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Jornal Olho nu - edição N°98 - janeiro de 2009 - Ano IX

Praia Olho de Boi: 120 m² de muitos problemas.

 

Fotos e texto de Pedro Ribeiro*

 

A praia Olho de Boi é a segunda menor praia naturista do Brasil e uma das que mais apresenta problemas

A praia Olho de Boi, situada no município de Búzios, RJ, é uma das menores praias naturistas do Brasil. Só perde em tamanho para a praia da Figueira, situada em Trindade, distrito de Parati, também no Rio de Janeiro. A Olho de Boi foi oficializda em 1992, quando Búzios ainda era um distrito de Cabo Frio, num pacote que inaugurou também a praia Brava, em Cabo Frio (sobre a qual falamos no box em destaque no final desta matéria).

 

 A praia é bela em sua paisagem, mas apresenta alguns problemas que foram impostos ao naturismo na segunda fase, as praias públicas tinham que ser de difícil acesso, para dificultar a chegada de curiosos. Tese que na prática se mostrou inútil, pois não evitou a chegada de curiosos, mas inibiu a chegada de naturistas com suas famílias, principalmente crianças e velhos que têm dificuldade enorme de vencer os obstáculos naturais para ali chegar. A areia é formada por conchinhas moídas que causam certo desconforto aos pés. A água geralmente calma e muito fria possui grande quantidade de pedras no fundo o que torna o banho bastante dificultoso.

 

Não obstante tantos obstáculos há muita gente que chega até a praia e se recusa a tirar as roupas, alegando os mais variados motivos, mas nenhum deles é o de desconhecimento, ou seja, o de não saber que se tratava de uma praia de nudismo.

 

Além desses curiosos inconvenientes há casos mais graves que dificultam a prática do Naturismo na praia Olho de Boi. Há uma grande quantidade de pessoas que procura o local para práticas sexuais. Os mais discretos vão para as pedras que é conhecida como um grande motel a céu aberto, outros ficam na própria areia e dão show ao vivo. Em dias mais calmos há os chamados "maresias" que ficam se masturbando de longe ao avistarem mulheres sozinhas ou acompanhadas. Os maresias são freqüentadores antigos da praia que vão lá quase diariamente, sempre com estas atitudes desabonadoras ao Naturismo. Há muitos casos de manipulação dos órgão genitais que acabam em ereção e exibicionismo.

 

Infelizmente estes casos não são novos. O grande problema da Olho de Boi é que jamais teve uma associação encarregada de cuidar e exigir dos freqüentadores a observação e cumprimento da ética naturista. Há uns oito anos atrás, durante alguns verões um grupo de amigos resolveu colocar ordem na casa, exigindo a nudez e o cumprimento das normas éticas. No entanto isto durou apenas três temporadas, pois estes naturistas não eram da região e não podiam ficar sempre disponíveis. Aliás este é problema maior de quase todas as praias naturistas brasileiras. Os naturistas freqüentadores não são moradores da região onde a praia está localizada, o que torna o envolvimento total muito difícil.

 

Após cinco anos sem por os pés nas areias da Olho de Boi, estive no dia 30 de dezembro para saber como estão as coisas por lá e verificar se as informações que obtinha através de conhecidos são ou não verdadeiras. Entrevistei pessoas e observei os comportamentos e tentei interferir o menos possível, muito embora tenha sido muito difícil me calar diante de algumas situações de desrespeito.

 

Eu cheguei na praia por volta das 11 horas da manhã. No momento havia oito homens na areia, todos nus, um casal vestido se retirando, além de dois pescadores vestidos que se avistavam nas pedras que cercam a praia . No primeiro momento um ar de normalidade, logo desfeito porque avistei um rapaz que passava protetor solar em seu pênis de maneira contundente, o que provocava uma certa ereção e um outro no outro extremo que se manipulava e acabou tendo uma ereção total.

 

Neste exato momento chegaram dois casais que mal colocaram os pés na areia se retiraram, após molharem os pés. A decisão pode ter sido tomada por terem flagrados as situações que relatei. Acabei interferindo e fui falar com o rapaz que teve a ereção total, pedindo-lhe que tivesse respeito às normas do Naturismo. Este não apresentou mais problemas.

 

Logo chegou o vendedor Pedro, carregando nas costas as pesadas mercadorias que vende por um preço bem acima de qualquer tabela. " O trabalho é estafante", justifica-se.

 

Pedro Luiz, 53 anos, é o comerciante mais antigo da praia. Muito tímido no início do naturismo oficial, hoje ele é um dos poucos que tentam manter a ordem e o respeito no local. Nem sempre obtém sucesso, como foi o caso deste dia.

 

Eduardo e Pedro gostariam que houvesse uma associação que pudesse controlar melhor a praia.

Pedro é casado, às vezes vem com a família, morador de Cabo Frio, frequenta a praia há 27 anos, muito antes da oficialização. Conta que sempre se fez nudismo ali. Lamenta que hoje em dia ela esteja muito bagunçada. A praia poderia receber mais turistas se fosse mais organizada. Vem muitos estrangeiros. Há um casal da Dinamarca, por exemplo, que todos os anos passa uma temporada em Búzios e só vem a Olho de Boi, ignorando todas as outras praias do balneário.

 

Acredita que a solução seria a organização de uma associação e também pedir maior apoio do município, o que jamais ocorreu.

 

Outro frequentador assíduo e que compartilha da idéia de organização de uma associação é Eduardo Lessa, 28 anos, morador de Cabo Frio, instrutor de Tai Chi Chuan. Desde os 16 anos o rapaz vem a Olho de Boi. Sua família é naturista e, juntamente com ela, já foi frequentador da praia do Pinho e da Colina do Sol, na época em que morou na região Sul do Brasil. Ele juntamente com o Pedro tentam fazer o controle da praia, mas acredita que a melhoria só se dará se houver comprometimento de um grupo interessado. Ele já tentou organizar uma associação, mas tem encontrado muitas dificuldades.

 

Não demorou muito tempo e um novo casal chega à praia. Ela faz top-less e ele permanece vestido. Em seguida, chega um grupo de um rapaz e cinco moças. Deste somente duas fazem top-less e o rapaz não tira a roupa. E mais um casal mais meia idade que também não tiram as roupas. Essa situação começou a causar desconforto nos presentes que estavam nus. Então, caneta em punho e minha agenda, resolvi entrevistar estas pessoas para saber porque estavam ali, naquelas condições.

 

O grupo maior foi meu primeiro alvo e a receptividade não foi muito boa. Acredito que por causa de eu ter argumentado com eles e tentar convencê-los a tirar as roupas.  O rapaz foi o mais agressivo já deixando claro que não tiraria a roupa sob hipótese nenhuma. As outras três meninas totalmente vestidas pareciam constrangidas por estarem ali. Então a primeira pergunta que fiz se sabiam que ali era uma praia de nudismo antes de chegar. A resposta foi positiva. O rapaz e duas das vestidas se retiraram para as pedras. As de top-less toparam dar entrevista.

 

Roberta é paulistana, 35 anos, coordenadora de eventos. Para minha surpresa já esteve em Massarandupió, na Bahia, e se sentiu à vontade para tirar as roupas lá "porque ninguém ficou pressionando". Acha que "as pessoas devem ter um tempo para se decidirem".

 

Embora a placa peça gentilmente que se retire as roupas, o pedido é ignorado e desafiado por grande parte dos frequentadores

Mais surpreendentemente ainda foi saber que a outra paulistana, a professora Andreia, 36 anos, já esteve em Tambaba, local que o nudismo é obrigatório logo na entrada, adorou a organização de lá, no entanto aqui ela concorda com a amiga sobre o tempo para decidir. Ela já esteve também na Galheta, que achou muito bonito, mas não teve coragem de tirar as roupas. Perguntei por que, e disse que era por causa do grande número de pessoas vestidas. Paradoxo.

 

A quase totalidade das pessoas, que quer um tempo para decidir se quer ficar nua ou não é a primeira a se incomodar com pessoas vestidas. É um comportamento egoísta, que não se preocupa com o grupo. Não entende também que cada vez que se permite alguém ficar vestido em área naturista, mais e mais pessoas ficam vestidas, principalmente em áreas públicas.

 

O outro casal a ser entrevistado foi o de meia idade. Eram argentinos. E já não estavam mais vestidos. Ele, Javier, 38 anos, trabalha com construções de habitações sociais em Buenos Aires. Ela, Liliana, 41, trabalha em um museu da mesma cidade. Souberam da praia a partir das informações de um amigo brasileiro. É a primeira vez que vão a uma praia naturista. Nem mesmo foram na recém inaugurada primeira praia de nudismo em seu país. Aliás nem sabiam. Não costumam frequentar praias na Argentina, porque acham as águas muito frias, além de não as acharem bonitas como as brasileiras. Estavam maravilhados com o local e com a possibilidade de praticar naturismo. 

 

Praia Brava: Problemas totais

Praia Brava, abandonada.

A praia Brava de Cabo Frio, foi oficializada como área naturista também em 1992. Começou muito bem organizada pela Rio-NAT, antiga associação natuirsta do estado do Rio de Janeiro, contando com estacionamento protegido e presença de guardas municipais, que trabalhavam nus, e visitas frequentes da polícia militar.

Este quadro durou apenas a gestão do prefeito Ivo Saldanha, que a inaugurou. O seguinte tirou todo apoio e deixou a praia se degenerar até a situação atual. A trilhas para chegar estão em péssimas condições, ficou perigoso estacionar nas imediações. Há registros de assaltos e de violência contra pessoas nuas. A frequência é mínima, na parte naturista (a praia é compartilhada com surfistas na outra parte, onde a frequência é maior).

Para piorar os frequentadores atuais, quase exclusivamente homens, vão quase todos declaradamente à procura de sexo, e acham que aquela praia é para isso mesmo.

É uma lástima, pois a praia Brava é lindíssima e poderia ser uma super praia naturista.

O terceiro grupo entrevistado era o casal, cujo homem estava de sunga e a mulher de top-less. Kennedy, 40, engenheiro e Samara, 33, mineiros de Belo Horizonte. Primeira vez em praia de nudismo. Acham que não deveria haver regras para ficar nu, no entanto acham que deveria haver melhor infraestrutura na praia e uma grande melhoria no acesso.

 

Durante todo o tempo era grande o movimento de pessoas chegando e saindo. Um casal jovem teve a moça completamente nua e o rapaz de bermudão. Não quiseram dar entrevista. Muitos outros chegavam vestidos e assim permaneciam, desafiando a placa gentil colocada na entrada da praia. Diversos iam direto para as pedras. 

 

Pouco antes de ir embora chamei atenção de mais um que se manipulava descaradamente.

 

Aproveito para fazer apelo aos naturistas que voltem a frequentar a praia Olho de Boi. Se interessem e se organizem. Principalmente os moradores da região.

 

É triste ver áreas conseguidas a duras penas por um grupo intrépido de naturistas em passado recente serem transformadas em locais para pessoas que procuram sexo.

 

 

(enviado em 2/01/09)

*pedroribeiro@jornalolhonu.com


 


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