') popwin.document.close() }

LUZ completaria mais um aniversário

     Se estivesse viva, a bailarina, vedete, musa e precursora do naturismo brasileiro, estaria completando no próximo dia 21 de fevereiro a idade de 89 anos.

Parabéns a ela.

(Nota da Redação: esta matéria foi publicada originalmente na edição 29 do jornal OLHO NU, em fevereiro de 2003, no caderno NATCuriosidades)

 

L   U   Z      D   E   L      F   U   E   G   O

Por Mara Rejane Freire*

Luz del Fuego deveria constar nos estudos como uma heroína moderna, Joana d’Arc à sua moda, autêntico referencial para homens e, em particular,  para as mulheres, palpável, humana, carnal. Ao invés disso, os atos que a diferenciaram, martirizaram e levaram à morte, andar nua e assumir sua sensualidade, têm que ser ensinados por nós mesmas aos nossos filhos e, especialmente, às nossas filhas, já que seus feitos foram e são escondidos do saber comum, qual Lampião maldito. Luz, sua estampa, suas fotografias e suas aventuras deveriam ser matéria de escola. Por que, então, poucos sabem quem foi ela?

Certamente por causa da controvérsia que costumam provocar os assuntos do sexo, do desejo feminino e do livre arbítrio da mulher sobre seu destino, coisas das quais os homens, historicamente, souberam bem se desvencilhar. E também por sua nudez, que revelava sua tranqüila relação com o corpo, sem tabus ou preconceitos.

Como falar das sensações prazerosas advindas da nudez, se sempre foi tão proibido? Luz era uma demonstração viva e assumida de todos os desejos e prazeres possíveis. Os homens amaram-na, as mulheres escandalizaram-se e odiaram-na. Assumir o prazer de tirar a roupa e os prazeres vindos da sexualidade é, até hoje, coisa de gente suspeita. Mas são esses desejos proibidos, desconhecidos e impublicáveis que fizeram de Luz uma mulher inesquecível. Sua nudez era assumida, assim como sua sexualidade, bandeiras para uma vida mais saudável e autêntica. Ela amava os homens, os animais, gostava de estar nua e em evidência, desde  criança.

Ainda na infância, apaixonou-se por cobras. Sem conjeturas psicológicas, que se apressariam em explicitar o caráter fálico da relação, pensemos em crianças e água, crianças e argila, gelatina, maria-mole: a  forte atração por coisas viscosas, coisas que deslizam. Acrescente-se o fato de que Luz não tinha medo das cobras.

Moça, descobriu a sexualidade e não permitiu que a sociedade moralista – mais moralista do que a nossa, tendo em vista a época – lhe pusesse amarras. Deu-se a quem quis, pelos mais variados motivos: prazer, conveniência, aventura, desafio, assim como qualquer mulher que se julgue livre. Mas só se deu a quem quis, visto que tomou o seu corpo para si, não o deixando à mercê do julgamento alheio. Provavelmente foi sua postura em relação ao sexo que turvou todo o restante: seu grande valor não só do ponto de vista sexual, mas também para os naturistas e pessoas de todo o mundo que prezam andar nuas, como plena expressão da liberdade.

Já disse que Luz tinha coragem. Em tempos em que a nudez era escândalo, ousou, utilizando-se dos mais diversos meios, até mesmo do sexo, para conseguir um local em que as pessoas pudessem andar nuas em liberdade, sem serem molestadas pelo moralismo que sempre infestou a sociedade. E, para alguém que apreciava tanto o sexo, para uma mulher com tamanho atrevimento, causa admiração que sua ilha não estivesse ligada a orgias. Isto mostra o respeito de Luz pelo proceder alheio, menos aquele ligado às farsas da sociedade. A Ilha do Sol, como se chamava o local escolhido, era um lugar onde as pessoas podiam ficar nuas, o primeiro lugar do Brasil, pelo que se tem notícia. Enfrentava todos os problemas dos recantos naturistas do mundo na luta pela liberdade humana.

Para Luz del Fuego, andar nua estava ligado à saúde física e espiritual. O respeito entre as pessoas ao conviver na Ilha do Sol era um respeito que ela desejava para o mundo. Não funcionou. Luz foi brutalmente assassinada por combater a exploração indiscriminada da natureza e, sobretudo, por desafiar os moralismos de sua época.

Sempre que lutamos pelo direito de andarmos nus ao sol, ou nos banharmos sem roupas – reservadamente ou em público -, evocamos o sentimento que Luz del Fuego nutria pela liberdade e pelo prazer.

 

 * Integrante da AGAL(Amigos da Praia da Galheta),

 Florianópolis, SC.

mrfreire32@terra.com.br

 

Quem quiser ver outro site relacionado à Luz, uma dica:

http://www.memoriaviva.digi.com.br/luzdelfuego/maisluz.htm

Jornal Olho nu - edição N°65 - fevereiro de 2006 - Ano VI


Olho nu - Copyright© 2000 / 2006
Todos os direitos reservados.