deste ano, o favorito dos curiosos e voyeurs, que ali tinham um farto “cardápio” à sua disposição.

Comercial do filtro solar Sundown

A campanha, que estreou em fins de novembro de 2008, trazia novamente Marco Nanini no papel de São Pedro, o “patrocinador oficial do sol”. Numa praia, um executivo se encarrega de apresentar os benefícios de um dia ensolarado ao santo, dentre os quais é mencionado o topless. São Pedro imediatamente faz desabar uma chuva sobre os banhistas, alegando que o hábito não é comum nos ambientes divinos aos quais está acostumado. Após muita negociação, o sol volta a brilhar sob a vista grossa de Pedro.

Fica a minha dúvida em relação à origem deste santo retratado no anúncio, pois não saberia dizer em qual ambiente divino a nudez pode ser algo impuro.

A prisão/soltura de André Herdy

Por fim, André Herdy, ex-presidente da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e sua esposa, Glecy, foram liberados do cárcere após 13 meses de reclusão. A prisão dos dois na Colina do Sol (Taquara-RS), juntamente com o casal de americanos Fritz e Bárbara, até hoje se deu por causas não muito bem explicadas.

A acusação de pedofilia não faz muito sentido frente às “provas” apresentadas (Maiores detalhes na edição nº 99 do Jornal Olho Nu).

O caso, que ganhou destaque na mídia nacional, manchou a imagem do naturismo no Brasil e deixou no ar uma forte dúvida quanto à eficiência de nossas autoridades no combate à criminalidade e o respeito ao cidadão decente.

Numa primeira vista, a única coisa que parece realmente desnudar o Brasil é a verdade, que rasga o pano da hipocrisia e mentiras cotidianas que nos asseguram dos nossos medos que temos em relação a nós mesmos.

Porém, não querendo parecer precipitado, deixo o texto sem conclusão, finalizando-o com uma questão: O que, afinal, pode-se tirar de tais acontecimentos – a indignação ante um corpo que se banha nu; a atração por corpos que se encontram para o sexo em locais públicos; o repúdio de um topless, considerado não-divino; a acusação de pedofilia em quem levantou a bandeira contra os maus hábitos nos ambientes naturistas?

Para saber mais:

- Matéria do jornal Extra sobre o Big Brother dos hotéis

http://extra.globo.com/rio/materias/2009/02/16/sexo-luz-do-dia-nas-varandas-de-hoteis-de-luxo-da-zona-sul-atrai-curiosos-754447201.asp

 

- Vídeo do protetor solar Sundown

http://www.youtube.com/watch?v=KdIIF14tW

 

*barroso.fellipe@gmail.com

 

(enviado em 6/03/09)


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