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A NUDEZ FASHION

Por Jorge Bandeira*

Ela entrou toda contente na loja. Aliás, antes de adentrar naquela Meca do consumismo subiu e escada rolante daquele festejado shopping center, a jovem estava um tanto apressada, não conseguia disfarçar o seu contentamento, pois sonhava com aquela cena há muito tempo, nem muito tempo assim, era jovem afinal, não completava três décadas de existência, nem uma balzaquiana chegava a ser. Agora, pensava eufórica, a condição necessária para o seu sonho estava plenamente consolidada.

Observou com olhos galanteadores, viu com aqueles que a terra há de comer aos vários modelos, roupas que até então só via pela televisão, no noticiário dos grandes desfiles, grifes e etiquetas famosas, alguns estilos mirabolantes, suas cores e geometrias perpassavam vibrantes por suas retinas e pupilas esfuziantes.

Sentiu a textura da saia último lançamento da temporada, os jeans esfarrapados vendidos como novos (por onde andará o fantasma de Denner?). Pensou na cena tão esperada, cercada pelas mais vistosas roupas que estavam agora a meio metro de seu alcance. Parecia, esta sensação de júbilo, com a contagem regressiva de um ônibus espacial. 10, 9, 8, 7,...

Ela, porém, não titubeou, sabia do sucesso e polêmica de sua escolha, e numa fração de segundos, momentos decisivos, puxou com suas mãos ágeis as duas peças têxteis, ato despretensioso, e solicitou à vendedora, jovem como ela, permissão para entrar na caixinha que teimam em chamar de cabine de teste. A contagem prossegue: 6, 5, 4, 3,...

Em breve as atenções estariam todas voltadas para sua feliz escolha, com aquelas roupas colocadas daquele jeito, ela roubaria as atenções dos mais desavisados. A vendedora, solícita, prestes a aumentar sua comissão, claro, confidenciou que ela tinha feito uma ótima escolha, de muito bom gosto e tom, e lhe concedeu a entrada no provador.

Ela, impassível, um pouco nervosa, estava defronte ao espelho, seu único confidente e amigo, olhou seu rosto refletido e fez a fulminante pergunta: “eu posso, mesmo?” Pensou e pensou de novo, “é agora ou nunca!” Olhou para aquelas peças de roupas que havia pegado de forma automática, colocou-as de lado, no cabide, e começou a tirar toda a sua roupa, ficando completamente nua, com um sorriso de gato de Alice que lhe preenchia o corpo todo, estava nua e feliz.

Observava seu corpo nu refletido naquele espelho, e agradecia por aquele momento mágico, inesquecível para ela. Aquele ritual seria realmente divino, indelével para sua memória. A contagem regressiva para seu heróico ato estava chegando ao fim, 2,1...

SAIR DA CABINE!!!! Saiu, NUA, como sempre quis, andando nua no shopping, andando nua nas ruas. Nua, e nenhuma alma moralista que tivesse o poder pífio de lhe impedir neste valoroso gesto. Nua, e nada nem ninguém para lhe prender, amedrontar. Estava em Barcelona, e a moda por lá, agora dizem, é a nudez! E por isso, depois deste tempo todo, nossa jovem assim o fez!
 

Jorge Bandeira

jotabandeira@yahoo.com.br

http://geocities.yahoo.com.br/graunaam

Manaus, Amazonas, Brasil.

08 de novembro de 2005.

Jornal Olho nu - edição N°63 - dezembro de 2005 - Ano VI


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