Edição n°11
Agosto de 2001
NaturISTÓRIA
Por Pedro Ribeiro*
        7° CADERNO

A História da Liberação da Praia de Abricó - 4ª parte

     O primeiro contato com a Secretaria Municipal de meio –Ambiente foi no final do governo Marcello Alencar. Procurei-a por sugestão do vereador Alfredo Sirkis, que havia dito que matéria dessa natureza seria de alçada desta secretaria. Abri um processo sem muitas esperanças e descobri que também a RIO-Nat, na pessoa de Sérgio de Oliveira, da mesma forma incentivado pelas cartas e matérias publicadas no jornal O GLOBO , havia aberto um processo com o mesmo objetivo, dias antes.

     Quando mudou o governo da prefeitura em março de 1992, qual não foi minha surpresa quando foi nomeado justamente para o cargo de Secretário de Meio-ambiente, Alfredo Sirkis. A partir de então a Secretaria virou ambiente de presença obrigatória para mim, vária vezes por mês. Fiquei acompanhando todo desenrolar e as muitas idas e vindas e até o desaparecimento do processo durante algum tempo, encontrado depois no departamento de parques e jardins, na praça da República.

     A minha insistência era grande. Acompanhei todos os trâmites, até mesmo quando a procuradoria geral do município determinou que não havia nada a opor, nem juridicamente, nem constitucionalmente, à implementação de uma área naturista em Abricó. Tudo corria favoravelmente, mas eu estava ansioso por causa da demora em definir a lei. Já estávamos em 1994 e eu não conseguia ver mais nenhum empecilho que pudesse transformar em realidade nosso sonho de praia naturista no Rio de Janeiro. Minha insistência já estava à beira da inconveniência, até que no dia 29 de novembro de 1994, Sirkis elaborou o texto da Resolução que seria publicada com a data do dia seguinte, no diário oficial do município.

     Assim sendo, a partir do dia 1 de dezembro de 1994, começava a funcionar oficialmente a primeira praia naturista da cidade do Rio de Janeiro, com a Resolução nº 64, que permitia a freqüência de não naturistas. A notícia espalhou-se rapidamente pelos meios de comunicação, sendo tema de debates em rádio e jornais no Brasil inteiro. No mesmo 1º de dezembro, um obscuro advogado entrou com uma ação popular contra o naturismo na praia de Abricó. Era uma quinta-feira.

     O primeiro final de semana naturista em Abricó teria transcorrido inteiramente tranqüilo não fosse um incidente ocorrido nos primeiros instantes de sábado. Era dezembro de sol quente e a praia de Abricó estava cheia de pessoas desavisadas sobre o naturismo. Quando os primeiros naturistas começaram a chegar e a tirar as roupas houve gente que se sentiu no direito de agredir os naturistas de maneira verbal. No dia anterior, eu, Antônio, João e Eliana, havíamos elaborado cartazes para serem afixados nas pedras de entrada da praia, justamente para alertar as pessoas sobre a “nova” condição da praia. Pegamos os cartazes e já caracterizados como naturistas nos dirigimos à entrada. No caminho uma senhora histérica gritava palavrões e xingamentos para nós, como se estivesse totalmente louca. Quando passamos em frente a um grupo de homens que estavam fazendo churrasco na areia, fomos interpelados por eles que usavam os espetos para nos amedrontar, só que o mais velho, um senhor de cerca de 60 anos, me espetou. Formou-se uma confusão generalizada, com grupos nos dando apoio e grupos contra nós, até que chegou a polícia. O que me deixou mais chocado foi o fato da pessoa que me agrediu com o espeto de churrasco ser policial aposentado, que agiu de forma totalmente não condizente com sua formação. A polícia esclareceu tudo e acalmou os ânimos. Colocamos os cartazes finalmente nas pedras e o fim de semana começou a correr tranqüilo, claro que com o assédio da imprensa por causa da novidade que isto representava.


O jornal O DIA estava presente o dia inteiro, todos os dias, querendo fazer entrevistas com todo mundo. Publicou regras de comportamentos e inúmeras fotografias, sendo uma das mais famosas esta com o naturista e seu celular.

Parecia que finalmente os naturistas haviam encontrado seu paraíso, ainda meio conturbado, é verdade, mas um paraíso.



(foto de Marcos Alves, publicado em
O DIA de 5 de dezembro de 1994)
Tapa na orelha
Por Jorge Barreto*

UMA RESPOSTA INTELIGENTE

   Texto (verídico )

Resposta dada numa palestra nos Estados Unidos por Cristovam Buarque.



Durante debate recente em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristóvam Buarque, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.
O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e NÃO de um  Brasileiro.....
Segundo Cristóvam,  foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta,  e respondeu: "De fato, somente como BRASILEIRO,  eu simplesmente falaria CONTRA  a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.....
Como HUMANISTA, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, sim, como também de TUDO o mais que tem importância para a Humanidade; Se a Amazônia,  sob uma ótica humanista,  deve ser internacionalizada, internacionalizemos  também  as reservas de petróleo do mundo inteiro.
O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço...
Da mesma forma,  o capital financeiro dos países  ricos deveria  ser internacionalizado.  Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.  Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.  Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar  países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo: O Louvre não deveria pertencer apenas à França...  Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.  Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.  Exemplo? Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso acontecer, aquele quadro deveria ter sido "internacionalizado"...
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o "Fórum do Milênio", mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York,  como sede das Nações Unidas,  deveria  também ser internacionalizada: Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade, assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife... Cada cidade, com sua beleza específica,  sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia,  pelo "risco de deixá-la nas mãos de brasileiros", internacionalizemos então todos os arsenais Nucleares dos EUA (e de outras grandes potências). Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA tem defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola...
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como  patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro...  Ainda mais do que merece a Amazônia....
Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como HUMANISTA, aceito defender a internacionalização do Mundo...
Mas, enquanto o mundo me tratar como "Brasileiro",  lutarei para que a Amazônia seja nossa.  Só nossa."