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    O Sonho de August Strindberg

Por: Jorge Barreto*

O teatro sempre utilizou o nu como linguagem de expressão visual em peças teatrais, mas foi no final dos anos 60 que duas peças teatrais, "Hair" e "Oh, Calcutta!" Entraram em cena com a nudez em uma nova era. Na "Era de Aquarius".

Oh Calcutta! Oh Calcutta!

Fotos da montagem original de "Oh Calcutta!" 1969

Estávamos num momento de mudanças políticas radicais. Guerra do Vietnã, movimento hippie, festival de Woodstock. E a partir do momento em que todos do elenco de uma peça tiraram suas roupas no palco ficando nus diante da platéia. O mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo.

Muitos anos se passaram depois disso. A nudez no palco hoje já não provoca mais aquele impacto visual. Talvez por uma nova consciência e maturidade da platéia. Talvez porque a linguagem teatral tenha amadurecido e reaprendido a utilizar o corpo nu como beleza e não como foi no passado, intencionalmente para provocar impacto, protestar, criar novos conceitos de comportamento e gerar controvérsias.

Mas a nudez no palco pode ir alem disso. Ela é capaz de ser plena como mensagem poética. Sendo bela, limpa, ingênua, desprovida de intenções sexual, ou conotações pejorativas a dignidade humana. Ser natural e grandiosa, assim como toda criação divina.

Em cartaz no Rio de Janeiro "O Sonho". Uma peça que utiliza a nudez num trabalho digno e muito bem realizado.

fotos: Jorge Barreto    

O Sonho O Sonho O Sonho O Sonho O Sonho O Sonho

Cenas de "O Sonho"

A Companhia Tupinambás Urbanos Cia Teatral Enviezada sob a direção de Zé Alex Oliva, iniciou em agosto de 2004 um trabalho para a construção de um espetáculo teatral, baseado no texto "O Sonho" escrito pelo dramaturgo e novelista August Strindberg em 1901 .

Utilizando em seu texto à estrutura de um sonho, Strindberg conta à história de Inês, filha de Hindra, que vem a terra para viver entre os seres humanos e passa a conhecer os seus conflitos, como as frustrações, amarguras, desilusões e valores éticos.
A complexidade da obra que desenrola de forma não continua num aparente caos, onde lugares e sentimentos se misturam e repetem, com cenas que se entrelaçam. A apresentação segue numa linguagem atual, desenrolando uma linda história.

Muitos podem enxergar apenas a superficialidade de uma obra leve, bem escrita, com porções certas de humor e dramaticidade. Mas a extraordinária obra de Strundberg mergulha no inconsciente. Na verdade, vai alem. Aflorando os conflitos interiores humanos, transportando "O Sonho" para nossa realidade em pleno século XXI.

O elenco é formado por Aline Arteira, Acauã Sol, Rachel Palmerim, Cláudia Martins, Danilo Rosa, Eduardo Vargas, Júlia Limaverde, Luciane Conrado, Marília Prata, Matheus Calado, Rafael Manhainer e Renata Di Carmo. Direção de Zé Alex

Zé Alex X Strindberg

Muitos consideram Strindberg cineasta antes da criação do cinema. Sua linguagem de cortes, estruturando idéias de maneira não linear para determinam o ritmo cênico de uma história estava muito alem do seu tempo.

"O Sonho" é uma obra de ficção bem complexa e é preciso um diretor de coragem para encarar a empreitada dessa montagem teatral. Mas Zé Alex conseguiu demonstrar o seu talento num cuidadoso trabalho de pesquisa e conhecimento do gênero humano. Sua capacidade de explorar toda a potencialidade da genial obra de Strindberg ficou evidente. Dedicado e habilidoso sabe utilizar todos os espaços possíveis do teatro. Incluindo a participação da platéia em determinados momentos. O palco não é suficiente para dar vazão a sua criatividade de Zé Alex. Eu chamaria sua linguagem comunicativa de "teatro integracionista"

O espetáculo vai começar

O SonhoAo se abrir as portas do auditório do teatro, os atores cantam e dançam no palco e nos corredores de acesso recepcionando a platéia. As luzes se apagam, uma fogueira é acesa. Ao som de cantorias primitivas personagens dançam nus ao redor da fogueira num ritual tribal, cerimonial. Uma celebração de prenúncio da chegada de Deusa Inês, filha de Hindra.

 

Leia as entrevistas com Aline Arteira e Rachel Palmerim,

duas atrizes principais do espetáculo.

 

Veja a Galeria de fotos do espetáculo

 

*Jorge Barreto é fotógrafo e artista plástico

Jornal Olho nu - edição N°68 - junho de 2006 - Ano VI


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