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Educação naturista

 
por Carlos Sena*

Reprodução de cartão postal

Pesquisando na net sobre "Indumentária Indígena" e "Nudez Indígena" encontrei no site da Sociedade Brasileira do Ensino de História algumas sugestões de atividades para sala de aula envolvendo três módulos que estudam a questão indígena (no terceiro é abordada a nudez indigena).

Interessante observar no texto em estudo a conclusão de Montoya ...a nudez, principalmente a das indígenas, não era apenas um problema moral, considerado grave pelos jesuítas. A exposição do corpo era também a fonte de constantes problemas de consciência para os próprios missionários.

Será que fomos obrigados a andar vestidos porque, não nós, mas nossos colonizadores eram imorais? E nos vestindo, nos vestiram também de todas as suas imoralidades?

Segue o módulo três:

3- DESENCONTROS e DOMINAÇÃO: OUTRA SUGESTÃO

Para alunos da 8ª série do Ensino Fundamental e para os alunos do Ensino Médio, valeria avançar para outras questões, como a nudez indígena, contando com o seguinte texto de Arno Alvarez Kern citado acima, comentando afirmações de Montoya:

"NUDEZ"

É neste documento que encontramos a mais antiga observação dos jesuítas em relação à nudez dos indígenas guaranis nesta região do Guairá e a necessidade de cobri-la com vestes de algodão.

Note-se que chamamos "Reduções" aos "povos" ou povoados de índios que, vivendo à sua antiga usança em selvas, serras e vales, junto a arroios escondidos, em três, quatro ou seis casas apenas, separados uns dos outros em questão de léguas duas, três ou mais, "reduziu-os" à diligência dos padres e povoações não pequenas e à vida política (civilizada) e humana, beneficiando algodão com que se vistam, porque em geral viviam na desnudez, nem ainda cobrindo o que a natureza ocultou.

Em outros trechos do diário, destaca a necessidade de terem os indígenas:

"[...] ganhos, para alcançarem o necessário de se vestirem. Isso para que a nudez não lhes seja desculpa em deixarem de entrar nos templos (como às vezes sucede) e de não ouvirem a palavra divina".

Ao introduzirem na região a tecnologia disponível na Europa, os missionários utilizaram-se do arado para ampliar a intensidade de produção de certos produtos, tendo em vista que o número de habitantes reunidos nos povoados missioneiros podia chegar a seis mil guaranis. Um destes produtos foi algodão nativo da América, já produzido de maneira limitada na horticultura indígena, em parte para atender às novas necessidades de controlar a nudez indígena:

"Tem-se aqui a veste e o traje que, ao nascer, concede a natureza ao ser humano, sendo necessário da parte dos padres um cuidado solícito em fazer cobrir o que possa ofender a olhos castos. Por outra, faz-se preciso o desvelo e afã contínuo em arranjar-lhe lã, pano grosseiro e algodão. E, para que com conveniência a este os índios o semeiem, ensinaram-nos os próprios padres, por suas mesmas pessoas, a abrirem com o arado a terra: coisa nova para eles, mas bem sucedida".

Nas concepções da religião cristã, tanto o corpo como a mente têm interpretações distintas a atributos diferenciados, em termos qualitativos. "A mente é canonicamente superior à matéria" e deve, portanto, ser, juntamente com a consciência, "guardiões e governantes do corpo". Essa idéia de subordinação do corpo à mente, "degrada o corpo; seus apetites e desejos são encarados como cegos, obstinados, anárquicos ou (no Cristianismo) radicalmente pecaminoso pode ser encarado como a prisão da alma" (Porter, Roy. "História do Corpo" in Burke, Peter (org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas (São Paulo: Unesp). 1992. p. 303 e 310).

Percebe-se como essas noções podem levar a um policiamento da nudez corporal dos Guarani, por meio da vestimenta. No texto de Montoya fica claro como o controle do corpo por intermédio do vestuário está associado à vida civilizada, tanto nos povoados como nas cidades. Entretanto, como sabemos que no espaço social o corpo existe em relação a outros corpos, podemos imaginar que a nudez, principalmente a das indígenas, não era apenas um problema moral, considerado grave pelos jesuítas. A exposição do corpo era também a fonte de constantes problemas de consciência para os próprios missionários.

No espaço social das aldeias guaranis, os corpos dos indivíduos não eram estruturas constituídas apenas de elementos biológicos, mas igualmente sociais e culturais, relacionando-se entre si. Assim, as formas naturais dos corpos dos indígenas associavam-se às pinturas corporais e aos demais objetos utilizados para a sua decoração, sobretudo os cocares e os colares. Estas estruturas complexas que eram os corpos tornavam-se, portanto, fontes de formas e de símbolos para outros corpos, igualmente estruturas complexas. As visões que o missionário tinha do corpo indígena, ao mesmo tempo nu e decorado com cores vivas, projetavam simbolicamente o imaginário e o inconsciente dos missionários europeus: "Se de um lado o corpo é objeto de desejo e prazer, de outro ele é reprimido pelos valores morais dominantes e pelas funções sociais que este deve exercer" (Kern, M.L.; Zielinski, M. e Cattani, I. B. Espaços do Corpo. Editora da UFRGS, 1995 29 e 30).

Uma possibilidade de atuação: o texto acima poderia servir para discutir a questão do corpo, da nudez, do pecado, do controle, etc. nas relações jesuítas e índios durante a colonização, reforçando as questões do desencontro/dominação que pautaram as relações coloniais. Ao professor caberia, para a 8ª série e Ensino Médio, fazer uso de parte do texto de Arno Alvarez Kern, acrescentando encaminhamentos e pontos de chegada.

Fonte: http://www.sobenh.org.br/sala_aula.htm

*profsena@gmail.com

A revista História Viva, da editora DUETTO, na sua edição de janeiro de 2006, nº 27, publicou uma matéria de 22 páginas sobre a NUDEZ. O título é "Dossiê Nudez - Como ao longo dos séculos as sociedades permitiram (e proibiram)". Focaliza:

A Antiguidade, destacando que na Roma Antiga os banhos públicos eram mistos, mas essa prática foi combatida ao longo do tempo.

A Idade Média. Durante o período era comum as pessoas dormirem juntas e nuas para se aquecer.

Renascimento. Pinturas religiosas da época enfatizaram corpos nus, sob protestos da Igreja Católica.

Brasil, Ontem. Mary del Priore fala da surpresa dos portugueses ao ver as índias despidas.

Brasil, Hoje. Richard Miskolci aborda o debate sobre a imagem da mulher brasileira fora do Brasil.

O pedido da edição pode ser feito diretamente ao seu jornaleiro, ou pelo telefone (11) 3039-5601 ou pelo e-mail edicoesavulsas@duettoeditorial.com.br. O site é www.historiaviva.com.br

Jornal Olho nu - edição N°65 - fevereiro de 2006 - Ano VI


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