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A maior aula de naturismo da minha vida

 

por André Herdy*

 

Amigos Naturistas,

 

foto: André Herdy

Família braso-portuguesa vive naturalmente nas imediações de Tambaba

Estive no 5º Encontro Nacional de Naturismo da FBrN nos dias 12, 13 e 14 de Outubro de 2005, e como todos os demais encontristas, aproveitei o Sábado e Domingo para curtir mais um pouco da região de Tambaba.

 

A maioria dos representantes do naturismo brasileiro resolveu participar do 1º Saveiro Naturista do Nordeste Brasileiro, seguindo a idéia dos outros saveiros já realizados no Brasil e no mundo.

 

Vale ressaltar que a impressionante aceitação do naturismo por toda população do litoral Paraibano é magnífica. Parece que realmente Tambaba conseguiu chegar ao cume da aceitação, nível só imaginado nos países do norte da Europa.

 

A cidade do Conde vive Tambaba 24h por dia. Porém não é só! O litoral sul da Paraíba, até sua capital João Pessoa, respeitam o nosso estilo de vida de forma emocionante!

 

Vi muitos naturistas com anos de experiência se emocionarem ao ponto de chorar de alegria, por finalmente o Brasil acordar e ver que nosso estilo de vida é o mais natural e mesmo não vivenciando-o respeitam-no de forma exemplar! (Sendo o mais "estranho" acabar por vir exatamente da região dita menos culta e menos desenvolvida de nosso país).

 

Porém esta mensagem surgiu de uma experiência que fez com que tudo que eu já havia ouvido falar sobre naturismo, tudo que eu já havia lido sobre naturismo e tudo que eu já havia experimentado do naturismo fosse colocado por terra.

 

Muito se teoriza sobre o naturismo, muito se discute se é ou não filosofia, se é ou não natural, e se realmente pode-se ou não viver 100% de nossas vidas de forma natural.

 

Gostaria de ter participado do saveiro, cheguei até a me dirigir ao responsável pelo mesmo para me inscrever, porém algo me impedia de fazê-lo. Não sei bem como explicar, mas sentia que deveria estar em Tambaba naquele lindo sábado de sol.

 

Quando o grupo saiu com o ônibus para o porto, fiquei com pena de não ir, mas ainda não sabia o que me esperaria em Tambaba.

 

Após uma reunião com o representante da INF, da Sonata e o Prefeito da Cidade, onde estive representando a FBrN, me dirigi à Tambaba para mais um belíssimo dia de praia.

 

Estava andando pela praia com o nosso amigo e associado da YNAI-Brasil, Deberth, quando me deparei com 2 crianças brincando e uma família bem próximo com outros 2 bebês.

 

Me aproximei como que por instinto do senhor que deveria ser o pai da família para conversar...

 

Conheci então o verdadeiro "ESPÍRITO DO NATURISMO", ou como outros gostam de falar conheci a "ESSÊNCIA DO NATURISMO".

 

foto: André Herdy

Liberdade natural em Tambaba

Este Senhor se chama Vicente, é nascido em Portugal, sua esposa Virginia (belga) e seus 3 filhos naturais Vital, Vigor da Paz e Vimar (todos nascidos no Brasil) além do outro menino que se chama Paulo e que está sendo criado com eles.

 

A vida desta família me tocou de forma que não posso deixar de relatar em primeira mão esta experiência, mas tenho medo de não passar toda emoção que senti na hora...

 

O Sr Vicente me contou que ele e a esposa se conheceram na europa e sempre desejaram um estilo de vida em total contato com a natureza, onde agrotóxicos, poluição, lixo, e tudo mais que a sociedade produz de pior estivesse longe deles. São uma família bem simples, mas extremamente natural!

 

Eles rodaram o mundo, pagando apenas as passagens de avião para aonde não pudessem ir a pé ou de carona, viveram com a tribo do cacique Thuavi das ilhas Samoas (autor do livro Papalagui - que conta a visão indígena sobre a sociedade européia), sempre fazendo artezanato e plantando comida para se sustentarem, quando finalmente conheceram o litoral da Paraíba, onde muito tempo antes de Tambaba existir, compraram uma faixa de terras de 65ha bem ao lado do que hoje é Tambaba.

 

Vivem exclusivamente do plantio de frutas e legumes orgânicos e confecção de artezanato, porém produzem e vendem apenas o necessário para manterem suas vidas, sem nenhuma preocupação com dinheiro ou riquezas.

 

Falaram muito sobre como infelizmente os "naturistas" não se aproximam mais do estilo de vida que "pregam", pois na verdade a nudez é apenas o início do que se chama naturismo (ou Integração Total com a Natureza - volta do Homem a seu estado Natural - Como ele gostava de explicar durante toda conversa).

 

Não havia nenhuma malicia nos olhos do casal e de seus filhos, não havia ganância ou qualquer máscara, eram essencialmente seres humanos puros e íntegros!

 

Falaram que gostam de frequentar Tambaba, mas que se incomodavam com o excesso de bebidas alcoólicas, lixo que alguns deixavam e "energias negativas" que sentiam em vários que ali apareciam. Falaram que a vida humana deveria ser vivida com o respeito à Natureza e ao Próximo como ponto fundamental, e que não fazia o menor sentido a pessoa apenas estar nua sem pensar nestes pontos.
 

Quando questionei sobre a Organização Naturista (INF, FBrN, Sonata...) eles falaram que na verdade tudo isto seria desnecessário se cada um fizesse sua parte e mostrasse a seus parentes, amigos, vizinhos, e a todos que cruzassem seus caminhos como se deve viver. Ele afirma que apenas com esta "Corrente do Bem" conseguiríamos muito mais do que com uma mega-hiper-extrutura.

 

Enquanto conversávamos a esposa cuidava do bebê, o segundo filho dormia no ombro deste senhor e os 2 mais velhos brincavam alegremente ao redor.

 

Parecia que eu estava em outro mundo! Um mundo de hamonia, paz, tranquilidade, onde não existia nada além de seres humanos em sua essência! Muitas pessoas entravam e saíam de Tambaba, passando por nós e não vendo ou ouvindo nada daquilo que estávamos vendo e vivendo! Gostaria de chamar a todos e falar: "Gente! Escutem! Isto é maravilhoso!"

 

Conversamos por mais de uma hora, em certo momento os 2 filhos mais velhos vieram pedir comida, que prontamente foi oferecido mamão, banana, e água doce, que satisfez a ambos de uma forma que só via em outras crianças ao comerem chocolate e sorvete.

 

Durante esta conversa, eles ressaltaram que esta área deles já sediou vários encontros de comunidades alternativas, porém eles relutam em se integrar as mesmas pois em sua maioria estas comunidades estão sempre mais voltadas a busca pelo "exoterismo" como religião, do que pela liberdade de cada indivíduo como essência. Reafirmaram não serem contra nenhuma forma de religiosidade, porém acreditam que cada um deveria buscar sua evolução (ou prajna (sabedoria)) da forma mais natural que encontrasse.
 

foto: André Herdy

Também receiam abrir suas terras para os ditos "naturistas" viverem ali, pois vêem diariamente pessoas se embebedando e tendo que ser expulsas desta ou daquela área, bem como casais que distorcem a naturalidade da vida nua e acabam fugindo da natureza humana (bem como de diversos outros animais - citado especificamente os macacos e os golfinhos) da monogamia.

 

Crêem que a sexualização da sociedade ainda influencia muitos que tentam buscar o naturismo, porém acreditam que estes ao menos já possuem uma visão do que deveria ser o "SER HUMANO NATURAL".

 

Em certo momento os 2 garotos me questionaram o porque de 2 outras crianças, que ali estavam, estarem vestidas com seus trajes de banho. Fiquei desconcertado, pois via nestes garotos o questionamento dos primeiros brasileiros, os índios, ao verem os portugueses aportando no Brasil com suas vestes incômodas que não condiziam em nada com o clima quente da região. Minha resposta foi a única possível... Respondi com uma contra-pergunta: "Voces acham que estão mais à vontade, mais livres do que estas outras crianças, ou prefeririam estar vestidas como elas?" A resposta deles foi imediata: "Jamais! Impossível! As roupas incomodam e não gostamos de usá-las a não ser no frio." Então falei com eles que infelizmente algumas crianças ainda não tinham esta percepção, mas que eles deveriam continuar assim pois eles é que estavam certos.

 

Em outro momento da conversa, o bebê também dormiu, e neste momento a mãe cuidadosa estendeu um paninho na areia colocou o bebê que estava em seu colo, pegou o segundo que estava com o pai (já dormindo), deitando-o ao lado do bebê e cobrindo a cabeçinha dos 2 com outra fraldinha para que o sol não incomodasse a ambos, sentou-se ao lado deles e ficou fazendo carinho nos 2 que dormiam feito anjinhos.
 

O pai me fez prometer que esta história que estou contando aqui, não seria jamais veiculada de forma comercial! Portanto solicito que ninguém aqui publique nada deste relato cobrando algo, mas se possível repassem a todos tal vida que ali em Tambaba eu pude encontrar.

 

A simplicidade da família, não se enganem, não era por falta de opção, ambos são muito cultos e viajados, os filhos estudam na melhor escola da região, possuem internet e antena parabólica em sua casa, mas não valorizam em nada estas coisas por opção de vida!

 

Outro ponto que eles destacaram é que toda sociedade da região conhecem e respeita o estilo de vida deles, e que muitos ouvem por diversas horas sobre suas vidas, porém mesmo achando lindo, não aderem ao mesmo.

 

Resumindo, eu afirmo, que não consegui transmitir toda emoção sentida naquele encontro, mas ao menos posso falar que a vida daquelas pessoas mudou de vez o meu ser!
 

Espero que este relato sirva como lição de vida para aqueles que questionam se existe "filosofia naturista", se "existe alguém que consiga ser verdadeiramente 100% naturista", se "é possível ter cultura, estar conectado ao mundo e ao mesmo tempo não valorizar isto mais do que a beleza de uma flor se abrindo ao nascer do dia".
 

Mais do que todas as palestras, todos os relatos, todas as decisões tomadas em Tambaba, posso afirmar que aqui encontrei a paz! Fui a Tambaba para um Encontro, sabia que ouviria palestras que me acrescentariam muitas experiências, mas jamais imaginaria que de todas a maior seria dada de forma tão inusitada!
 

Meus cumprimentos ao casal Vicente e Virginia, pela sua integridade e veracidade de caráter. E a todos os que lerem este relato... saibam bem... isto é NATURISMO!
 

Abraços a Todos - do aprendiz de naturista -

 

*Presidente da Ynai-Brasil e

membro do Conselho maior da Federação Brasileira de Naturismo

herdy@netway.psi.br
 

Jornal Olho nu - edição N°62 - novembro de 2005 - Ano VI


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