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Passeio Eco-naturista acaba na delegacia de polícia

por Pedro Ribeiro*

foto: Pedro Ribeiro

Antes do embarque e de saber dos detalhes do passeio, a alegria da expectativa era grande

Incompetência e desorganização por parte dos responsáveis. Frustração e constrangimento por parte dos naturistas. Esse foi o resultado do prometido primeiro passeio que afirmava conciliar caminhada ecológica e naturismo no parque de Vila Itatinga, no município paulista praiano de Bertioga.

Foram quatro meses de expectativa com divulgação através dos principais meios de comunicação naturistas brasileiros e até o último momento os responsáveis afirmavam que estava tudo organizado.

Mas não foi isso que aconteceu. A começar pelo número de pessoas que poderiam participar do evento, inicialmente 40 foi reduzido para 30. O horário de embarque previsto incialmente para às 9:15, foi divido em dois, um grupo embarcando às 8:15 e o outro às 10:30. Mas  houve muito mais do que simplesmente questão de horário.

Como tudo começou

A empresa Suinã Turismo, com sede em Bertioga, foi contactada, em maio deste ano, por representante de associações naturistas, na pessoa do sr. Eduardo Vituri, que via no parque ecológico em questão um excelente local para se desenvolver uma caminhada e banhos naturistas. Dessa forma foi divulgada em toda mídia especializada.

foto: Pedro Ribeiro

Dentro do parque ambiental está localizada uma vila de moradores funcionários da empresa.

Caberia à empresa e ao Eduardo organizarem e resolverem todas as pendências que poderiam haver para desenvolver um evento desta natureza, com 40 pessoas (inicialmente) todas nuas caminhando por trilhas de um parque público.

A empresa de turismo Suinã é experiente em levar grupos de pessoas ao parque, porém seria a primeira experiência com naturistas. Era de se esperar que a primeira providência seria obter autorização da administração do parque. Mas essa autorização não foi dada e mesmo assim os organizadores continuaram a insistir na publicidade do evento.

Já no dia 4 de setembro, domingo, data do passeio, momentos antes do embarque do segundo grupo, a monitora que iria acompanhá-lo indagada sobre o passeio naturista revelou que ele não poderia acontecer porque a empresa CODESP, administradora do parque, não autorizou o nudismo em sua jurisdição. Isso minutos antes da partida.

foto: Pedro Ribeiro

No início o naturismo estava ocorrendo naturalmente

O primeiro problema é que o grupo anterior, com orientação de um outro monitor, já havia se deslocado para o local combinado duas horas antes e, pelo celular, foi feita comunicação. Eles estavam no poço previsto e todos nus.

Com a revelação da nudez, a monitora entrou em contato com os guardas do parque, questionando sobre autorização, a qual eles desconheciam.

A monitora disse que não acompanharia o grupo até o poço, mas que o monitor viria buscar o grupo na estação do bonde dentro do parque. Mas quando chegaram no lugar combinado veio a surpresa, a guarda do parque havia se dirigido ao ponto onde estavam os naturistas do primeiro grupo, exigiu que eles colocassem as roupas e ainda por cima, exigiu que se retirassem do parque.

foto: Pedro Ribeiro

O momento da expulsão: indignação

Foi assim que começou uma onda de indignação e protestos por parte dos naturistas, que se sentiram constrangidos com a ordem de se retirarem do parque e enganados pela organização do passeio. Foi pedida presença da polícia, mas como a área está sob a proteção da Companhia Docas do estado de São Paulo (Codesp), a polícia portuária é que foi chamada.

A essa altura já era mais de meio dia e meia, muitos preferiam ir logo embora, mas foram avisados que não haveria transporte do bonde para nós e que teríamos que caminhar sete quilômetros e meio. E, mesmo se assim fizéssemos, não seria autorizado o transporte de barco de uma margem à outra do rio, que separa o parque do continente.

Para entender porque não se pode sair facilmente do parque

fotos: Pedro Ribeiro

Para entrar ou sair do parque é necessário atravessar um canal de mangue, de barco a serviço da Codesp, que somente circula em horários fixos ou em emergência. A distância de um píer ao outro é de cerca de 500 metros.

No píer já dentro do parque é necessário pegar um bonde puxado por um trator e percorrer mais de sete quilômetros até a Vila de Itatinga, região de casas de funcionários da empresa e de seus familiares. Esse transporte também é de responsabilidade da Codesp.

Por volta das três da tarde boa parte do grupo já estava andando na direção do pequeno porto, seguindo pelos trilhos, quando finalmente chegaram os soldados da polícia portuária trazida por um bonde. Todos usando cassetetes e de caras de poucos amigos.

Mas a abordagem, embora desconfiada, não foi agressiva, desconsiderando o fato da exibição ostensiva dos porretes. Pediram os documentos de identificação de todos os presentes e anotaram em folhas de papel os números, depois exigiram ver as imagens fortográficas e de vídeo que foram feitas no lugar e avisaram que se houvesse alguma imagem de pessoa nua dentro do parque nós teríamos que entregar o filme (?). Nada encontrado seguiram-se as explicações e eles próprios recomendaram fazer um Boletim de Ocorrência sobre o episódio na delegacia da cidade.

Já eram quatro da tarde quando finalmente conseguimos fazer a travessia completa até onde os carros estavam estacionados. Todos os naturistas, sem exceção, se dirigiram à Delegacia.

Na Delegacia já estava o filho do dono da operadora turística e um grande bate boca sobre responsabilidades. O delegado de plantão não estava presente e somente chegou uma hora depois.

O delegado convidou todos os presentes para subir para sua sala: naturistas e funcionários da operadora. E pediu depoimentos dos principais responsáveis dos dois grupos.

O que se viu e ouviu foram fatos inexplicáveis de desorganização e tentativa de transferência de responsabilidades do grupo organizador naturista para a empresa operadora e vice-versa. Mas correu de forma bastante civilizada essa acareação.

Ao fim de mais de três horas de depoimentos a empresa Suinã resolveu reembolsar os valores pagos a todos os naturistas, no ato. Mas, já eram nove horas da noite de um domingo, passado metade de maneira constrangedora e a outra metade dentro de uma delegacia de polícia. Programa totalmente furado. O Naturismo não merece isso. Nem os naturistas.

*Presidente da Associação naturista de Abricó

natpedro@anabrico.com

Leia os depoimentos de dois organizadores do evento clicando aqui

Jornal Olho nu - edição N°60 - setembro de 2005 - Ano VI


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